Leptoglossus
occidentalis, insecto semelhante a um grilo, suga o miolo da pinha. Autoridades
nacionais assinaram em Alcácer do Sal uma parceria para avaliar os danos e
definir o plano de combate à praga.
A produção de pinhão em
Portugal caiu para menos de metade nos últimos quatro anos, devido à praga de
Leptoglossus occidentalis, um insecto, de aparência semelhante ao grilo, que
está a afectar a floresta nacional de pinheiro manso, queixam-se os produtores
e industriais do sector.
Segundo o presidente da
Associação dos Industriais de Miolo de Pinhão (AIMP), antes da chegada da praga
a território português, há cerca de cinco anos, depois de estar já declarada
noutros países mediterrânicos como Espanha e Itália, a indústria nacional de
descasque do pinhão trabalhava 120 mil toneladas de pinhas por ano e produzia
cerca de 4 mil toneladas. A produção de miolo de pinhão que, em mais de 90 por
cento, destinava-se à exportação para países como a Itália, Estados Unidos da
América ou Alemanha, chegou a valer aproximadamente 160 milhões de euros por
ano.
Actualmente a produção de
pinhão descascado fica-se por menos de metade, porque o miolo extraído de cada
pinha sofreu uma redução substancial.
“Antigamente, de 100 quilo de
pinhas retirávamos quatro quilos de pinhão e agora, dos mesmos cem quilos de
pinhas obtemos somente 1,2 ou 1,3 quilos de miolo”, disse ao PÚBLICO Hélio
Cecílio, industrial do sector e presidente da AIMP.
A restante quantidade de miolo
é consumida pelo Leptoglossus occidentalis. O insecto, com uma grande
capacidade reprodutiva, tem um lábio sugador, injecta um líquido ácido para o
interior do pinhão e consegue depois chupar os nutrientes do miolo.
“Só sabemos que pinhas estão afectadas
quando as abrimos na fábrica”, diz Paulo Lopes, representante da Preparadora de
Pinhão, uma das indústrias de descasque a operar em Portugal. E acrescenta:
“Nós, os fabricantes, pedimos às autoridades nacionais competentes para tomarem
as medidas necessárias à erradicação da praga, urgentemente, mas os resultados
têm sido muito lentos”.
Além de rendimento, a
indústria queixa-se de estar a perder mercado por falta de competitividade.
“Agora temos muito mais custos para produzir muito menos e, como o pinhão
nacional escasseia, o preço sobe”, explica Hélio Cecílio, concluindo que a
situação “é má, para a fileira do pinhão, que concorre com produtos da China e
do Paquistão sem qualidade e de higiene duvidosa, sem sabor, que chegam ao
mercado a preços muito mais baixos”.
O problema é conhecido das
entidades competentes, que assinaram esta semana, em Alcácer do Sal – concelho
que acolhe o recentemente criado Centro de Competência do Pinheiro Manso e
Pinhão (CCPMP) -, um protocolo de cooperação para avaliação dos danos e adopção
de medidas de controlo da praga.
O Instituto Nacional e
Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), o Instituto de Conservação da
Natureza e das Florestas (ICNF), a Direcção Geral de Alimentação Veterinária
(DGAV), o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (ISA) e a
União da Floresta Mediterrânica (UNAC), com a colaboração dos industriais do
sector e do Município de Alcácer do Sal, comprometem-se a trabalhar em conjunto
para “quantificar os danos causados pelo Leptoglossus occidentalis no
território continental” e a elaborar o “plano de acção nacional de controlo” da
praga.
Objectivos fixados no
documento em que as seis entidades reconhecem “a necessidade de implementar no
terreno uma estratégia para a monitorização e o controlo urgente das
populações” deste insecto.
De acordo com o protocolo
assinado, o plano nacional a adoptar passará por sensibilização e informação de
proprietários e produtores florestais, controlo da praga através de luta
química e luta biológica, medidas de apoio, incluindo financeiro, ao sector, e
pela investigação científica do fenómeno.
O pinheiro manso ocupa em
Portugal uma área total de 176 mil hectares, sendo a espécie florestal que mais
cresceu desde o inventário florestal nacional de 2005, com um incremento de
54%. Representa já cerca de seis por cento da floresta de todo o país.
Urgência
na acção
A necessidade de medidas
práticas urgentes, no combate à praga, é reconhecida por todas as entidades
ligadas à problemática e sublinhada, também pelos responsáveis políticos.
O secretário de Estado
Secretário de Estado da Alimentação e Segurança Alimentar, Nuno Vieira de
Brito, que esteve presente na cerimónia de assinatura do protocolo de parceria,
pediu celeridade a todas as partes envolvidas.
“É importante que cheguemos a
resultados rapidamente e que esses resultados se reflictam para o produtor”,
afirmou o governante, para quem o facto de “o protocolo ter validade de um ano
significa que todos vão tentar resolver o problema num curto período de tempo”.
Vieira de Brito chamou a
atenção para a existência de linhas de financiamento público disponíveis, no
âmbito do programa comunitário Portugal 2020, e pediu aos responsáveis das
instituições envolvidas que “dêem tudo, mesmo tudo, para que se consiga, no
tempo mais curto possível”, combater a praga.
O presidente da Câmara
Municipal de Alcácer do Sal, que tem sido um dos principais impulsionadores das
iniciativas mais recentes no domínio da pinha e do pinhão – como a criação do
CCPMP e assinatura do protocolo – pediu também rapidez na adopção de medidas
práticas na luta contra o insecto.
“São necessários estudos,
análises e investigação, mas é preciso também acção. Só observação não chega”,
avisou Vítor Proença.
O autarca salientou a
importância da fileira do pinhão para Alcácer do Sal, o vale do Sado - o
Alentejo é a origem de 67% das pinhas produzidas em Portugal e de 15% das que
são produzidas em todo o mundo -, e para a economia nacional.
Vítor Proença recordou ainda
que já foi entregue à tutela, em Junho passado, o pedido de classificação do
“Pinhão de Alcácer do Sal” como Denominação de Origem Protegida (DOP).
A Denominação de Origem
Protegida (DOP) é a classificação comunitária de um produto cuja produção,
transformação e elaboração ocorrem numa área geográfica delimitada, com um
saber fazer reconhecido e verificado. O registo de DOP proíbe imitações,
concorrência desleal e usos indevidos dos produtos ou marcas. Alves Rito – Portugal in "Jornal Público"
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