Uma
equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver uma
ferramenta inovadora de teranóstica – técnica que junta diagnóstico e
terapêutica – dirigida às micrometástases pulmonares no osteossarcoma, um tumor
ósseo muito agressivo que afeta particularmente crianças e adolescentes.
O
osteossarcoma é um tipo de cancro que apresenta grande propensão para a
metastização pulmonar, acreditando-se que a maioria dos doentes já tem
micrometástases na altura do diagnóstico clínico, que depois progridem para
metástases pulmonares, sendo esta a sua principal causa de morte, pelo facto de
as terapias convencionais apresentarem uma eficácia limitada.
Por
isso, «é urgente um diagnóstico mais precoce e novas estratégias terapêuticas
capazes de eliminar estas pequenas lesões e travar a sua progressão», afirma
Célia Gomes, do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra
(iCBR), da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), que lidera
o estudo, em parceria com Antero Abrunhosa, do Instituto de Ciências Nucleares
Aplicadas à Saúde (ICNAS).
O
projeto, distinguindo recentemente pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC)
e Lions Portugal, conta agora com 250 mil euros de financiamento da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e foca-se numa abordagem que tira partido
do conhecimento atual sobre o papel dos exossomas na formação de metástases e
dos avanços nas tecnologias de imagem e de terapêutica baseadas em
radionuclídeos (utilizadas na medicina nuclear) que se têm revelado bastante
eficazes no tratamento de doenças oncológicas.
Facilmente
isolados a partir de amostras biológicas (ex. sangue ou urina) e manipulados em
termos do seu conteúdo e composição membranar, os exossomas podem ser administrados
num organismo como veículos de entrega de moléculas (ex. agentes terapêuticos)
para órgãos-alvo. Esta funcionalidade confere-lhes um elevado potencial
diagnóstico e terapêutico.
Nesse
sentido, a equipa pretende usar «exossomas derivados de células metastáticas, e
“marcá-los” com um metal radioativo emissor de positrões (cobre-64, 64Cu) para
diagnóstico de micrometástases por tomografia por emissão de positrões (PET)
num modelo animal em ratinho. Para tal, vai ser usado um tomógrafo PET de alta
sensibilidade desenvolvido no ICNAS».
Para
este estudo, os cientistas desenvolveram um modelo animal que reproduz as
diferentes fases da evolução da doença metastática, desde a preparação do nicho
pré-metastático no pulmão até à formação das micrometástases. As experiências
já realizadas, revela Célia Gomes, permitiram demonstrar que «os exossomas
libertados pelas células do tumor primário (osteossarcoma) induzem alterações
no tecido pulmonar que favorecem o desenvolvimento das micrometástases.
Comprovámos ainda a afinidade dos exossomas pelas lesões metastáticas, e a
capacidade de entrega do seu conteúdo, o que substancia o grande propósito do
nosso projeto: utilização dos exossomas como eficientes veículos de entrega de
radionuclídeos com especificidade para células-alvo».
O
financiamento atribuído pela FCT vai permitir explorar a potencialidade dos
exossomas como agentes de terapêutica «através da sua funcionalização com
radionuclídeos emissores beta- já aprovados para uso clínico, como por exemplo
o Lutécio-177, que tem uma penetração máxima nos tecidos de aproximadamente
2mm, adequado para o tratamento de micrometástases, podendo representar uma
nova opção terapêutica e com grande probabilidade de uma resposta eficaz»,
explicita a investigadora do iCBR/FMUC.
«Iremos
também avaliar em contexto clínico se os exossomas podem ser utilizados, de
forma não invasiva, como biomarcadores de risco ou de progressão da doença
metastática», acrescenta.
Ao
longo dos três anos de duração do projeto, realizado em colaboração com a
Unidade de Tumores do Aparelho Locomotor do Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra (CHUC), vão ser isolados exossomas de amostras de sangue de doentes
com osteossarcoma, tendo em vista uma «caraterização em larga escala do seu
conteúdo molecular e identificação de uma assinatura molecular preditiva do
risco de doença metastática, cada vez mais importante para o prognóstico e para
uma decisão terapêutica mais adequada», afirma a investigadora.
A
abordagem proposta neste projeto, finaliza Célia Gomes, «representa um avanço
nas aplicações biomédicas dos exossomas e pode servir de base para a exploração
dos exossomas como plataformas de teranóstica para o osteossarcoma e outras
neoplasias metastáticas, abrindo caminho à medicina de precisão». Universidade
de Coimbra - Portugal
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