Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e do Instituto Pasteur, publicou recentemente o primeiro mapa celular do fígado embrionário, um órgão fundamental para o desenvolvimento das células estaminais do sangue ou hematopoiéticas. Os investigadores esperam que esta nova ferramenta contribua para a descoberta de mecanismos para multiplicar com sucesso células estaminais hematopoiéticas para uso terapêutico.
As células estaminais do sangue foram as primeiras células estaminais a serem isoladas e as primeiras a serem utilizadas com grande sucesso na prática clínica, nomeadamente nos transplantes de medula óssea para tratamento de mais de 80 doenças. Estas células estão presentes em zonas muito específicas da medula óssea do adulto e no sangue do cordão umbilical, mas, em ambos os casos, em número reduzido, o que limita o seu uso. Além disso, sempre que se tenta expandir o seu número fora do organismo (dividirem-se ex vivo) estas células começam a sofrer algum tipo de diferenciação, perdendo todo o potencial terapêutico inicial, ou seja, gerar de forma continuada qualquer outro tipo de célula.
É, por isso, urgente encontrar formas de multiplicar estas células em laboratório para que possam depois ser transplantadas com sucesso e em número. E isto depende de compreendermos quais os sinais e quais os controlos que as células vizinhas e o ambiente onde residem essas células exercem sobre elas ao ponto de as manterem neste estado.
As equipas de Perpétua Pinto-do-Ó, no i3S, e de Ana Cumano, no Instituto Pasteur, optaram por um caminho alternativo e decidiram estudar o fígado embrionário, local onde as células estaminais do sangue se desenvolvem antes de transitarem para a medula óssea, e conseguiu, pela primeira vez, mapear com detalhe a sua localização neste órgão do embrião.
“Se ao fim de tantos anos a medula óssea do adulto não nos tem dado uma resposta para a proliferação das células estaminais hematopoiéticas, talvez a solução esteja no fígado do embrião», adianta a primeira autora do trabalho, Márcia Mesquita Peixoto. Foi assim que “começámos a estudar em detalhe o microambiente em que estas células adquirem competências para reconstituir o sangue e o sistema imune do adulto e conseguimos não só mapear as populações conhecidas como também identificar novas populações das células do fígado embrionário e a sua localização relativa no tecido», acrescenta.
Estes resultados, explicam as investigadoras, representam “uma contribuição única para a compreensão do microambiente celular em que as primeiras células estaminais do sangue terminam a sua formação e aumentam o número em que irão estar disponíveis na medula óssea durante a vida adulta”.
A forma como o fígado embrionário se organiza, adiantam Perpétua Pinto-do-Ó e Ana Cumano, “é muito diferente da medula óssea. Por isso, talvez a chave para perceber o que controla a capacidade de divisão e o potencial regenerativo destas células poderá ser mais facilmente acedido se percebermos o que se passa no microambiente do fígado embrionário; talvez se encontre aqui a resposta que nunca foi encontrada na medula óssea. O primeiro passo, que foi a construção deste minucioso atlas celular, já está dado”.
Este trabalho, que resulta de mais de dez anos de investigação das duas equipas, foi capa da edição de fevereiro da prestigiada revista Journal of Experimental Medicine. Universidade do Porto - Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário