Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 1 de março de 2019

Macau - Os rostos portugueses deixados na Ásia, fotografados por João Palla

O arquitecto João Palla está há dois anos a fotografar os rostos luso-descendentes herdados pela Ásia ao longo dos séculos e vai, no próximo mês, mostrar as caras dos macaenses na Universidade de Aveiro. A exposição “Retratos de Luso-Asiáticos de Macau” acontece a propósito de um congresso sobre as relações entre Portugal e a China. Para João Palla, os rostos dos macaenses mostram bem “a mistura entre a cultura chinesa e a cultura portuguesa”



Serão 19 os rostos dos macaenses a ser expostos na Universidade de Aveiro entre os dias 13 e 15 de Março. Além desses, haverá ainda lugar para outras 80 fotografias, em formato reduzido. Esta exposição dos rostos macaenses é uma parte do trabalho desenvolvido por João Palla ao longo de dois anos, em que vem fotografando as feições deixadas pelos portugueses em toda a Ásia. “O que me interessou foi constatar que embora passados 300, 400 ou 500 anos, os rostos nestas comunidades luso-descendentes são ainda diferenciados, o que dá como resultado rostos muito interessantes e muito bonitos”, explica o arquitecto ao Ponto Final.



Esta é uma “mini-exposição”, como descreve João Palla, que surge no contexto do 2.º Congresso Internacional da Universidade de Aveiro e que tem por tema “Diálogos Interculturais Portugal-China”. Para ilustrar as relações entre Portugal e a China, nada melhor do que apresentar os rostos dos luso-descendentes de Macau: “Fazia sentido mostrar os luso-asiáticos especificamente de Macau, é a mistura entre a cultura chinesa e a cultura portuguesa”. Em Aveiro serão apresentadas 19 fotografias em formato grande e outras 80 em formato mais reduzido. “Os rostos têm uma sequência, tenho pessoas da mesma família, tenho pais, filhos e netos. Achei interessante colocar diferentes gerações na exposição. Por outro lado, tenho pessoas mais idosas, a crianças, jovens e adultos, mulher e homens. Tenho um bocadinho de tudo. Apesar de serem somente 19 fotografias, tentei que tivessem o maior espectro possível”, explica o arquitecto, que desde 1982 tem vivido entre Macau e Portugal.

As fotografias dos traços macaenses inserem-se num projecto mais alargado de João Palla, que anda há dois anos a fotografar as faces dos luso-descendentes na Ásia, desde o Myanmar à Indonésia, passando pela Tailândia. No total, serão mais de 500 os retratos feitos pelo arquitecto inseridos neste projecto. “Esta exposição centra-se só nos luso-descendentes de Macau, apesar de já ter registos de outros sítios, como o Myanmar, como Goa, na Tailândia também há comunidades de luso-descendentes que são diferentes, Indonésia, Malaca”, exemplifica, salvaguardando que “este projecto ainda não acabou”. “Ainda há sítios que eu quero visitar, falta-me ir a Timor-Leste e falta-me ir às Flores”, ilha indonésia a Leste de Java, onde os portugueses se estabeleceram no início do séc. XVI.



João Palla explica que foi no Myanmar que o projecto nasceu. “Este projecto começou no Myanmar, numa viagem que fiz a umas aldeias que existem no Norte do Myanmar de luso-descendentes. Nem levava em ideia fazer este projecto”, conta, lembrando: “Estive dois ou três dias nessa aldeia e fotografei umas dezenas de pessoas quase involuntariamente. É interessante ver a fisionomia do rosto das pessoas, essas pessoas são identificadas não propriamente como birmaneses, eles já vêm com estas misturas desde há muitos séculos e ainda se notam hoje em dia. Foi isso que me interessou, essa diferença na fisionomia”.

“O que me inspira é a beleza humana, é a constatação de que, independentemente das guerras e das vicissitudes da história, passados 500 anos, estas comunidades mantêm uma coesão e os seus traços identitários, neste caso, fisionómicos. Foi só mesmo isso que me interessou captar”, conta o arquitecto, sublinhando: “O que me interessou foi constatar que, embora passados 300, 400 ou 500 anos, os rostos nestas comunidades luso-descendentes são ainda diferenciados, o que dá como resultado rostos muito interessantes e muito bonitos. Fiquei apaixonado pela beleza humana desta história”.



Apesar do projecto, João Palla não se considera fotógrafo: “Não me considero fotógrafo e normalmente uso a fotografia para apoio do meu trabalho enquanto arquitecto. Fotografar rostos é uma coisa complicada, isto foi uma aventura no campo dessa especificidade na fotografia, eu nunca o tinha feito”. “Vejo isto como uma experiência e como uma recolha, não vejo como um trabalho artístico fotográfico, nesse sentido mais intelectual da coisa”, acrescenta.

João Palla é neto de Victor Palla, fotógrafo reconhecido internacionalmente pelo livro de fotografia “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”, em co-autoria com Costa Martins. Questionado sobre se o interesse pela fotografia vem do avô, João Palla respondeu que “talvez um bocadinho, sim”. “Mas não penso muito nisso, ele é uma referência para mim, mas isso não impede de eu seguir o caminho que acho que tenho de fazer, independentemente daquilo que ele fez”, diz, recordando que também Victor Palla fez retrato: “Ele também fez retratos, tem piada, sobretudo de pessoas do círculo de amigos dele, que nunca mostrou, nunca publicou. Eram retratos mais intimistas, de amigos e família”. Questionado sobre se teve em conta esses retratos neste seu projecto, João Palla diz que “não, são premissas completamente diferentes”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

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