Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Alemanha - Ararinha-azul, como uma das aves mais raras do mundo luta pela sobrevivência

 


O pequeno município alemão de Rüdersdorf, com pouco mais de 15 mil habitantes e localizado a 26 quilómetros de Berlim, esconde um enorme tesouro. Nele estão 152 das cerca de 180 ararinhas-azuis que existem no mundo. Nativa do Brasil, a espécie desapareceu da natureza há quase 18 anos. Mas, se depender da associação que cuida das aves na cidade alemã, essa situação mudará em breve.

Assim, a ONG Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), nos arredores de Berlim, tem reintroduzido as primeiras ararinhas-azuis em seu habitat natural: a caatinga (vegetação que predomina no Nordeste do Brasil). Para isso, a ONG conta com a parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, da instituição Preservação da Vida Selvagem Al Wabra, do Qatar, do zoo Pairi Daiza, da Bélgica, e de um zoo em Singapura.

Em Março deste ano foram reintroduzidas no Brasil 52 exemplares desta espécie. Com o projeto de reintrodução na Natureza, a Alemanha passa a ter um papel fundamental na história da ararinha-azul. A ave foi descoberta pelo zoólogo alemão Johann Baptist von Spix, no início do século 19, no interior da Bahia, no Brasil.

As Ararinhas-azuis, assim como outras aves da família, são seres sociais e muito inteligentes, sendo consideradas um dos grupos de aves mais inteligentes e que possuem o cérebro mais desenvolvido. In “Green Savers Sapo” - Portugal


Angola - Concluído estudo preliminar da ligação Ferroviária de Benguela à vizinha Zâmbia

 

O estudo preliminar de viabilidade da ligação dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB) à vizinha Zâmbia, num total de 259 quilómetros, já está concluído, anunciou o Ministério dos Transportes angolano (MINTRANS).

O projecto, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), deverá ligar a localidade de Luacano, província do Moxico, até ao posto fronteiriço de Jimbe.

Uma delegação da Zâmbia integrando os ministros da Habitação e Infraestruturas, Vicent Mwale, e dos Transportes e Comunicação, Lole Mututwe, esteve em Angola e teve uma deslocação à cidade do Lobito, província de Benguela, onde se encontram as infraestruturas do Corredor de Desenvolvimento Económico do Lobito.

O Governo angolano decidiu eleger este projecto como prioritário no âmbito das Parcerias Público-Privadas.

Em 2018, os dois países tinham já mantido discussões bilaterais com vista ao desenvolvimento de projetos prioritários “que visassem a melhoria da conectividade das redes de comunicação rodoviária, ferroviária, fluvial e aviação civil” entre Angola e Zâmbia.

“Transcorridos aproximadamente dois anos desde que o acordo foi assinado, afigura-se necessário que as partes analisem o grau de cumprimento das acções desenvolvidas neste âmbito”, refere o MINTRANS.

Os ministros da Zâmbia encontraram-se com os seus homólogos dos Transportes, Ricardo Viegas d’Abreu, e da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares de Almeida. In “O Século de Joanesburgo” – África do Sul

 

Timor-Leste – Ministério da Saúde recebeu equipamentos para divulgação de informação sobre a prevenção da covid-19 oferecidos pelo governo do Japão

 

Díli – O Governo do Japão procedeu hoje à entrega de equipamentos ao Ministério da Saúde (MS) destinados a seis municípios e à Região Administrativa Especial de Oé-Cusse Ambeno (RAEOA). A medida visa levar a cabo ações de divulgação de informação sobre a prevenção da covid-19 e saúde em geral.

“O apoio concedido pelo Governo japonês tem por objetivo responder à pandemia provocada pela covid-19 e está relacionado com o trabalho que fazemos no dia a dia”, disse a Diretora-Geral da Prestação de Serviços de Saúde em Timor-Leste, Odete Viegas, no Centro de Saúde da Formosa.

Odete Viegas lembrou ainda que o Executivo nipónico tinha já disponibilizado vários apoios ao seu homólogo timorense. Fez, por isso, um apelo a todos os dirigentes oriundos dos seis municípios e do enclave que fizessem uso do novo material de forma adequada e responsável.

Dos vários equipamentos atribuídos, constam entre outros, televisores, projetores, impressoras e computadores, no valor de 122 mil dólares americanos.

Já o representante do Embaixador do Japão, Koichi Kaida, disse que o todo o material agora disponibilizado pelo Fundo das Nações Unidas Para a Infância (UNICEF, em inglês) foi financiado pelo Governo nipónico. Nelia Fernandes – Timor-Leste in “Tatoli”

 


Macau - Língua portuguesa faz parte do plano de assistência a Congjiang para erradicação da pobreza


A Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) participa, desde 2018, no Plano de Erradicação da Pobreza do Conselho de Estado, centrando a sua acção na comarca de Congjiang, na província de Guizhou, um dos locais da China onde se tem verificado a existência dos níveis mais elevados de pobreza.

Curiosamente, o ensino da língua portuguesa faz parte da ajuda prestada pela RAEM. Trata-se de um projecto organizado pela Direcção de Serviços de Educação e Juventude e passa pelo envio de professores de Macau que, durante três semanas, terão como objectivo despertar o interesse dos alunos de Congjiang pelo Português.

A intervenção será efectuada em Maio de 2021, em quatro graus de ensino, do primário ao pré-universitário. Depois serão seleccionados os 30 melhores alunos, que receberão um convite para se deslocarem a Macau, para participarem num curso de Verão de língua e cultura portuguesa, com a duração de três semanas.

No princípio, foi assim

Claro que o ensino da língua portuguesa não passa de um pequeno aspecto no âmbito da ajuda que a RAEM tem prestado à comarca de Congjiang. Desde Maio de 2018, 27 acordos de assistência foram já assinados e implementados entre Macau e Congjiang, nas áreas da educação, saúde, turismo, indústria, trabalho, formação de quadros, etc.

E, na verdade, a assistência prestada pela RAEM tem dado os seus frutos. Congjiang tem uma área de 3244 quilómetros quadrados e conta com 385330 habitantes, sendo que 94,8% pertencem às minorias étnicas Miao e Dong. Em finais de 2017, o número de pessoas consideradas pobres ascendia a 72316, ou seja, 21% da população. Ora, em 2019, a incidência de pobreza em Congjiang havia descido já para 3,6% e para isso muito contribuiu a assistência prestada pela RAEM, em coordenação com o Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau (GL).

Só em 2018, na área educacional, a Fundação Macau proporcionou 30 milhões de yuans para a construção de uma escola primária, que viria a ser concluída em 2019 e que se encontra já em funcionamento. Na mesma área, também a Companhia de Construção Estatal da China doou 5 milhões de yuans para a edificação de uma escola primária, isto para além de outras 10 escolas e centros de saúde que contaram com a ajuda da Cruz Vermelha de Macau.

Na área do emprego, foram recrutados 429 trabalhadores para exercerem a sua profissão na RAEM, cada um pertencente a um agregado familiar diferente, no sentido de proporcionar a cada família uma melhoria substancial do seu rendimento. Também o GL financiou a ajuda a 3000 estudantes de famílias carenciadas, por três anos consecutivos, num total de 1,5 milhão de yuans por ano; e a Fundação Macau criou um programa de bolsas de estudo, no valor de 100 mil patacas/ano cada, que permitiu a deslocação e permanência em Macau de estudantes do ensino superior originários de Congjiang.

Na área económica, o Instituto de Promoção e Investimento de Macau (IPIM) convidou diversas empresas de Congjiang para participarem em feiras internacionais, tendo resultado na assinatura de 35 contratos.

Na área do turismo, a China Travel Service e a China International Travel Service, sediadas em Macau, promoveram a deslocação a Congjiang de mais de cinco mil visitantes e foi também promovido o primeiro Festival de Arte de Luz e Sombras Macau-Congjiang, que atraiu mais de 30 mil pessoas.

O ano das infra-estruturas

2019 foi um ano em que a assistência se centrou em infra-estruturas, de modo a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Congjiang. Sob a liderança do GL, foi custeada e implementada a colocação de 560 lâmpadas, no valor de 1,7 milhão de yuans, alimentadas a energia solar, em cinco das mais pobres aldeias da comarca.

Além disso, o GL conseguiu obter da sociedade de Macau 6,64 milhões de yuans para a renovação de casas velhas em más condições, tendo recuperado um total de 715 habitações, em 10 aldeias de minorias étnicas. Também os casinos da RAEM contribuíram com cerca de dois milhões de yuans, aplicados na ajuda a camponeses, nomeadamente na renovação de estruturas como pátios, estradas e iluminação pública.

Por seu lado, a Fundação Macau proporcionou consultas médicas e operações a 193 pessoas com cataratas e forneceu 450 aparelhos de audição a gente necessitada, além de doar sete ambulâncias. Já a DSEJ criou um programa de treino para mais de 300 professores do ensino pré-primário, o que implicou a deslocação a Congjiang de especialista e, posteriormente, convidou 40 professores a deslocarem-se a Macau para a frequência de cursos especializados.

Também o Instituto Cultural da RAEM não quis ficar de fora destas iniciativas e convidou Congjiang para participar na Parada Internacional de Macau e no Festival de Artes de Macau o que, juntamente com a realização de um vídeo promocional em cantonês, feita pelos Serviços de Turismo, proporcionou um melhor conhecimento de Congjiang por parte da população de Macau.

Apesar da pandemia

Já neste ano, a ajuda a Congjiang foi reforçada pela realização de uma vídeo-conferência que juntou elementos do Gabinete de Ligação, do governo de Macau e do governo da província de Guizhou, no fim da qual foram assinados mais nove acordos de assistência.

Assim, foi acordada uma recolha de fundos na RAEM para o estabelecimento de 320 postos de assistência social para famílias necessitadas e sem rendimento estável. O projecto, lançado em Junho deste ano, já recolheu, entre Junho e Setembro a soma de 512 mil yuans.

Por outro lado, Macau comprou produtos agrícolas a Congjiang, como cogumelos secos, piri-piri e óleos, no valor de 2,5 milhões de yuans, beneficiando 2830 unidades familiares. O grupo Galaxy doou 1 milhão de yuans para a implementação de estações de tratamento sanitário em 21 aldeias, o que foi já realizado.

Mais escolas têm igualmente sido construídas com fundos de Macau, bem como mais ajuda na área da saúde tem sido implementada, nomeadamente com a doação de 200 aparelhos auditivos e 100 cadeiras-de-rodas eléctricas. Além disso, só em Agosto, foram instalados, em casas familiares, mais de 1000 esquentadores eléctricos.

Recentemente, o IPIM convidou oito empresas de Congjiang a participarem na Feira Internacional de Macau, onde assinaram vários acordos de exportação dos seus produtos.

No total, desde 2018, a RAEM já disponibilizou, em dinheiro e materiais, cerca de 120 milhões de yuans, como forma de contribuir para a erradicação da pobreza em Congjiang, além de contribuir com assistência cultural e intelectual para a elevação das condições de vida na comarca.

Guizhou, a província mais pobre da China

A província de Guizhou tem sido um dos principais cenários da batalha do Governo Central para a erradicação da pobreza, tendo merecido a especial atenção do presidente Xi Jinping, que a referiu em numerosas ocasiões. Desde 2012, data da realização do 18º Congresso do Partido Comunista Chinês em que foi estabelecida como meta, o plano de erradicação da pobreza em Guizhou fez com que o número de 9,23 milhões de pobres tenha decrescido para cerca de 300 mil em 2019, ou seja, de 26,8% da população total da província para 0,85%.

Em Guizhou, uma província montanhosa com acessos difíceis, habitada sobretudo por minorias étnicas, existiam 66 comarcas consideradas pobres. Em 2019, apenas 9 eram ainda classificadas como tal. Uma das estratégias passou pela construção de estradas que ligam comunidades rurais, dantes isoladas, numa geografia montanhosa que dificultava os acessos e a comunicação entre as diversas comunidades. No total foram construídos 77 mil quilómetros de estradas.

Com o mesmo objectivo, foi também implementado um projecto de recolocação de cerca de 1,8 milhão de pessoas, a maior de toda a China, além de ter sido promovida a modernização agrícola e desenvolvidos novos métodos de trabalho, o que levou a um enorme crescimento da produção.

Este ano, apesar da pandemia e de graves inundações, o plano continuou a as nove comarcas referidas conseguiram também ultrapassar, este Novembro, o nível de pobreza. Resta agora, segundo as autoridades, prosseguir na investigação de eventuais deficiências na execução dos planos, consolidar a produção de alta qualidade e assim eliminar desta província o estado de pobreza que há milhares de anos afligia a sua população. In “Hoje Macau” - Macau


 

domingo, 29 de novembro de 2020

Paquistão – Kaavan, o elefante que vai recuperar a liberdade

 


Durante décadas este elefante serviu como “entretenimento” num zoológico do Paquistão.

Em 1985 o Sri Lanka ofereceu este elefante, acabado de nascer, ao Paquistão, de forma a promover as relações bilaterais entre os dois países. Após uma longa batalha judicial Kaavan, o elefante macho de 35 anos, vai ser, finalmente, libertado do seu cativeiro  e viverá num santuário.

Durante décadas o elefante mais solitário do mundo divertiu multidões no seu pequeno e árido pedaço de terra num zoológico do Paquistão.

Para entreter os visitantes, os “tratadores” picavam o elefante com ganchos, de forma a fazê-lo mexer-se, aumentando assim as receitas e o suposto divertimento de quem o ia visitar.

Com o passar do tempo, os animais desapareceram dos seus recintos, o zoológico foi ficando decadente e pouco visitado. A sua única companheira morreu, supostamente de sepsis causada pelos ganchos cravados profundamente na sua pele.

E durante anos, parecia que ninguém se importava com o destino solitário do elefante. As suas feridas infetaram e as correntes em torno das suas pernas lentamente deixaram cicatrizes permanentes. Kaavan entrou lentamente em psicose e obesidade.

Mas no domingo, o elefante mais solitário do mundo finalmente deixará para trás o seu recinto desolador e viverá do outro lado do continente, graças à determinação de uma união entre voluntários determinados e, de uma forma um tanto inesperada, a ícone pop americana Cher.

O tribunal determinou que o elefante seja transferido do Zoológico de Islamabad (anteriormente conhecido como Zoológico de Marghazar) para um santuário onde ele possa viver livremente. Como o Paquistão não tem santuários adequados para o elefante, as autoridades paquistanesas escolheram um santuário de elefantes no Camboja para ser o novo lar de Kaavan. In “Green Savers Sapo” - Portugal


Luxemburgo – Famílias economizam mais em tempo de pandemia

A crise aumentou a poupança. Os depósitos das famílias luxemburguesas aumentaram de 41,8 mil milhões de euros, em março de 2020, para 43,5 mil milhões de euros em setembro


A pandemia de covid-19 trouxe um desafio imensurável ao ano de 2020. Com parte da atividade paralisada devido aos constantes confinamentos, a maior parte das pessoas passou o ano em casa. Com todos os desafios que daí surgem, parece haver um lado positivo: tem sido possível poupar mais.

Quem o diz é Banco Central Europeu, que apresentou um relatório onde calcula que as poupanças das famílias europeias ascenderam a um recorde de 7,3 triliões de euros. Em relação ao Luxemburgo, as poupanças aumentaram de 41,8 para 43,5 mil milhões de euros entre março e setembro.

Patrice Lazerges, diretor da ING Grand-Rue na cidade do Luxemburgo, disse à versão alemã do Wort que o "medo generalizado" é a razão dos novos esforços de poupança.

Aqueles que não sabem se vão perder os empregos ou ganhar menos, estão por enquanto a adiar compras maiores, explica o diretor, adiantando que o abrandamento da atividade nacional (como o encerramento de restaurantes) é também responsável por esta "síndrome do esquilo", isto é, "as pessoas saíam menos, podiam comprar menos, evitaram os locais culturais, mudavam os seus padrões de férias". 

Em relação ao tipo de poupança, grande parte do dinheiro ainda vai para uma conta de poupança tradicional, que não traz grande retorno no atual ambiente de juros. In “Contacto” - Luxemburgo






França – Ensino de português lança campanha de promoção

A sensibilização de pais e alunos para a importância de aprender português no ensino básico e secundário em França vai arrancar em janeiro e fevereiro sendo acompanhada por uma campanha digital dirigida aos jovens


“É um conjunto de práticas que vamos tentar instaurar. Uma sensibilização junto das crianças no último ano da primária para que escolham português no ensino básico e secundário e, nas escolas onde ainda não há português, tentar mobilizar os pais para que peçam essa abertura”, afirmou a coordenadora do Ensino de Português em França, Adelaide Cristóvão, em declarações à Agência Lusa.

A campanha foi apresentada este sábado nos Estados Gerais da Luso-descendência, evento promovido pela Cap Magellan, associação dedicada aos jovens de origem portuguesa em França, e deve arrancar já em janeiro.

“Estamos a preparar a documentação e as nossas primeiras ações no terreno devem acontecer em janeiro e fevereiro”, explicou Adelaide Cristóvão.

Em França, o ensino do português na primária é assegurado por professores colocados pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, passando depois a responsabilidade no ensino básico e secundário a pertencer às autoridades francesas.

Esta continuidade consegue-se através do número de inscritos, uma vontade expressa anualmente pelos pais aos diretores das escolas francesas. Daí a necessidade de sensibilizar os pais, de origem lusófona ou não, para a importância do português.

Ao mesmo tempo, a Cap Magellan e mais de 230 entidades associadas, entre professores a associações, vai lançar uma campanha virada para o digital e para os jovens sobre esta temática.

“Vamos trabalhar a parte do digital e ver como podemos completar [a campanha da Coordenação] com uma campanha virada para os jovens. O objetivo é que seja algo atrativo e interessante e que seja levada a cabo por jovens com ferramentas como WhatsApp ou jogos interativos na internet”, disse Luciana Gouveia, delegada-geral da Cap Magellan.

A jornada dos Estados Gerais da Luso-descendência foi criada em 2018 para responder à “urgência” de ter mais alunos de português em França, e já vai na sua terceira edição.

“Basta olhar para os números do ensino em português, para ver que há uma urgência em haver uma campanha nacional direcionada aos franceses. Há 50 mil pessoas em França que aprendem português e há 300 mil que aprendem italiano, 800 mil aprendem alemão e 2 milhões aprendem espanhol”, concluiu Luciana Gouveia. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


 

Barco negro

 








Vamos aprender português, cantando

 

Barco negro

 

São loucas! São loucas! São loucas

 

Eu sei, meu amor

que nem chegaste a partir

pois tudo em meu redor

me diz que estás sempre comigo

 

De manhã, que medo, que me achasses feia!

Acordei, tremendo, deitada na areia

mas logo os teus olhos disseram que não

e o sol penetrou no meu coração

mas logo os teus olhos disseram que não

e o sol penetrou no meu coração

 

Vi depois, numa rocha, uma cruz

e o teu barco negro dançava na luz

vi teu braço acenando, entre as velas já soltas

dizem as velhas da praia que não voltas

 

São loucas! Loucas

 

Eu sei, meu amor

que nem chegaste a partir

pois tudo em meu redor

me diz que estás sempre comigo

eu sei, meu amor

que nem chegaste a partir

pois tudo em meu redor

me diz que estás sempre comigo

 

No vento que lança areia nos vidros

na água que canta, no fogo mortiço

no calor do leito, nos bancos vazios

dentro do meu peito, estás sempre comigo

no calor do leito, nos bancos vazios

dentro do meu peito, estás sempre comigo

 

Eu sei, meu amor

que nem chegaste a partir

pois tudo em meu redor

me diz que estás sempre comigo

eu sei, meu amor

que nem chegaste a partir

pois tudo em meu redor

me diz que estás sempre comigo

 

Mariza – Portugal

Letra - David Mourão-Ferreira – Portugal

Música - Caco Velho (Mateus Nunes) – Brasil

                Piratini (António Amábile) - Brasil


sábado, 28 de novembro de 2020

Lusofonia - Países lusófonos querem reforçar participação nas convenções sobre o ambiente

 


A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) quer reforçar a sua participação e ter posições comuns nas convenções e reuniões multilaterais sobre o ambiente, com destaque para as conferências das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.

A ambição está na declaração final da 8.ª reunião dos ministros responsáveis pelo Ambiente nos Estados-membros da CPLP, que decorreu hoje por videoconferência, e lida pelo ministro do Ambiente de Cabo Verde, Gilberto Silva, país que detém a presidência pro tempore da comunidade lusófona.

O ministro cabo-verdiano disse que os responsáveis pelo Ambiente na CPLP querem reforçar a participação e a busca pela concertação de posições comuns da comunidade assim como a negociação no contexto das reuniões dos acordos multilaterais do ambiente, sobretudo nas conferências das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP).

A comunidade lusófona quer ainda ter uma única voz tanto a nível da convenção-quadro das Nações Unidas sobre alterações climáticas como na convenção da biodiversidade, no combate à desertificação e em todas as demais convenções em matéria do ambiente.

“Nós participamos em várias reuniões globais, designadamente as conferências das partes e deveremos, enquanto espaço, defender posições bastante harmonizadas e comuns. Deve haver esta articulação”, defendeu Gilberto Silva.

“Evidentemente que a nível do ambiente nós podemos ver que há problemas ambientais globais, mas a ação para a resolução dos problemas ambientais globais deve ser implementada a nível local”, apontou o porta-voz da reunião ministerial da comunidade lusófona.

O ministro cabo-verdiano disse que cada país tem ações que desenvolve a nível local, nacional e regional, mas que vão dando a sua contribuição na discussão e na construção de “soluções viáveis e aceites” por todos a nível das convenções internacionais e das conferências das partes que têm sido realizadas todos os anos.

Os ministros responsáveis pelo Ambiente da CPLP subscreveram ainda uma carta de compromisso por um mar sem lixo, que vai exigir uma “política muito forte” para reduzir as ameaças aos ecossistemas marinhos pelos resíduos.

Gilberto Silva disse que a questão da poluição provocada pelas máscaras usadas para proteção contra a covid-19 não foi tratada na reunião, mas que a declaração em si já abrange esta “grande preocupação” ambiental.

“Sabemos que há uma relação muito forte com a gestão dos resíduos em terra com a gestão dos resíduos no mar, por conseguinte nós, ao termos esse compromisso, estaremos a adotar tudo o que é tecnicamente recomendado”, sublinhou o ministro.

“Mas estamos em crer que os sistemas de gestão dos resíduos sólidos urbanos em todos os países estarão à altura da solução deste problema”, perspetivou Gilberto Silva, indicando que os países recomendaram a estruturação de uma proposta de Plano de Ação 2021/203, decorrente do Plano Estratégico de Cooperação em Ambiente da CPLP.

Os países lusófonos recomendaram, entre outros pontos, um debate alargado e transversal sobre alterações climáticas, constituição da rede de reservas de biosfera da UNESCO, implementação da década das Nações Unidas sobre restauração dos ecossistemas, pagamento de serviços ambientais, intercâmbio e cooperação para educação ambiental.

A 8.ª reunião dos ministros do Ambiente da CPLP decorreu sob o tema “Reforçar a Cooperação para reduzir a perda da biodiversidade e enfrentar as alterações climáticas”, durante a qual foram abordados os desafios ambientais e as respostas a nível regional e global.

Os Estados-membros da organização são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”


Cabo Verde - Campanha de 2020 está a ser a melhor de sempre em termos de números de ninhos de tartarugas registados

 


Cabo Verde bateu este ano o recorde com quase 144 mil ninhos de tartarugas registados em todas as ilhas, segundo dados avançados à Lusa pelo diretor nacional do Ambiente, que notou igualmente uma redução de capturas.

Alexandre Nevsky Rodrigues disse que os dados provisórios da campanha de 2020 apontam para um registo de 143930 ninhos de tartarugas, mais do dobro dos 60917 contabilizados no ano anterior.

“A campanha de 2020 está a ser a melhor de sempre em termos de números de ninhos registados”, constatou o diretor nacional do Ambiente cabo-verdiano, referindo que, tradicionalmente, as ilhas da Boa Vista, Sal e Maio são as que contribuem com mais de 95% das desovas no país.

As estatísticas apontam que de mil ovos eclodidos, apenas uma tartaruga chega à vida adulta, mas o diretor nacional do Ambiente disse que as autoridades cabo-verdianas estão a criar condições para aumentar essa taxa.

“Aquilo que podemos fazer aqui na terra, vamos fazendo”, garantiu Alexandre Nevsky, referindo que no mar já funciona a lei natural.

O segundo melhor ano de nidificação das tartarugas marinhas em Cabo Verde tinha sido em 2018, com um total de 109126 ninhos registados, muito mais do que os 44035 de 2017, os 30470 do ano de 2016 e dos 10725 no ano anterior.

Os mesmos dados provisórios apontam também para uma diminuição da captura de tartarugas marinhas este ano em Cabo Verde, com 1,61%, menor do que os 2,08% identificados no ano passado.

“A campanha de 2018, com 1,19%, foi a melhor em termos de redução de captura, efeito imediato da aprovação da legislação de proteção das tartarugas”, salientou o responsável cabo-verdiano.

Alexandre Nevsky alertou que existe uma “probabilidade forte” de aumento de capturas durante a campanha deste ano devido aos efeitos da covid-19, que fez com que as associações tivessem menos voluntários internacionais na monitorização e menos capacidade de fiscalização através da Polícia Nacional e das Forças Armadas.

“Reforçamos as campanhas nas comunidades com ações de sensibilização porta a porta e colocação de ‘outdoors’ informativos”, indicou Alexandre Nevsky, para quem mesmo com os constrangimentos provocados pela covid-19, os resultados desde ano “são excelentes”.

Desde 2016 que as autoridades cabo-verdianas estão a financiar 11 associações comunitárias e organizações em todas as ilhas, e são monitorizadas cerca de 167 quilómetros de praias em todo o território nacional.

A campanha desde ano foi a que registou o maior número de fêmeas, estando neste momento em 28786, mais do que as 11406 do ano passado e das 21825 de há dois anos.

Os dados acumulados desde 2015 apontam que a ilha da Boa Vista registou 248 mil ninhos, enquanto Sal teve cerca de 64 mil e Maio com quase 51 mil ninhos de desovas das tartarugas marinhas em cinco anos.

Nas declarações à Lusa, o diretor nacional do Ambiente aproveitou para apelar a toda a população para proteger as tartarugas marinhas em Cabo Verde, lembrando que são espécies em vias de extinção. “O trabalho que estamos a fazer será reconhecido também junto dos nossos doadores”, enfatizou.

Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a sua captura em épocas de desova, mas desde 2018 está em vigor uma nova lei, que tipifica outros tipos de crime, nomeadamente o abate intencional, bem como a aquisição, a comercialização, o transporte ou desembarque, a exportação e o consumo.

A população de tartarugas marinhas ‘Caretta caretta’ de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos da América) e em Omã (Golfo Pérsico).

O período de desova desta espécie começa anualmente em 01 de junho, mas este ano devido à covid-19 algumas associações arrancaram mais tarde, e vai pelo menos até novembro. In “Green Savers Sapo” - Portugal


Brasil - Energia eólica offshore entra no radar do país

 


O potencial do Brasil para a geração de energia com usinas eólicas instaladas no mar, uma tecnologia em ascensão no mundo mas ainda inédita no país, entrou no radar de técnicos do governo e de empresas como a petroleira norueguesa Equinor e a elétrica Neoenergia, do grupo espanhol Iberdrola.

A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) disse à Reuters que registra sete projetos eólicos offshore em águas nacionais em fase de licenciamento, que somariam capacidade total de até 15 gigawatts (GW) --perto dos 16 GW hoje operacionais em terra.

O porte dessa carteira de projetos ainda em desenvolvimento, 80% concentrada nas duas empresas, evidencia os grandes números envolvidos quando se fala nas possibilidades dessa fonte de energia, que envolve turbinas maiores que as convencionais e consegue aproveitar ventos mais fortes.

A EPE estima que o Brasil poderia implementar 700 GW em eólicas offshore ao explorar profundidades até 50 metros, o que representa quatro vezes a atual capacidade instalada de geração de energia do país. As áreas mais favoráveis à tecnologia se dividem entre zonas na região Sul, Sudeste e, principalmente, Nordeste.

O presidente da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, disse à Reuters que ainda há um longo caminho até que os primeiros projetos offshore saiam do papel, uma vez que é preciso definir regulamentações para a fonte, enquanto custos elevados também são uma barreira.

“Falta muito tempo, no mínimo dez anos, sendo otimista uns sete. Nosso projeto não é imediato... estamos olhando três regiões. No Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Ceará. É uma tecnologia que tem espaço no Brasil com certeza, o país tem uma costa gigantesca”, afirmou.

A Equinor também afirma que a aposta nas usinas marítimas no Brasil “é um negócio de longo prazo” e depende da regulação, com seus projetos locais em fase inicial de análise.

“O Brasil é muito rico em recursos naturais, com grande potencial em óleo e gás e renováveis. Nós vemos um potencial para eólica offshore no Brasil, um país que consideramos ser uma área central para nossa companhia”, disse, em nota à Reuters.

A Neoenergia, cuja controladora Iberdrola é líder global em geração offshore, tem registrados três projetos eólicos na costa brasileira --Jangada, Maravilha e Águas Claras, cada um com 3 GW em capacidade potencial.

A Equinor está em fase inicial de licenciamento ambiental de dois parques offshore com 2 GW cada, do complexo Aratu.

A EPE ainda registra um projeto de 1,2 GW ligado à BI Energia, da italiana Imprese e Sviluppo, e os complexos Asa Branca, com 400 megawatts, e Caucaia, com 600 megawatts.

A Equinor não comenta valores previstos para suas usinas, assim como a Neoenergia, que ainda não registra desembolsos relevantes ligados ao projeto.

A elétrica da Iberdrola prevê começar medições mais apuradas de vento a partir do próximo ano, com equipamentos movidos a energia colocados sobre as águas. No momento, foca o licenciamento ambiental, também visto como complexo devido ao ineditismo da iniciativa.

No projeto Asa Branca, por exemplo, a consultoria dinamarquesa Ramboll foi contratada como responsável pela gestão ambiental, em trabalho que será realizado em consórcio com a empresa de soluções ambientais e dados hidrográficos e geofísicos Cepemar e a Integratio, de mediação social.

A Petrobras também tem o potencial eólico do Brasil no radar, mas decidiu focar a atuação no segmento por hora em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento.

A companhia disse à Reuters que “já realizou o mapeamento eólico (offshore) na região Nordeste e vai mapear o potencial do litoral Sudeste”, enquanto foca os esforços de P&D na busca de sinergias da fonte com operações de óleo e gás.

A estatal ainda tem um memorando de entendimento com a Equinor em eólicas offshore que continua válido e pode render iniciativas na área de pesquisa “no horizonte de longo prazo”.

Custo elevado

O custo das eólicas offshore é hoje, segundo a EPE, cerca de duas vezes maior que projetos onshore, e especialistas dizem que o atual nível de câmbio ainda aumenta essa diferença, mas a estatal diz ver “perspectivas favoráveis”. In “Portos e Navios” – Brasil com “Reuters”


Portugal - Fundação Calouste Gulbenkian distingue projeto de investigação da Universidade de Coimbra em computação quântica

Testar os limites dos computadores atuais, quando aplicados a problemas do domínio financeiro, e explorar modelos de computação quântica é o objetivo de um projeto de investigação de Cláudio Gomes, aluno da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

O projeto, que faz parte da sua tese de mestrado, mereceu a atenção da Fundação Calouste Gulbenkian, que lhe atribuiu uma bolsa no âmbito do programa “Novos Talentos em Tecnologias Quânticas”, que tem como objetivo «estimular nos jovens a apetência para a investigação em Tecnologias Quânticas, possibilitando o desenvolvimento de competências nacionais nesta área».

Em particular, o estudo vai centrar-se no problema de otimização de um portefólio de ativos financeiros, isto é, «perante um conjunto de ativos, o objetivo é que, em cada momento, os computadores quânticos sejam capazes de decidir que ativos comprar/manter/vender de modo a maximizar o lucro num dado horizonte temporal», explica Cláudio Gomes, esclarecendo que, «para um conjunto de ativos e um horizonte temporal realistas, a necessidade de cálculos computacionais cresce para valores astronómicos, impossíveis de realizar recorrendo a um programa de computador clássico».


Por isso, a estratégia passa por explorar novos modelos de computação: «Um computador quântico tem potencial para resolver inúmeros problemas que um computador clássico não consegue solucionar em tempo útil. Esta vantagem é conhecida como Supremacia Quântica. Para além dos referidos problemas financeiros, outros exemplos de problemas que podem beneficiar da elevada capacidade de cálculo proporcionada por computadores quânticos, incluem a modelação eficiente de reações químicas e decifração de segredos em criptografia», destacam os orientadores do aluno, João Paulo Fernandes e Gabriel Falcão, docentes do Departamento de Engenharia Informática e do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, respetivamente.

«Numa altura em que se vão acumulando cada vez mais evidências de que a computação quântica poderá atingir impacto industrial mais cedo do que o esperado, antecipa-se que as contribuições a realizar possam mostrar caminhos para acelerar ainda mais esse impacto», acrescentam.

A bolsa tem o valor pecuniário de 2500 euros e a duração de 10 meses. Os docentes da FCTUC salientam que «estas bolsas são extremamente competitivas e concedidas a um número muito reduzido de alunos e investigadores. Por isso, mais do que o valor pecuniário em causa, o financiamento atribuído honra-nos e motiva-nos muitíssimo». Universidade de Coimbra - Portugal



sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Literatura brasileira ganha um novo romancista


                                                                 I

Depois de incursionar por outras áreas do pensamento, como poesia, crônicas,  estudos biográficos, História e obras jurídicas, o professor e advogado David de Medeiros Leite (1966), mestre e doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha, começa agora promissora carreira como ficcionista, com o lançamento de 2020, romance escrito na primeira pessoa, que procura resgatar a vida de um personagem que viveu num convento entre 1963 e 1968.

Esse personagem, José Silvestre de Araújo, nascido e criado em Pedras de Fogo, município da região metropolitana de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, seria levado já moço por um tio para Recife, onde ingressaria numa ordem carmelita, o Convento do Carmo, tradicional estabelecimento religioso de Pernambuco. Lá, teria a oportunidade de tentar concretizar um sonho da infância, surgido depois de ouvir muitas lendas contadas por parentes e conhecidos: encontrar uma botija que estaria enterrada em determinado lugar, escondida por um frade da ordem carmelita.

Escrito em linguagem madura que faz esperar outras incursões do autor na área da ficção, 2020 presta também uma homenagem ao historiador e antropólogo Câmara Cascudo (1898-1986), a quem frei José de Santo Elias, nome religioso do protagonista, recorreria na tentativa de encontrar pistas para localizar a tal botija, que, afinal, nunca seria achada.

Aliás, as ligações do autor com Câmara Cascudo já são antigas, pois, aproveitando o tempo que passou em Salamanca fazendo mestrado e doutorado em Direito, ele conseguiu localizar na Casa-Museu de Miguel de Unamuno (1864-1936) uma carta em  que o historiador potiguar se solidarizava com o pensador espanhol em razão do “banimento” sofrido este por sua oposição à ditadura do general Primo de Rivera (1870-1930), que durou de 1923 a 1930.

No romance também aparece a figura de Dom Hélder Câmara (1909-1999), bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985).

                                                                II

Misturando história e ficção, 2020 recupera também fatos ocorridos em 1968, ano em que houve um endurecimento por parte do regime militar, com perseguições a líderes políticos e homens de pensamento. Mas, a rigor, o romance gira em torno do Convento do Recife, como é mais conhecida aquela instituição, e sobre a presença de carmelitas em Mossoró, município localizado na região Oeste do Rio Grande do Norte, sem deixar de recuperar um fato que até hoje desafia a memória dos mossoroenses mais antigos, ou seja, um crime ocorrido naquele ano de 1968 no Grande Hotel, até hoje nunca esclarecido.

Depois da vida religiosa, Silvestre de Araújo assumiria a profissão de carteiro, viajando, certo dia, a Mossoró para visitar as ruínas da Casa do Carmo, que seria o local onde estaria escondida a botija. Em suas rememorações já como carteiro aposentado, o protagonista não deixaria de recordar as perseguições sofridas pelo acosso do desejo sexual, depois de conhecer Marília, recepcionista de um hotel em Mossoró, diante da promessa que fizera de não romper o celibato.

Em resumo: escrito em estilo leve, que atrai a atenção do leitor deste a primeira linha, 2020 é romance que veio para ficar não só na história da ficção do Rio Grande do Norte, mas da Literatura de expressão portuguesa. E que já foi saudado pelo poeta peruano Alfredo Pérez Alencart, radicado como professor universitário em Salamanca desde 1987, que, inclusive já traduziu para o espanhol um livro de David de Medeiros Leite sobre aquela mítica cidade espanhola.

Do romance do advogado potiguar, “escritor que vai abrindo sua própria senda nos diferentes deltas da literatura”, Pérez Alencart diz que se trata de uma história bem trabalhada, com diálogos bem construídos, com ritmo cadencioso que permite leitura fluída. “Há reflexões que configuram a condição humana em todos os tempos e lugares, como, por exemplo, quando o protagonista comenta: “Ah, a inveja! Quão subjetiva e, por vezes, imperceptível! Depois de um comentário sobre a brilhante homília proferida por nosso Provincial, percebi, na reação de alguns frades, esboços de inveja. O elogio mesclado com ironia deduz inveja, com certeza” (pág. 74).

                                                              III

Nascido em Mossoró, David de Medeiros Leite, graduado em 1999 pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), é também gestor com atuação em diversos cargos na administração pública e professor da UERN desde 2004, onde desenvolve pesquisas, especialmente na área de Direito Público.

Foi pró-reitor de Gestão de Pessoas na UERN e é assessor jurídico da presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte. Foi ainda diretor-científico da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado do Rio Grande do Norte (Fapern). Em 2005, em parceria com o escritor Clauder Arcanjo, criou a editora Sarau das Letras. Além de livros de poemas, tem publicado biografias e livros de crônicas e de História com temas ligados ao Nordeste, em especial à cidade de Mossoró.

É autor de Companheiro Góis – dez anos de saudade, biografia (Coleção Mossoroense, 2001), Os carmelitas em Mossoró, em coautoria com Gildson Souza Bezerra e José Lima Dias Júnior (Coleção Mossoroense, 2002), Ombudsman mossoroense (Sebo Vermelho, 2003), Duarte Filho: exemplo de dignidade na vida e na política, biografia, em coautoria com Lupércio Luiz de, Azevedo (Sarau das Letras, 2005), Incerto caminhar (Sarau das Letras, 2009), Cartas de Salamanca (Sarau das Letras, 2011), Casa das lâmpadas (Sarau das Letras, 2013), Mossoró e Tibau em versos – antologia poética, em coautoria com Edilson Segundo (Sarau das Letras, 2014), Mi Salamanca: guía de un poeta nordestino, com tradução e prólogo de Alfredo Pérez Alencart (2018), Aldemar Duarte Leite: centenário de nascimento, biografia (2018), e História da Liga Operária de Mossoró, em coautoria com José Edílson Segundo e Olivá Leite da Silva Júnior (2018).

Em 2015, lançou Ruminar (Rumiar), livro de poemas em edição bilingue, pela Editora Sarau das Letras, de Mossoró, e Trilce Editores, de Salamanca. Em 2017, publicou ainda Rio de Fogo, coleção de vinte poemas, com 40 fotografias do magistrado Bruno Lacerda que mostram aspectos da cidade de Rio de Fogo, localizada na região Norte do Rio Grande do Norte.

Na área de Direito, é autor ainda de Presupuesto participativo en municipios brasileños: aspectos jurídicos y administrativos (Editorial Académica Española, 2012) e Participação política e cidadania – Amicus Curiae, audiências públicas parlamentares e orçamento participativo, em coautoria com José Armando Pontes Dias Júnior e Aurélia Carta Queiroga da Silva (2018). Adelto Gonçalves - Brasil


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2020, de David de Medeiros Leite., com apresentação de Humberto Hermenegildo, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Mossoró: Sarau das Letras, 234 páginas, 2020. E-mails: clauderarcanjo@gmail.com davidmleite@hotmail.com

 

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Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela USP e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp)/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br



Macau - Como será a paisagem em 2049?

Como será a paisagem de Macau em 2049? O artista conceptual Ricardo Lima tentou dar resposta à questão e, tendo como referência o filme “Blade Runner 2049”, recriou uma Macau em que o nível da água chega ao Grand Lisboa e em que as Ruínas de São Paulo são apenas hologramas. As visões do futuro estão em exposição no Taipa Village Art Space até 8 de Janeiro


O nível da água do Rio das Pérolas subiu e o mar chega agora à entrada do Grand Lisboa, com embarcações a circundarem o casino e hotel. Em cima da Avenida do Infante D. Henrique, as pontes multiplicam-se. Ainda há o Grand Lisboa, mas, visto de longe, o horizonte de Macau está irreconhecível, nasceram dezenas de novos arranha-céus iluminados com néons. A paisagem está diferente, mas os pastéis de nata de Macau – ou as ‘portuguese egg tart’ – continuam a ser servidos dentro dos apertados “estabelecimentos de comidas”. Já as Ruínas de São Paulo caíram e os milhares de turistas que atravessam a Rua da Palha olham agora para um holograma que substitui o monumento icónico de Macau.

Esta é a Macau de 2049 que Ricardo Lima imaginou e que está em exposição no Taipa Village Art Space até 8 de Janeiro de 2021. A mostra teve início no dia 7 de Outubro. Com a arte conceptual como linguagem e o filme “Blade Runner 2049” como referência, o artista fez uma caricatura da região, naquele que será o ano em que Macau deixará de ter o seu próprio sistema dentro do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e passará oficialmente a ser uma cidade chinesa.


Macau em ficção científica

João Ó, curador do Taipa Village Art Space, foi quem deu a ideia a Ricardo Lima. “O João Ó, quando me contactou para fazermos esta exposição, tinha a ideia de fazer um projecto relacionado com a cidade de Macau, em que eu pudesse pegar na cidade e fizesse qualquer coisa relacionada com aquilo que eu faço para apresentar aí. Então, tivemos a ideia de fazer o projecto de ficção científica”, contou Ricardo Lima ao Ponto Final.

Esta é a primeira vez que Ricardo Lima apresenta o seu trabalho em forma de exposição. “Na verdade, não é muito comum os artistas conceptuais realizarem exposições, mas foi algo a que sempre estive aberto. Os artistas conceptuais não vêem necessariamente o que fazemos como arte. O que fazemos está mais relacionado com o ‘design’ e é muito centrado na indústria”, ressalva.

“Quando este projecto começou, estive a falar com o João durante umas boas horas sobre Macau e o que é que se estava a passar neste momento, como se estava a desenvolver Macau, em termos políticos, económicos. É sempre importante perceber isso quando se faz um projecto”, detalhou o artista. Das conversas resultou, então, a ideia de “dar a visão da Macau do futuro”, através de imagens semelhantes a filmes de ficção científica ou videojogos.


A data escolhida, 2049, é, além do ano do fim da autonomia de Macau, uma alusão ao “Blade Runner 2049”. “Eu sempre fui um grande fã do filme original e acho que a nova versão também está muito muito boa. Achei piada, visto que seria um projecto de ficção científica”, referiu, explicando: “Foi por essa coincidência do título do ‘Blade Runner’ e o facto de haver essa transição para a China e o impacto que isso pode vir a ter que acabámos por enveredar por este caminho”.

Além do filme de 1982 realizado por Ridley Scott – e também o mais recente realizado por Denis Velleneuve – o trabalho de Ricardo Lima é também influenciado por outros filmes de ficção científica populares, como “Akira”, de 1988; “Total Recall”, de 1990; “Ghost in the Shell”, de 1995; “Fifth Element”, de 1997; e “Dredd”, de 2012.

Uma realidade exagerada

Ainda que Ricardo Lima confesse que a Macau do futuro possa vir a ser “bastante diferente” daquilo que é retratado na exposição, o artista explica que o seu trabalho é, precisamente, “criar mundos novos, visualmente interessantes para os espectadores”. “Obviamente que são alternativas a uma realidade e muitas vezes são exageradas”, assume. “O trabalho que eu tenho não vai ser um espelho directo [da Macau de 2049], não vai ser 100%”, sublinha.

Há, porém, “pequenos elementos” presentes nas peças que estão em consonância com aquilo que poderá realmente verificar-se na região, em 2049. “O nível do mar pode, efectivamente, subir, e isso altera determinado tipo de questões urbanísticas e de arquitectura”, exemplifica, acrescentando que os avanços tecnológicos e de construção presentes nas obras “também podem vir a verificar-se”. Neste aspecto, “tudo isso pode vir a ser possível”.


Ricardo Lima tirou a licenciatura em Desenho na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Depois da Licenciatura, decidiu que queria enveredar pela arte conceptual e pelo ‘concept design’ na indústria cinematográfica e de videojogos. Com esse objectivo, continuou os estudos em Singapura. Até aqui, tem trabalhado nesta área e fez parte da equipa que desenvolveu o último jogo de Tomb Raider, de 2013, por exemplo.

“No ‘concept art’, nós trabalhamos directamente com os directores de arte, com os produtores e com os criativos. E a ideia é trazer as ideias de um jogo ou de um filme e pô-las num aspecto visual, em imagens, para o resto da equipa perceber qual é a direcção que se quer seguir antes de aprovar o que quer que seja e antes de se começar a construir os cenários ou a criar o jogo em si”, explica o artista.

Imaginar a Macau do futuro sem ter estado na Macau do presente

Apesar de imaginar a Macau do futuro, Ricardo Lima não conhece a Macau do presente. Tem ligações familiares ao território, mas nunca esteve na região. “Nunca tive a oportunidade de visitar Macau, infelizmente. Este ano era uma das hipóteses, se não fosse esta pandemia”, lamenta.

Isso não é impedimento, até porque “muito do trabalho que nós fazemos pode ser uma representação de espaços que existem”. “Muitos dos projectos em que trabalho são hipóteses de outros espaços no mundo, outras cidades, outras realidades alternativas”, assinala. Recriar um local tendo lá estado “ajuda sempre, a experiência é completamente diferente se conhecermos bem o sítio”. Mas “não nos podemos dar ao luxo de só fazer projectos nos quais nós conheçamos os locais em pessoa”, nota, acrescentando que o essencial é o trabalho de pesquisa de cada sítio. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com