Nestes tempos de incertezas, uma boa recomendação é estudar as
razões que levaram a China a se tornar a segunda maior economia do mundo com
condições de se tornar a primeira até 2030, segundo estudo do HSBC Holdings plc,
banco global com sede em Londres. Uma delas – e talvez a principal – foi a
política de formação e qualificação dos quadros dirigentes, que privilegiou o
mérito e o conhecimento técnico para o desempenho de uma função pública, a
chamada meritocracia, uma preocupação que vem desde os tempos imperiais, mas
que continuou presente com a ascensão do Partido Comunista. No Brasil,
infelizmente, o que sempre se viu foram indicações políticas para cargos
públicos, geralmente, de pessoas desqualificadas para as funções.
Depois de 40 anos de êxitos econômicos, o que se vê agora é a
China procurando abandonar a política de exportações maciças de mercadorias de
baixa qualidade – que tornou o slogan made
in China sinônimo de má qualidade – para substituí-las por vendas de
produtos de alto valor agregado, com inovação e tecnologia de ponta. Para
tanto, aposta na importação de matéria-prima de países em desenvolvimento, como
o Brasil, abrindo negócios em todo o planeta que lhe garantam o abastecimento.
Diante disso, não se vê o Mercosul com uma estratégia de longo
prazo para lidar com essa política asiática, sem deixar de lado o intercâmbio
com outras potências econômicas, como Estados Unidos, Canadá e União Europeia.
Aliás, a palavra que mais tem caracterizado a atuação do Mercosul nos últimos
anos é inércia, pois não participa daqueles grandes acordos e até de tratados
regionais que costumam definir o futuro das relações internacionais.
Também não se tem visto uma estratégia comum do Mercosul para
enfrentar a atual guerra comercial entre Estados Unidos e China, que,
provavelmente, não será de curto prazo. Ainda que não seja obrigado a tomar
partido nessa guerra, o Brasil e outras economias dependentes estão mais
expostas aos reflexos negativos dessa contenda, até porque o aumento de
barreiras entre dois dos maiores mercados começa a diminuir os fluxos
comerciais no mundo, provocando uma desaceleração do crescimento econômico
global.
Seja como for, é fundamental para o Brasil e, portanto, para o
Mercosul, que o diálogo comercial com a China e com os Estados Unidos seja
mantido em alto nível. Em 2018, as exportações brasileiras para a China
cresceram 32% (US$ 66,6 bilhões), para a União Europeia, 20,1% (US$ 41,1
bilhões) e para os Estados Unidos, 6,6% (US$ 28,8 bilhões), em comparação com
2017, o que mostra um desempenho positivo. Já para a Argentina, principal
parceiro comercial do Brasil na América Latina, as exportações caíram 15,5%
(US$ 14,9 bilhões), especialmente em função da redução nas vendas do setor
automotivo.
O que se prevê é que a continuação da guerra comercial entre Estados
Unidos e China vai tornar inevitável a reformulação do próprio sistema
multilateral de comércio, ou seja, da Organização Mundial do Comércio (OMC),
que foi a plataforma internacional que o Brasil mais utilizou nos últimos 20
anos para fazer valer seus interesses sobre as políticas protecionistas
europeias e, principalmente, norte-americanas. Se isso ocorrer, parece claro
que a alternativa será a intensificação das relações bilaterais ou regionais,
como defende o governo norte-americano.
Nesse caso, o Brasil tem muito a perder, pois, atrelado ao
Mercosul, protelou o quanto pôde o incremento de negociações bilaterais e
regionais, apostando no sistema multilateral. Uma aposta errada que mostra a
falta que fazem gestores públicos mais qualificados, capazes de antever os
desdobramentos políticos e desenvolver estratégias capazes de contemplar todas
as alternativas. Milton Lourenço -
Brasil
__________________________________________
Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas
e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário