Na primeira entrevista que deu ao LusoJornal, quando assumiu as funções de Embaixador de Portugal em França, José Augusto Duarte disse que uma das suas prioridades era a questão do ensino da língua portuguesa neste país. Mais tarde, numa outra entrevista dizia que o Senegal tem mais alunos a aprender português do que a França. Agora, no fim da sua missão em território francês e antes de assumir funções de Embaixador de Portugal em Madrid, considera que, nesta questão do ensino de português “ainda não estamos lá”.
Já noutras alturas, José Augusto Duarte tinha deixado entender que não estava satisfeito com este ponto da relação bilateral entre os dois países.
Portugal continua “preso” a um Acordo que foi assinado com a França ainda antes do 25 de Abril e que, apesar de ter sido revisto várias vezes, não tem permitido um avanço substancial nesta matéria. “Na minha opinião ainda não estamos lá. Este é o acordo possível neste momento, mas na minha opinião não é uma plena reciprocidade de tratamento, ou seja, Portugal continua a fazer um investimento de mais de 20 milhões de euros para o ensino da língua francesa em Portugal, no ensino público, e gasta mais de 6 milhões de euros aqui em França para a divulgação do ensino da língua portuguesa, com um estatuto complicado, porque nem sempre é integrado plenamente dentro do ensino oficial. Em grande parte, são aulas complementares àquilo que é o currículo normal de cada aluno” confirma o Embaixador de Portugal.
“Hoje em dia, a língua portuguesa não pode ser reduzida apenas à Comunidade portuguesa. Na minha opinião, a língua portuguesa é uma língua internacional, de trabalho, é uma das línguas que mais cresce no mundo inteiro, em termos de falantes e era bom termos mais alunos de português em França, sejam eles de origem portuguesa ou não, pouco importa, o que interessa é que não faz sentido, na minha opinião, com a proximidade afetiva que existe entre Portugal e a França, com a proximidade até de valores que nós temos, haver um estudo tão fraco da língua portuguesa aqui” assume José Augusto Duarte. “Isso também não é um trabalho para que se modifique de um dia para o outro, leva certamente anos, temos que contribuir pouco a pouco para esse objetivo”.
Mas o Diplomata português considera também que “é importante nós termos um debate interno em Portugal sobre o que queremos para a língua portuguesa em França: se é um acordo revisto como o acordo de 1970, que é essencialmente de carácter mais de assistência à Comunidade portuguesa e orientado para a Comunidade portuguesa, ou se queremos abdicar desse conceito e achar que hoje em dia a Comunidade portuguesa está também ela própria integrada dentro da sociedade francesa e então entrar no domínio da bilateralidade completa e da reciprocidade de tratamento”.
José Augusto Duarte considera que em Portugal isso ainda não está claro. “Há um debate, com correntes diferentes. Não tem a ver com partidos políticos. Dentro de cada partido existem correntes diferentes de pensamento sobre aquilo que se quer, que é uma atenção muito particular às Comunidades e ao mesmo tempo, querer também ter sentimento de reciprocidade. É um debate que temos que fazer e temos que consolidar e também estou convencido – estou firmemente convencido – que, quando um dia tivermos um consenso nacional, no nosso país, sobre o que queremos, aí estaremos maduros para combater aqui, para lutar por aquilo que queremos”.
José Augusto Duarte cessa esta semana as funções de Embaixador de Portugal em França. Carlos Pereira – França in “LusoJornal”
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