Enquanto o caos dominava o cenário mundial com reflexos devastadores no
mercado brasileiro, com a Bolsa de Valores de São Paulo chegando a cair mais de
10%, obrigando operadores a suspender os negócios e acionar o chamado circuit
braker para maior reflexão sobre o momento, o presidente Jair Bolsonaro passeava,
sim, passeava nos Estados Unidos, para jantar na mansão do presidente Donald Trump. Mas, afinal, o que o presidente
foi fazer nos Estados Unidos? Jantar com Trump? Para quê?
Certamente, para ouvir que ele já ajudou muito o Brasil ao não aumentar
a tarifa sobre alguns produtos brasileiros, mas que, em pouco tempo, esse
privilégio deverá acabar. Realmente, não pode ser esse um dos motivos que levam
um chefe de Estado a se sujeitar a viajar até os Estados Unidos,
simplesmente para participar de um jantar no resort luxuoso de Trump, em
Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. Sinceramente, o Brasil não merecia ter o
seu mandatário submetido a esse tipo de constrangimento. Tristes tempos para a
nossa diplomacia.
É de se lembrar também que, à época, o
nosso ministro da Defesa visitou instalações militares norte-americanas, mas,
ao que se saiba, de prático, nada trouxe, a não ser a geração de imagens
para a imprensa. Sem contar que, com uma agenda "tão importante" nos Estados
Unidos, o presidente ainda teve tempo para visitar o atelier do artista
Romero Britto, que, como se sabe, pretende pintar um quadro com a figura do
ilustríssimo mandatário, além de projetar outro com a primeira-dama. Dizer o quê?
A total falta de noção e respeito pelo mandato
de presidente do Brasil é tão explícita que só pode ser explicada pelo despreparo
para o exercício do cargo, o que se tem confirmado com uma sucessão de atos
absurdos, como, por exemplo, levar um humorista que o imita para
responder às perguntas dos jornalistas que fazem a cobertura dos atos
do governo federal. De fato, ficou difícil separar o criador da criatura, pois
são duas faces da mesma moeda.
Nesse cenário desolador, agravado
pela epidemia de coronavírus, qualquer esperança, ainda que tênue, acaba
por se esvair, à medida que a economia chinesa está em desaceleração, provocando
também retração nas vendas brasileiras para aquele país, enquanto a intenção de
incrementar as exportações para o mercado norte-americano não passa de um sonho
de noite de verão, aliás, como se pôde sentir pela quantidade e qualidade dos
empresários que participaram da última palestra do presidente Bolsonaro em
Miami. Até porque os chineses, para dar continuidade aos negócios com os norte-americanos,
terão de importar mais produtos made in USA, inclusive no mesmo segmento
da pauta de exportações brasileiras, que inclui grãos, carnes e minério e ferro.
Dessa maneira, o
comércio exterior brasileiro continua em compasso de espera, o que não acontecia
há alguns anos, implicando em desaquecimento da economia com os resultados que se
vê, como níveis absurdos de desemprego e falta de perspectivas para aqueles
jovens que chegam agora ao mercado de trabalho. Em outras palavras: o que era esperança transformou-se em preocupação,
com os índices de crescimento agora revistos para baixo, não só por
organismos internacionais como também pelos próprios setores
econômicos brasileiros.
Diante disso, as perspectivas para as
operações de comércio exterior, já tão reduzidas nos últimos anos, quando havia
um clima de até euforia com a possibilidade de reaquecimento, chegam agora a
patamares ainda piores. Para se reverter esse quadro, portanto, é preciso rever
a atual política (?) de comércio exterior totalmente, ou seja, em suas
premissas e diretrizes básicas, e não apenas em seus pormenores, em especial em
relação aos produtos industrializados, sob pena de o País voltar a funcionar
apenas como fornecedor de matérias-primas, tal como era até o primeiro governo
de Getúlio Vargas (1930-1945). Milton Lourenço - Brasil
Milton
Lourenço é
presidente do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística
Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Exterior (trading
company), todas com matriz em São Paulo e filiais em vários Estados
brasileiros. E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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