SÃO PAULO – Se não bastasse o
imobilismo que caracterizou a diplomacia brasileira em relação ao comércio
exterior nos últimos 13 anos, várias nações com as quais o Brasil tradicionalmente
mantém intercâmbio movimentaram-se e acabam de formalizar o Tratado
Transpacífico de Comércio Livre (TPP). Depois de quase cinco anos de
negociação, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova
Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã concluíram um acordo que
suprime taxas alfandegárias em suas transações e define padrões técnicos
unificados.
E o Brasil? Cálculos
preliminares indicam que as exportações brasileiras para esses países – a hoje,
ao redor de US$ 54 bilhões – deverão cair pelo menos 3%, especialmente nas
áreas de minérios, commodities
agrícolas e produtos industrializados. Só em manufaturados foram US$ 31 bilhões
exportados – o equivalente a 35% do total de vendas externas do País – e US$ 47
bilhões importados.
Se sair o acordo entre
Estados Unidos e União Europeia, a chamada Parceria Transatlântica, conhecida
pela sigla TTIP, a perspectiva é de que a situação se agrave ainda mais,
provocando maior isolamento comercial do Brasil, pois os europeus já não terão
tanto interesse em assinar um acordo com o Mercosul e, provavelmente,
aumentarão suas exigências. Com a TTIP, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas,
a queda nas exportações brasileiras chegaria a 5%.
O resultado de tantos
desastres na política externa só pode ser debitado à (des)orientação do
Ministério das Relações Exteriores a partir de 2003, quando os teóricos do
Partido dos Trabalhadores (PT), sábios aos seus próprios olhos, imaginaram que
poderiam sobrepor a influência dos Estados Unidos no continente com uma
política pretensamente denominada Sul-Sul.
Ou seja, em vez de
privilegiar o maior mercado do mundo, entendeu-se que seria possível fazer um
bloco só com os países em desenvolvimento, favorecendo-se Cuba, Venezuela,
Argentina, Bolívia, Equador e ainda países africanos não necessariamente
governados por regimes de esquerda, como prova o trabalho desenvolvido pela
diplomacia brasileira para que a Guiné Equatorial, nação onde pouco se fala Português,
aderisse em 2014 à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), sem levar
em conta que aquele país é governado há três décadas pelo mesmo governante e apresenta
um dos piores registros de direitos humanos no mundo, segundo pesquisa anual da
organização de direitos civis Freedom
House, de Washington.
Diante de tão rotundo
fracasso diplomático, o que se espera é que o atual governo entenda que o TPP
representa uma mudança completa no tabuleiro das negociações comerciais, pois
indica que o futuro será regido por mega-acordos comerciais. E que continuar na
defesa do imobilismo e ficar de fora desses grandes acordos equivale a levar a
Nação a um suicídio político. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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