O Governo determinou o encerramento das fronteiras com o
exterior. A medida visa os visitantes de todos os países, exceptuando os que
vêm do interior da China, de Hong Kong e de Taiwan. Residentes de Macau e
trabalhadores não-residentes também não estão abrangidos pela directiva. Os
residentes que chegam de zonas de alta incidência epidémica deixam agora de
poder cumprir a quarentena em casa. Um grupo de jovens que chegou de Portugal
foi levado para a Pousada Marina Infante e os pais alegam que foi pedido aos
menores que assinassem uma declaração de consentimento
A
entrada em Macau está proibida para todas as pessoas, à excepção de residentes
do interior da China, Hong Kong e Taiwan. A medida começou a ser aplicada às
zero horas de hoje, deixando também de fora titulares do BIR e trabalhadores
não-residentes. Na conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação de
Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, foi anunciado ainda que os residentes
que estão em zonas de alta incidência epidémica terão, obrigatoriamente, de
cumprir quarentena na Pousada Marina Infante ou nova unidade ontem designada, o
Hotel China Coroa d’Ouro, tendo em conta que, na pousada, será atingida em
breve a lotação máxima. Na madrugada de ontem, um grupo de jovens que chegava
de Portugal foi parado no aeroporto de Macau e encaminhado para isolamento, e
os pais alegam que só foram avisados três horas depois da chegada dos menores.
Os elementos do Governo acusaram os progenitores de não terem cooperado, mas estes
negam.
Através
de um despacho publicado ontem em Boletim Oficial, o Governo proibiu a entrada
em Macau “de todas as pessoas não residentes, com exclusão de residentes do
interior da China, da Região Administrativa Especial de Hong Kong e da região
de Taiwan, bem como de titulares do título de identificação de trabalhador não
residente”. É explicado, num comunicado divulgado durante a tarde de ontem, que
a medida se deve “à contínua propagação da epidemia pelo Covid-19 em todo o
mundo” e serve para “prevenir a importação de casos de infecção do exterior e
proteger a saúde dos residentes de Macau”.
No
despacho está previsto ainda que pode haver excepções, “por motivo de interesse
público”, em casos de “prevenção, controlo e tratamento de doenças, socorro e
emergência”, e também para quem possa garantir “a manutenção do funcionamento
normal de Macau ou das necessidades básicas de vida dos residentes, a
autoridade sanitária”.
Na
conferência de imprensa de ontem, as autoridades fizeram ainda saber que os
residentes de Macau que tenham estado, nos últimos 14 dias, em zonas de alta
incidência passam a ser obrigados a cumprir quarentena na Pousada Marina
Infante. Anteriormente, havia a possibilidade de ficarem em isolamento nas suas
casas. Os países de alto risco são: Portugal, Itália, Alemanha, França,
Espanha, Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia,
Grécia, Hungria, Islândia, Letónia, Lichtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta,
Holanda, Noruega, Polónia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia, Suíça, Reino Unido,
Irlanda, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Austrália, Coreia do Sul,
Japão, Irão e Egipto.
Há
ainda um grupo de países de risco médio, do qual fazem parte a Tailândia,
Vietname, Indonésia e Filipinas, por exemplo. Os residentes que vierem destes
destinos continuam a ter a possibilidade de fazer a quarentena em casa.
Pais alegam que filhos foram levados para quarentena sem
consentimento
Segundo
uma nota assinada por três encarregados de educação enviada às redacções, um
grupo de seis menores, residentes de Macau, que chegaram de Portugal na
madrugada de ontem, foram retidos no aeroporto durante três horas e depois
encaminhados para isolamento, para a Pousada Marina Infante, sem que os pais
tivessem sido inicialmente informados e tendo sido pedido aos menores que
assinassem uma declaração de consentimento.
Os
jovens, com idades entre os 13 e os 17 anos, chegaram às 3 horas da manhã de
ontem e, de acordo com os pais, não foram dadas quaisquer informações aos
encarregados de educação que já estavam no aeroporto à sua espera. Só depois
das 6 horas da manhã é que os pais terão conseguido falar com as autoridades,
tendo-lhes sido dito que os filhos iriam para a Pousada Marina Infante. Os pais
alegam que foi pedido aos jovens, todos menores, que assinassem uma declaração
de consentimento.
Leong
Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância
da Doença, disse na conferência de imprensa de ontem que, no aeroporto, as
autoridades falaram com os pais e que foram estes que se recusaram a assinar a
declaração de consentimento. “Uma vez que os encarregados de educação não
colaboraram, prejudicaram os nossos trabalhos e muitos turistas ficaram à
espera no aeroporto muitas horas”, afirmou Leong Iek Hou.
Versão
contrária têm os encarregados de educação. Ao Ponto final, Bruno Simões, um dos
pais contou: “Estivemos em contacto com os nossos filhos, a tentar entrar em
contacto com algum responsável através do telefone dos nossos filhos, a pedir
para falarmos com algum responsável. Não havia nenhum responsável que quisesse
falar connosco”. “Não podem pedir a menores para assinar declarações de
consentimento”, referiu Bruno Simões.
Segundo
o pai, os encarregados de educação receberam um novo contacto do Governo depois
das 16 horas, antes da conferência de imprensa. “Ligou-me hoje [ontem], antes
da conferência de imprensa, uma senhora dos Serviços de Saúde a pedir desculpa
pelo sucedido e a explicar que iam ficar 14 dias em quarentena”, referiu o pai.
“O Governo diz que nos recusámos a colaborar, que atrasámos o processo de
entrada e que nos recusámos a assinar [a declaração de consentimento]; isso é
tudo falso”, afirmou Bruno Simões, frisando: “Ninguém falou connosco, ninguém
nos pediu para assinar papel nenhum”.
Mais dois casos (importados) de infecção pelo Covid-19 durante o dia
de ontem
Subiu
para 13 o número total de infectados pelo novo coronavírus em Macau. Na manhã
de ontem foi diagnosticado um cidadão espanhol que apresentou sintomas e foi
detectado ainda no aeroporto. Já à noite, foi diagnosticado o 13.º caso, numa
mulher de 20 anos, residente de Macau, que vinha do Reino Unido. O espanhol tem
47 anos, é empresário e, segundo as informações dos Serviços de Saúde, tinha
chegado a Macau em negócios. Aterrou, proveniente de Moscovo, às 20 horas de
segunda-feira. No posto fronteiriço do aeroporto, o pessoal dos Serviços de
Saúde detectou febre e o homem foi levado para o Centro Hospitalar Conde de São
Januário para fazer exames. No voo de Moscovo para Macau só estavam cinco
tripulantes e cinco passageiros. Dois dos tripulantes foram considerados
contactos próximos e foram encaminhados para observação médica. Na tarde de
ontem foi ainda anunciado um 13.º caso de infecção, numa residente de 20 anos,
estudante em Londres. A mulher viajou de Inglaterra, passando por Kuala Lumpur,
e aterrou em Hong Kong. No lado de Macau da Ponte do Delta, foi-lhe detectada
febre e foi encaminhada para o hospital público, onde foi confirmada a infecção
por Covid-19. Em ambos os casos, o estado de saúde é considerado normal. Na
conferência de imprensa, foi adiantado que, no caso da cidadã da Coreia do Sul
diagnosticada no domingo, ainda não foram identificados os passageiros do mesmo
voo. “Se calhar, há pessoas que estiveram sentadas ao lado dela que estão em
Macau, mas não sabemos”, afirmou Leong Iek Hou. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
andrevinagre.pontofinal@gmail.com
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