Quando a 22 de abril de 1500
chegam à costa do atual estado da Bahia as caravelas portuguesas de Pedro
Álvares Cabral não sabemos com precisão o número de habitantes, nem de nações
indígenas, nem de línguas faladas no território que hoje é o Brasil.
Porém, antes de a colonização
generalizar o uso da língua portuguesa devemos tratar um interessante fenómeno
linguístico pouco conhecido, as denominadas línguas gerais.
As línguas gerais são um grupo
de línguas de base tupi-guarani que os jesuítas criaram com a intenção de
cristianizar os povos originários da América do Sul. Para unificar as
diferentes falas indígenas criaram uma koiné, quer dizer, uma língua padrão,
que servisse de meio de comunicação abrangente entre os europeus e as diferentes
nações ameríndias.
O sucesso desta estratégia
demonstra-o a vitalidade do idioma guarani do Paraguai, língua geral promovida
polos religiosos europeus e hoje língua oficial e a mais falada do país.
No Brasil, apenas uma pequena
povoação no extremo norte do Amazonas continua a usar uma língua geral de base
tupi, o nheengatu, que significa, literalmente, língua bonita.
Para além de toponímia e fauna
existem no português do Brasil numerosos exemplos do substrato tupi-guarani.
Assim, guri e guria são formas
comuns brasileiras para as galegas neno e nena e a portuguesa puto; jujubas são os doces que em português
europeu chamamos gomas; mirim é um
termo usado para cousas de tamanho pequeno ou pensadas para crianças; catapora é a denominação brasileira da
varicela; gari é a profissão que em
galego-português recebe o nome de varredor de rua; abacaxi é o substantivo genérico para o que na Galiza e em Portugal
dizemos ananás e suruba é sinónimo
de orgia ou bacanal.
Todos estes vocábulos
corriqueiros na fala do povo brasileiro ou o destaque da mandioca na dieta brasileira lembram a importância da cultura
indígena na conformação da identidade do país sul-americano.
A mandioca, palavra tupi hoje
comum a todas as variedades de português, é o ingrediente básico da culinária
brasileira com a qual são feitos a farofa, o pão de queijo ou a tapioca.
Felizmente, ainda são faladas
no Brasil por volta de 180 línguas indígenas. Património cultural que nos
últimos anos tem sido reconhecido e valorizado com diferentes programas de
alfabetização na língua materna que visam fortalecer e contribuir para a sua
preservação. Diego
Bernal – Galiza in “Diário Liberdade”
Diego
Bernal nasceu em Lugo em 1982. Licenciado em filologia galega pola
Universidade da Corunha foi leitor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente mora em Lisboa onde trabalha como professor. É um dos fundadores do
jornal digital Diário Liberdade.
Imagens:
1. Publiciade do banco
brasileiro Itaú usando o guarani nas ruas de Assunção, capital do Paraguai.
2. Cartaz de homenagem aos
"garis", funcionários do serviço de limpeza de um município
brasileiro, com ilustração do cartunista Latuff.
3. índios brasileiros, foto de
Sebastião Salgado.
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