Faleceu, na sexta-feira, aos 100 anos, Arnaldo de
Oliveira Sales, um dos fundadores da Federação Desportiva e do Comité Olímpico
de Hong Kong. Manuel Silvério, antigo presidente do Instituto do Desporto de
Macau, fala de “uma grande perda” dado o seu papel na criação de regulamentos e
na criação de importantes estruturas para o desporto. Já José Luís Sales
Marques recorda o que aprendeu com Oliveira Sales quando começou a desempenhar
funções no antigo Leal Senado e frisa o seu papel na comunidade macaense
Morreu,
na sexta-feira, Arnaldo de Oliveira Sales. Tinha 100 anos e foi uma das figuras
mais relevantes da comunidade portuguesa de Hong Kong, tendo estado à frente do
Club Lusitano ao longo de mais de três décadas e pertencido ao extinto Conselho
Urbano de Hong Kong, ao qual presidiu entre 1973 e 1981. Foi também o homem que
conseguiu que Hong Kong pudesse participar nos Jogos Olímpicos e chefiou a
delegação durante 11 edições consecutivas. Presidente do Comité Olímpico de
Hong Kong durante vários anos, ficou conhecido como o “senhor desporto”.
Manuel
Silvério, antigo presidente do Instituto do Desporto de Macau, fala de “uma
grande perda” uma vez que Oliveira Sales foi “um homem das leis” que criou uma
estrutura importante. “Para o desenvolvimento do desporto é muito importante
que haja pessoas a trabalhar nos regulamentos, nas leis, e no apaziguamento dos
conflitos existentes entre os mais diversos países”, frisou em declarações ao
Jornal Tribuna de Macau.
“Era
um homem muito firme, conhecedor de todos os assuntos desportivos”,
acrescentou. “No movimento olímpico internacional também era uma pessoa muito
respeitada por todos, exactamente porque muitas vezes fazia a balança dos mais
diversos interesses. Apesar de ser um homem firme, duro, por vezes, até diria
austero, as pessoas acabavam por lhe dar razão”.
“Para
mim ele foi um mestre, um homem que me inspirou em vários momentos. Na minha
actividade no desporto aprendi coisas com este senhor, além do meu primeiro
presidente do Comité Olímpico de Macau, Joaquim Morais Alves, também já
falecido. Ambos eram muito amigos e recordo com muita saudade momentos em que
nós os três passámos a falar de assuntos do desporto”, recordou Manuel
Silvério.
Por
sua vez, José Luís Sales Marques foca a importância de Arnaldo de Oliveira
Sales “na criação da ideia de comunidade macaense espalhada pelo mundo”.
Todo
o peso de Oliveira Sales devido aos cargos que desempenhava “serviu para unir e
criar essa ideia dos encontros macaenses, já nos anos 80”. “Nessa altura que Arnaldo
de Oliveira Sales era a referência máxima do encontro, ajudou muito também a
unir os macaenses espalhados pelo mundo e teve um papel muito importante, por
exemplo, nos Estados Unidos, mas não só, um pouco por todo o mundo”, destacou
Sales Marques em declarações à Tribuna de Macau.
“Como
actual presidente do Conselho das Comunidades Macaenses quero relevar a
importância que teve para essa ideia da consolidação das comunidades macaenses
espalhadas pelo mundo e da necessidade de trabalharmos em conjunto e
realizarmos os encontros e ter essa ligação forte a Macau”, sublinhou Sales
Marques.
“É
uma grande perda. É uma grande referência e uma figura maior de Hong Kong
também. Ele gostava sempre de identificar como um português do Oriente. Nunca
me hei-de esquecer dessa frase num dos discursos de abertura de um dos
Encontros”, acrescentou.
De
um ponto de vista mais pessoal, apontou Sales Marques, “além de uma amizade
prolongada e dos laços familiares, ele teve um papel muito importante” quando
passou a desempenhar funções no Leal Senado. “Quando fui para o Leal Senado, o
maior problema que tinha para resolver era o da limpeza de Macau e posso dizer
que a experiência de Arnaldo de Oliveira Sales como presidente do Conselho
Urbano foi fundamental a partir do momento em que tive uma conversa com ele
sobre essa matéria”.
José
Luís Sales Marques esteve presente na celebração dos 100 anos de Arnaldo de
Oliveira Sales, no dia 13 de Janeiro. “Nesse dia não pensava que ele fosse
embora tão depressa mas a partir de uma certa altura a saúde é muito frágil.
Mas ainda tive essa alegria e oportunidade de estar com ele quando celebrou os
100 anos”, destacou.
Por
sua vez, o presidente da Associação dos Macaenses, referiu que Arnaldo de
Oliveira Sales era um nome máximo da “diáspora macaense” e “uma figura de
destaque da comunidade portuguesa de Hong Kong”. “Recordo os primeiros
encontros das comunidades macaenses” em que Arnaldo de Oliveira Sales era “a
figura da diáspora macaense”, disse Miguel de Senna Fernandes à agência Lusa.
Nascido
em 1920 em Cantão, Arnaldo de Oliveira Sales foi um dos fundadores da Federação
Desportiva e do Comité Olímpico de Hong Kong, tendo sido presidente desta
instituição em 1972, durante os Jogos Olímpicos de Munique, marcados pelo
homicídio de 11 israelitas por parte de um grupo terrorista palestiniano. “A
equipa de Hong Kong estava no mesmo edifício que os israelitas. Ele negociou
com os terroristas, explicando que a equipa de Hong Kong nada tinha a ver com o
problema e os palestinianos concordaram” em soltá-la, recordou Miguel de Senna
Fernandes.
PR enaltece trabalho em nome de Portugal
Também
o Presidente da República portuguesa lamentou a morte do comendador Arnaldo de
Oliveira Sales, recordando “uma das figuras mais relevantes da comunidade
macaense e portuguesa” em Hong Kong. O Chefe de Estado apresenta “as mais
sentidas condolências à família” e acrescenta que “a sua memória ficará sempre”
associada “ao mundo desportivo, nomeadamente ao desporto olímpico”. Marcelo
Rebelo de Sousa recorda ainda “a lealdade às origens portuguesas e o trabalho
que desenvolveu em nome de Portugal”.
A
Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam prestou igualmente homenagem ao
homem que se “empenhou no desenvolvimento do desporto em Hong Kong ao longo da
sua vida e fez grandes contributos”.
Já
o secretário-geral honorário da Federação Desportiva e Comité Olímpico de Hong
Kong frisou que Oliveira Sales esteve “comprometido para com o desporto de Hong
Kong, mesmo a custo dos seus próprios negócios”. “Nunca vi alguém assim tão
dedicado”, salientou Ronnie Wong, que também que integrava a equipa olímpica de
natação de Hong Kong nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Olveira
Sales recebeu as mais altas condecorações de Portugal e de Hong Kong, ambas no
final da década de 1990, mas recusou ser nomeado cavaleiro britânico por
implicar abdicar da nacionalidade portuguesa. Inês Almeida – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau” com “Lusa”
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