Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 18 de março de 2021

Macau - Morreu a Dona Aida, o símbolo da gastronomia macaense

A comunidade macaense e principalmente a sua gastronomia perderam ontem uma referência: Aida de Jesus. A fundadora do restaurante Riquexó morreu ontem aos 105 anos. A Dona Aida é agora recordada pela sua fibra e também pela sua simpatia. Miguel de Senna Fernandes diz mesmo: “A gastronomia macaense tem a Dona Aida como o seu símbolo. O símbolo físico deixou de existir e agora nasceu o mito”


Morreu ontem, aos 105 anos, Aida de Jesus, conhecida como Dona Aida, fundadora do restaurante Riquexó, nos anos 1980, e figura ímpar da comunidade macaense. Antes do Riquexó, Aida de Jesus passou pelas cozinhas do Hotel Lisboa e do Hotel Estoril, por exemplo. O velório está marcado para a próxima segunda-feira, dia 22 de Março, às 20 horas, na Casa Mortuária do Hospital Kiang Wu, perto do Canídromo.

Ao Ponto Final, Miguel de Senna Fernandes recorda a Dona Aida como uma “referência da comunidade macaense”. Além disso, era “uma senhora muito simples, uma cidadã comum mas que ganhou o respeito de todos”. Era também, considera o presidente da Associação dos Macaenses, “muito determinada”, “caso contrário, era impensável ter tido a projecção que teve”.

“A gastronomia macaense tem a Dona Aida como o seu símbolo. O símbolo físico deixou de existir e agora nasceu o mito”, afirma Miguel de Senna Fernandes, que destaca em Aida de Jesus características fora do universo da gastronomia: “A comunidade reconhecia nela uma pessoa muito respeitada e foi uma pessoa que inspirava o carinho de todos; tinha a sua personalidade e os seus momentos, mas, de uma maneira geral, foi sempre uma pessoa de sorriso franco e sem papas na língua”.

Além disso, o director dos Dóci Papiaçám di Macau assinala a disponibilidade de Aida no apoio à companhia de teatro macaense. “Tudo aquilo que ela podia fazer ela fazia: preparava comida, deixava à disposição o seu restaurante, ela emprestou o próprio nome. Ela entendia que isso era importante para a comunidade”, comenta.

Carlos Anok Cabral é o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense e também ele concorda que a Dona Aida, que é confreira de mérito, teve um papel determinante no que diz respeito à gastronomia da comunidade. “A Dona Aida dedicou toda a sua vida à comida macaense”, lembra, frisando: “É uma figura muito importante para a gastronomia macaense e na comunidade macaense, porque não há ninguém da comunidade macaense que não conheça a Dona Aida de Jesus”. A nível pessoal, o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense recorda o sorriso da Dona Aida, o humor e a sua dedicação às pessoas.

Opinião semelhante tem Florita Alves, ‘chef’ macaense do restaurante La Famiglia, na vila da Taipa. A cozinheira destaca o facto de Aida de Jesus nunca ter largado a gastronomia macaense, o que é “muito importante”. “A Dona Aida nunca abandonou Macau e nunca abandonou a cozinha macaense”, sublinha.

De Aida de Jesus, Florita Alves diz ter herdado a inspiração pela cozinha macaense. “Ela teve o papel de inspiração no meu coração, o que eu aprecio muito”, diz, acrescentando: “É uma mulher que nunca deixou a cozinha, sempre pronta a partilhar”. Florita Alves destaca-lhe a garra e o optimismo, e repete que morreu uma “figura incontornável” da comunidade macaense.

Luísa Rangel, amiga de longa data da Dona Aida, recorda que conheceu a cozinheira quando ambas eram crianças e que desde então sempre mantiveram a relação de amizade. Também ela destaca a simpatia de Aida e os seus dotes para a cozinha. Luísa Rangel confessa que ia comer ao Riquexó quase todos os dias.

Também Carlos Marreiros descreve Aida de Jesus como “uma figura incontornável na comunidade macaense e portuguesa de Macau”. Isto porque “era uma boa cozinheira, uma praticista, alguém que registava o saber e os segredos da comida tradicional macaense”.

Assinalando que Aida de Jesus atravessou marcos históricos como as duas guerras mundiais, a Revolta 1-2-3 e o ‘boom’ da indústria do entretenimento, o arquitecto macaense diz que a cozinheira era “uma memória viva da história de Macau e do seu desenvolvimento urbano e demográfico”. Em conclusão, Carlos Marreiros diz que a Dona Aida devia “ser mais estudada, para que a memória dela continue para as gerações vindouras”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com






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