O
ensino universitário de português na China começou em 1960, em Pequim, e seis
décadas depois está “de boa saúde”, sendo ensinado em 50 instituições, disse o
responsável pelo congresso organizado para assinalar a efeméride.
O
Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto
Politécnico de Macau (IPM) está a organizar até 3 de Dezembro o congresso
“Português na China: seis décadas no Ensino Superior”, uma série de quatro
mesas-redondas sobre temas “de reconhecida relevância para o universo da
difusão da lusofonia em território chinês”, segundo o comunicado do IPM.
Para
o professor Zhang Yunfeng, coordenador do CPCLP, o interesse pelo português não
só não diminuiu desde a devolução de Macau à China, em 1999, como registou um
crescimento “enorme” nos últimos anos. “Neste momento são aproximadamente 50
instituições de ensino superior onde o português é ensinado na China”, disse à
Lusa. “É enorme, e este número aumentou muito nos últimos anos”, prosseguiu.
Segundo
o professor, em 2000 havia apenas “três instituições de ensino superior” a
ensinar português na China continental, apontando que “muitos cursos foram
criados em anos recentes”, desde 2010. “Há cada vez mais alunos, mais
professores, mais manuais, e o português da China também está a atrair cada vez
mais a atenção do mundo”, garantiu Zhang, recordando o lançamento, no ano
passado, da “primeira revista académica na área do português na Ásia, ‘Orientes
de Português'”, criada pelo CPCLP, em colaboração com a Universidade do Porto.
“O português está de boa saúde e está mesmo a crescer em vez de descer, não
apenas nas atividades pedagógicas, mas também nas atividades científicas”,
sublinhou.
Nascido
na China continental, o professor, que trabalha há seis anos em Macau, depois
de ter dado aulas em Pequim, fala fluentemente português, e é ele próprio um
produto do sistema de ensino universitário da língua portuguesa no gigante
asiático. “Na altura, havia pouca gente que dominasse ao mesmo tempo as duas
línguas, e o país seleccionou durante vários anos alunos das escolas
secundárias para aprender português, e eu fui escolhido”, recordou. “No meu
caso, comecei a aprender português em Pequim: fiz a licenciatura e o mestrado
em Pequim e depois fui estudar para Portugal”, contou à Lusa.
Para
fazer o doutoramento em linguística portuguesa, em Coimbra, viveu dois anos em
Portugal, “e isso também ajudou a aperfeiçoar o português”, acrescentou.
Hoje,
a procura de cursos de português na China “é grande”, e a razão, garantiu, é
“simples”: “Há mercado”. “Neste momento, há muitas colaborações entre a China e
os países de língua portuguesa, a vários níveis: economia, comercial, educação
e cultura. Por isso, muitas universidades e instituições de ensino superior na
China abriram cursos de português, e os alunos também querem conhecer melhor o
mundo lusófono, conhecer melhor a língua e a cultura”, afirmou.
Para
estes alunos, há muitas saídas profissionais, nomeadamente “em empresas
chinesas que tenham uma grande colaboração com os países de língua portuguesa”.
O
Instituto Politécnico de Macau tem várias licenciaturas dedicadas ao português,
tanto na área da formação de professores, como na tradução e interpretação de
português-chinês. Além disso, a instituição ministra ainda uma licenciatura
sobre as relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa,
que forma “quadros bilingues que queiram trabalhar no futuro nesta área
comercial”, bem como cursos de mestrado e de doutoramento.
Para
Zhang, que adotou o nome português Gaspar, um dos desafios atuais do ensino da
língua portuguesa é a diversificação dos manuais e materiais pedagógicos. “Já
produzimos manuais de fonética, fonologia, léxico, vocabulário, gramática,
história e literatura, mas há sempre áreas em que há lacunas”, apontou.
A
formação de professores na China é outro dos desafios. “Muitos chineses que
ensinam português na China são muito jovens, ainda estão a fazer mestrado e
doutoramento, mas daqui a cinco ou dez anos o número de professores doutorados
vai aumentar muito”, antecipou.
O
congresso, que se realiza de forma virtual, com 12 oradores de instituições de
ensino superior da China, Portugal, Estados Unidos e Brasil, arrancou ontem com
uma mesa-redonda sobre intercâmbios universitários, tendo mais três
conferências agendadas.
No
dia 26 de Novembro, o painel vai discutir o tópico “A voz do tradutor: diálogos
português-chinês”, seguindo-se, no dia 30, uma mesa-redonda sobre os materiais
didáticos de português na China. As conferências encerram no dia 3 de Dezembro,
com uma discussão sobre “Português na Universidade Chinesa: Rumos e desafios”. In “Ponto
Final” – Macau com “Lusa”
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