A
exposição pode ser visitada até 19 de maio no Museu de Artes de Thun. De 7 de
junho a 18 de agosto ela vai à Áustria (Museu de Arte Lentos, Linz) e, de 11 de
outubro a 20 de janeiro, Alemanha (Coleção Prinzhorn, Heildelberg)
Entrar em uma clínica
psiquiátrica no início do século 20 era fácil. Sair, era difícil. Muitos
pacientes usaram a arte para manter contato com o mundo exterior. O Museu de Arte de Thun conta esse
capítulo da psiquiatria suíça através de uma exposição.
A terapia através da arte não
existia entre 1850 e 1930. Todavia os pacientes abrigados nas diversas clinicas
psiquiátricas do país encontraram formas de exprimir a sua criatividade.
Pesquisadores da Escola de
Arte de Zurique exploraram os arquivos de 22 instituições na Suíça, entre 2006
e 2014. Com o material, criaram uma base de dados repertoriando cinco mil obras
de pacientes. Agora elas podem ser consultadas no Instituto Suíço para o Estudo
da Arte. A exposição "Extraordinário!" apresenta uma seleção de 180
dessas criações no Museu de Arte de Thun, cidade localizada ao sul de Berna.
As obras mostram a vida nas
clinicas, onde muitos viviam em completa isolação. Por volta de 1850, as
pessoas que sofriam de doenças psíquicas passaram a ser reconhecidas como
enfermas. "Então essas clinicas se multiplicaram e cada vez pessoas eram
internadas", lembra Katrin Luchsinger, historiadora da arte e chefe de
projeto.
Viver
e morrer na clinica
O internamento não era visto
como uma solução de curta temporada. Os pacientes ficavam nas clinicas
geralmente até morrer. "A abordagem na época era de afastar essas pessoas
dos meios em que viviam e de suas atividades normais", constata a
especialista. Através do desenho, pintura, bordado ou outros trabalhos manuais,
os pacientes conseguiam contar como era a sua nova vida.
O isolamento é tematizado em
inúmeras obras expostas. Uma paciente desenha em um caderno a sua casa. Em
outra página, seu quarto é reproduzido tão detalhista, que chega a mostrar um
outro escritório onde ficou depositado o caderno no qual estava trabalhava. As
janelas estão abertas. Os raios do sol iluminam o interior da peça e tudo está
bem organizado. Ao lado, ela escreve: "Estou na clínica e não sei mais
onde estão as minhas coisas. Tudo está em caixas."
Os desenhos e os textos dessa
paciente emocionaram Katrin Luchsinger. "Muitos pacientes viveram o
internamento como uma perda dos sentidos. Eles não se encontravam mais e tinham
medo, o que podemos compreender", comenta.
Condições
difíceis, mas não desumanas
Por um lado, a vida em uma
instituição para doentes mentais em 1900 poderia ser comparada à uma prisão. No
entanto, o historiador de arte aponta que a psiquiatria suíça não era desumana
e até teve sucessos: "Uma psiquiatria inovadora foi desenvolvida no país.
Muitos especialistas estavam interessados em compreender o que os seus doentes
sofriam. Por isso que tantos desenhos foram preservados.
No entanto, os pacientes não
dispunham de muitos materiais para criar suas obras: papel barato, embalagens
ou outros elementos improvisados eram o que encontravam. A falta de recursos
transparece nas obras expostas: "Os trabalhos são apresentados em pequenos
formatos e poucas cores são usadas", explica Katrin Luchsinger. A
historiadora supõe que os pacientes teriam desejado receber mais apoio.
Apesar de tudo, a arte
encontrou seu caminho e permitiu que milhares de pacientes tivessem uma válvula
de escape. In “Swissinfo” - Suíça
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