SÃO PAULO – Em março de 2016,
o Mercosul completará 25 anos de vigência e não se pode dizer que tenha sido um
mau passo da diplomacia comercial brasileira a adesão ao tratado. Pelo
contrário. Em linhas gerais, mesmo com altos e baixos, o Mercosul atendeu aos
interesses do Brasil. Basta ver que, desde 2010, o bloco tem sido o principal
fornecedor de bens de capital para a Argentina, com o Brasil sendo responsável
por 90% dessas exportações.
Obviamente, o Mercosul poderia
ter crescido muito mais, se não tivessem surgido tantos obstáculos que
impediram a adoção de uma estratégia comum. Um exemplo são as negociações com a
União Europeia (UE), que começaram em 1999 e que só agora começam a redundar em
propostas concretas.
Em meio à retórica que tem
marcado os encontros periódicos entre seus representantes, o que se extrai é
que a UE defende que os produtos que podem ter tarifa de importação zerada por
dez anos devem representar 90% do comércio entre as duas regiões, enquanto o
Mercosul resiste em aceitar essa amplitude. Mas, com a recente formalização do
Tratado Transpacífico de Livre Comércio (TPP), entre Austrália, Brunei, Canadá,
Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, EUA e Vietnã, o
Mercosul ficou ainda mais sem espaço. E a necessidade de fazer acordos com
grandes blocos tornou-se mais premente.
Seja como for, a culpa pelo
Mercosul não ter se expandido também cabe ao Brasil. De fato, a partir de 2003,
o Mercosul foi assumido como bandeira da política externa do governo brasileiro
no sentido de reforçar a integração sul-americana para evitar o crescimento da
presença comercial dos EUA na América do Sul. Essa era a ideia defendida por
teóricos do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em função dessa visão
distorcida, os EUA adotaram outra estratégia e o resultado foi que muitos
produtos brasileiros perderam espaço no mercado norte-americano, o maior do
mundo. Tampouco a integração sul-americana deu-se na medida desejada. O
fracasso dessa política de viés ideológico foi reconhecido implicitamente pela
presidente Dilma Rousseff ao início de seu segundo mandato, ao nomear o
empresário Armando Monteiro para o Ministério da Indústria, Desenvolvimento e
Comercio Exterior (MDIC), que colocou entre suas prioridades a reaproximação
comercial com os EUA. Afinal, business is
business.
Já é alguma coisa. O que se
espera, porém, é que o Brasil passe a exibir uma posição mais firme em defesa
dos exportadores nacionais e da expansão do Mercosul com a assinatura de novos
acordos. Tarefa difícil especialmente nesta época, pois isso pressupõe
concessões. E como fazê-las se há setores que não investiram em tecnologia e
estão sem capacidade de enfrentar o produto que vem de fora? Sair desse círculo
vicioso parece tarefa por demais pesada para as fracas forças do atual
governo... Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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