Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 28 de março de 2019

Quénia – Quem é o professor eleito “o melhor do mundo”

Um professor de ciências da zona rural do Quénia, que doa a maior parte de seu salário para apoiar os alunos mais pobres, ganhou um prémio de US$ 1 milhão ao ser eleito o melhor professor do mundo



Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o “Global Teacher Prize de 2019”, conferido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.

Tabichi foi elogiado pelas suas realizações numa escola sem infraestrutura, no meio de classes lotadas e poucos livros didáticos.

Ele quer que os alunos vejam que "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.

O prémio, anunciado numa cerimónia no Dubai, reconhece o compromisso "excepcional" do professor com os alunos numa parte remota do Vale do Rift, no Quénia.

Ele doa 80% do seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, na aldeia de Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam pagar pelos seus uniformes ou material escolar.

Melhorando a ciência

"Nem tudo é sobre dinheiro", diz Tabichi, cujos alunos são quase todos de famílias bem pobres. Muitos são órfãos ou perderam um dos pais.

O seu objetivo é que os estudantes tenham grandes ambições, além de promover a ciência, não apenas no Quénia, mas em toda a África, afirma.

Ele venceu entre outros dez mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, ficou entre os 10 finalistas, que ensina matérias de tecnologia numa área carenciada de São Paulo, no Brasil, ou José Jorge Teixeira, professor de Física e Química da escola secundária Dr. Júlio Martins em Chaves, Portugal, que abandonou uma carreira de sucesso na Universidade de Trás-os-Montes como professor de Física, ficando entre os 50 finalistas.



Mas Tabichi diz que enfrenta "desafios com as instalações precárias" da sua escola, inclusive com a falta de livros ou professores.

"A escola fica numa área muito remota. A maioria dos estudantes vêm de famílias muito pobres. Até chegar o pequeno almoço da manhã é difícil. Eles não conseguem concentrar-se, porque não se alimentaram o suficiente em casa", contou em entrevista publicada no sítio do prémio.

As classes deveriam ter entre os 35 e 40 alunos, mas ele acaba ensinando grupos de 70 ou 80 estudantes, o que, segundo o professor, deixa as salas superlotadas.

A falta de uma boa conexão de internet faz com que ele vá até um café para reproduzir os materiais necessários para as suas aulas de ciências. E muitos dos seus alunos andam mais de 6km em estradas ruins para chegar à escola.

No entanto, Tabichi diz que está determinado a dar aos alunos uma oportunidade de aprenderem sobre ciência e ampliarem os seus horizontes.

Os seus estudantes foram bem sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prémio da Real Sociedade de Química do Reino Unido.

Fora da sala de aula

Tabichi diz que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que o leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola.

Ele tenta mudar a mentalidade dos pais que esperam que as suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as meninas a continuarem os seus estudos.

O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.

"Insegurança alimentar é um grande problema, então, ensinar novas maneiras de plantar é uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey.

Além do contato com as famílias, a atuação de Tabichi estende-se aos "clubes da paz" que ele organiza na escola, para representar e unir as sete tribos ali presentes. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.

"Para ser um grande professor tem que ser criativo e abraçar a tecnologia. Realmente tem que abraçar essas formas modernas de ensino. Tem que fazer mais e falar menos", disse ele à fundação.

O prémio

O prémio que lhe foi conferido procura elevar o estatuto da profissão de docente. O vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres, Andria Zafirakou.

O fundador do prémio, Sunny Varkey, diz esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quénia e em todo o mundo, diariamente".

"As milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme impacto que eles têm em as nossas vidas", concluiu. Sean Coughlan – Reino Unido in “BBC News”

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