Macau, China -- O investigador
português Raul Leal Gaião lançou hoje o dicionário do crioulo de Macau, o
patuá, que está "gravemente ameaçado de extinção", segundo a
Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
"O principal objetivo é
dar, pelo menos, a conhecer, a revisitar e a tentar descobrir o crioulo,
nomeadamente à comunidade macaense, já que neste momento praticamente ninguém
[o] fala", sublinhou o autor à agência Lusa, em Macau, onde é apresentada
a obra.
O dicionário é feito a partir
de um levantamento dos escritos de José dos Santos Ferreira, mais conhecido por
"Adé", macaense que viveu no século XX e escreveu em patuá.
"Chamei-lhe dicionário
porque, de facto, tem normalmente exemplos ou abonações retirados desses textos
e funciona exatamente como dicionário", explicou o investigador, que
destacou ter utilizado ainda estudos anteriores, glossários, aos quais faz
"referências constantes".
Raul Leal Gaião assegurou que
a investigação traz algumas novidades e deu como exemplo o termo, 'catchi bachi', que os estudiosos não
conseguiam detetar a origem.
"Significa uma coisa que
já não presta e que não tem utilidade (...). É um termo espanhol, [nome de] uma
terra de fronteira que fazia muito contrabando com Espanha", referiu,
adiantando a hipótese de ter chegado a Macau a partir das Filipinas.
Há quase uma década, a UNESCO
classificou o 'patuá', o crioulo português de Macau, como língua
"gravemente ameaçada", o último patamar antes de uma língua se
extinguir por completo.
De acordo com a linguista de
Singapura Nala H. Lee, em declarações à Lusa no final de 2018, atualmente menos
de 50 pessoas sabem falar 'patuá', usado apenas em "domínios específicos,
como em cerimónias, músicas, orações ou em atividades domésticas".
Na mesma altura, o advogado
Miguel de Senna Fernandes e responsável há 25 anos pelo grupo de teatro Dóci
Papiaçám di Macau, que se tem assumido como um veículo para a preservação do
patuá, frisou que a situação em Macau difere em muito de Malaca e de Korlai,
onde a comunidade lusodescendente "ainda faz muitos esforços" para
manter os crioulos de influência portuguesa.
Raul Leal Gaião é licenciado
em Filosofia pela Universidade de Lisboa, e em Ciências Literárias pela
Universidade Nova de Lisboa, e mestre em Língua Portuguesa e Estudos
Linguísticos pela Universidade de Macau. Investigador nas áreas da Lexicologia,
Dialetologia e Crioulística, colaborou na redação do 'Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa' e do 'Dicionário Global da Língua Portuguesa'.
O lançamento da obra está
inserido no programa do Festival Literário de Macau-Rota das Letras, fundado
pelo jornal local em língua portuguesa Ponto Final, que se realiza desde 2011 e
que termina no dia 24. In “Sapo Timor-Leste” com “Lusa”
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