Cox's Bazar, Bangladesh - O
coordenador de emergência da Organização Internacional para as Migrações (OIM)
para a crise Rohingya no Bangladesh, Manuel Marques Pereira, gostava de ver
mais portugueses envolvidos e a ajudar nesta questão.
"Mais portugueses deviam
tentar (integrar a ajuda humanitária internacional). Nós precisamos de mais
portugueses no mundo. Contribuir e aprender que há muito que podemos levar para
Portugal, mas muito que podemos contribuir para a humanidade em geral",
diz o responsável, em entrevista à Lusa no âmbito de um documentário para uma
bolsa de exploração da Nomad.
O dirigente humanitário, que já esteve em
respostas a crises em Timor-Leste, Paquistão, Filipinas, Moçambique e Iraque,
refere-se ao auxílio no terreno, nos vários campos de Kutupalong, na região de
Cox's Bazar, Bangladesh, mas também ao apoio em forma de pressão pública
mediática sobre os governos.
O coordenador da OIM insiste
na importância do tema "continuar no topo das agendas" dos diversos
governos, bem como nos cidadãos contribuírem financeiramente para as
organizações não governamentais (ONG) a atuar nesta crise no Bangladesh.
"A forma mais eficaz das
pessoas ajudarem é continuarem a discutir o problema, chamarem a atenção para o
problema, criarem pressão política ao governo em Portugal e no governo da União
Europeia. Para que junto das instâncias multilaterais se possa continuar a
fazer pressão para que este problema no futuro seja resolvido nas suas raízes,
nas questões que originaram este deslocamento em massa", explica.
Cerca de 750 mil membros da
comunidade rohingya, muçulmana, fugiram para o Bangladesh desde agosto de 2017,
após um ataque de um grupo insurgente a postos militares e policiais que levou
a uma ofensiva militar pelo exército de Myanmar (antiga Birmânia), país de
maioria budista, no Estado ocidental de Rakhine.
A violência, descrita pela ONU
como limpeza étnica e um possível genocídio, incluiu o assassínio de milhares
de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias
aldeias, provocando uma das crises humanitárias mais graves do início do século
XXI.
Aos compatriotas mais
entusiasmados com o labor de campo, Manuel Marques Pereira incentiva-os a
avançar, seja qual for a sua experiência de formação académica ou profissional,
pois revela-se "contrário à ideologia do perfil".
"Tenho muitas
dificuldades com a lógica de que os trabalhadores humanitários precisam de um
currículo, de uma formação específica. Acho que são a agregação de muitas
profissões, de muitas perspetivas e muitas capacidades. Essa diversidade é que
nos dá a adaptabilidade e resistência de podermos trabalhar, porque não somos
formatados, não somos um grupo coeso", justifica.
Ao invés, sublinha que o
fundamental é que haja "dedicação e querer", uma vez que, avisa,
"a vida de um expatriado não é fácil": "Mas quando as pessoas
têm vontade e vocação, vontade e capacidade de absorver esta diversidade que
existe neste meio, isso é meio caminho andado".
Na região de Cox's Bazar, onde
se encontram os campos de refugiados, trabalham cerca de 3000 humanitários
internacionais a dar resposta, juntamente com equipas locais, a uma problemática
que atinge entre um a 1,2 milhões de rohingya.
Desde que a nacionalidade
birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas
restrições: entre outras, não podem viajar ou casar sem autorização, não têm
acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
In “Sapo Timor Leste” com “Lusa”
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