África
tem-se mantido “relativamente resiliente” às infecções pelo novo coronavírus,
mas os impactos na economia de um continente fortemente dependente da China já
são significativos e poderão piorar, segundo uma análise do sul-africano
Institute for Security Studies (ISS).
“Embora
África tenha sido até agora relativamente resiliente em relação às infeções da
Covid-19, o contrário é válido quando se consideram os efeitos econômicos.
Apesar do impacto nos mercados financeiros ser quase imediato, é provável que
as consequências econômicas sejam mais profundas e durem significativamente
mais tempo”, apontou o centro de pesquisa, numa análise do seu consultor
associado Ronak Gopaldas.
O
também diretor da consultora especializada em África Signal Risk questionou:
“Será que as economias africanas vão resistir ao coronavírus?”
Para
Ronak Gopaldas, embora a taxa de infeções em África “tenha sido mínima até à
data, está a aumentar a preocupação de que a sua chegada em maior escala seja
iminente e que o continente não esteja adequadamente preparado para as suas
consequências”.
O
analista estimou que uma pandemia “afetaria desproporcionadamente África, dado
o seu setor de saúde relativamente subdesenvolvido, infraestruturas
insuficientes e fronteiras porosas”.
“As
consequências econômicas para o continente serão provavelmente graves e
duradouras. Muitos dos seus países têm uma elevada dependência das exportações
de mercadorias para a China, contas públicas fracas, elevados encargos com a
dívida e moedas voláteis, entre numerosas outras fragilidades externas”,
acrescentou.
O
consultor do centro com sede na África do Sul referiu como uma das primeiras
consequências, o enfraquecimento das moedas africanas, com o rand a
desvalorizar 5% em relação ao dólar e a moeda zambiana a perder mais de 3% para
o dólar.
“Moedas
mais fracas significam que o custo do reembolso e do serviço das dívidas em
obrigações emitidas em moeda estrangeira aumenta drasticamente”, salientou.
Outro
dos impactos significativos na economia africana far-se-á sentir, de acordo com
o consultor do ISS, no setor mineiro.
Ferro
(África do Sul), cobre (Zâmbia) e petróleo (Nigéria, Angola e Gana) têm sido os
setores mineiros mais atingidos, mas o analista do ISS estimou que setores como
a aviação, turismo e congressos e hotelaria serão “severamente afetados”, com
várias conferências e eventos a serem já cancelados.
África
do Sul, Maurícias, Madagáscar, Quênia, Tanzânia e Seicheles, países fortemente
dependentes do turismo, deverão ser os mais atingidos.
“É
impossível separar completamente os efeitos econômicos das questões políticas.
Embora o acordo sobre a zona de livre comércio em África (AfCFTA, na sigla em
inglês) ainda não tenha arrancado, quaisquer encerramentos de fronteiras ou
quedas dramáticas nos volumes de comércio podem deitar por terra as suas
ambições e desacelerar o crescimento africano a médio prazo”, frisou, por outro
lado, Ronak Gopaldas.
O
consultor alertou ainda para a possibilidade de aumento da xenofobia em relação
aos asiáticos, situação que, sustentou, “será exacerbada pelo aumento do
desemprego e competição por recursos escassos à medida que os volumes de
comércio se contraem”.
Ronak
Gopaldas considerou ainda que a epidemia de Covid-19 poderá “muito bem ser
usada como uma oportunidade para que os líderes em exercício no continente
adiem eleições nacionais programadas para 2020, numa tentativa de prolongar os
seus mandatos”.
Segundo
o Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças (AfricaCDC), da União Africana
(UA), que coordena a resposta técnica dos países africanos à epidemia,
atualmente há 80 casos de infeções pelo novo coronavírus registados em nove
países do continente.
A
epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de
3800 mortos.
Cerca
de 110 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países. Mais de 62
mil recuperaram.
Nos
últimos dias, a Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China,
com 366 mortos e mais de 7300 contaminados pelo novo coronavírus, que pode
causar infeções respiratórias como pneumonia. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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