Além
de Roma, Lisboa é a única capital europeia com um teatro romano do século I.
Dois anos após obras de revalorização, reabriu agora ao público
Ao cimo da Rua de S. Mamede,
(perto da sede da CPLP) as máscaras de teatro grego-romanas desenhadas pelo
graffiter Gonçalo Mar anunciam as ruínas do teatro romano, abertas ao público
entre 2001 e 2013. Do lado direito, no número 3, fica o museu que funcionou
durante o mesmo período e que, entretanto, encerrou para obras de renovação. Na
quinta-feira, 1 de Outubro de 2015, reabriu ao público para conduzir os visitantes numa viagem ao
passado.
Foram precisos dez meses,
espalhados ao longo de uma década, para Lídia Fernandes, 50 anos, conseguir
trazer à superfície o entulho escondido em nove metros de profundidade. Das
oito da manhã às sete da tarde, a arqueóloga escavava à mão, apetrechada de
colherins, picaretas, pás e enxadas, o que havia de acartar nos baldes: restos
de cinzas, centeio, cevada, madeiras, argamassas e terra da reconstrução
pombalina, posterior ao terramoto de 1755.
A descoberta de cerâmica e
objetos arqueológicos ajudam a contar a história não apenas da época romana
como de outras anteriores. Por exemplo, debaixo de um passadiço metálico,
encontram-se enterrados dois fornos de produção de cerâmica da segunda Idade do
Ferro (século IV/III a.C.)."A construção de um teatro romano numa zona de
acentuado declive teve um propósito político, porque quem chegava a Lisboa, via
Tejo, sabia imediatamente que estava em solo romano ao ver o grande muro do
teatro", explica Lídia Fernandes, coordenadora do museu.
Fotos: José Caria |
A atual receção foi uma
habitação no século XIX. Os restos de paredes em bio-calcaronito, uma pedra
local "prima" do calcário, deixam imaginar o muro de 14 metros de
altura, visível desde o rio.
No piso da entrada, o restauro
dos azulejos no terraço foi dos últimos preparativos antes da inauguração,
assim como a casa de fresco, antigo pavilhão onde as senhoras conversavam,
faziam renda e bebiam chá e que hoje servirá apenas para contemplar o rio.
No piso -1, com janelas para a
Rua Augusto Rosa, onde passa o elétrico 28, o mezanino é uma estrutura romana
aproveitada no século XVI como antigo celeiro da mitra. Restam também umas
vigas de ferro, resquícios da arquitetura industrial da década de 40 do século
XX quando aqui esteve a fábrica de malas Teodoro dos Santos. Continuamos a
descer para descobrir, ao ar livre, parte de uma habitação particular do século
XVII, com zona de estábulo.
O espólio de azulejos
pano-árabes indica que não seria de uma família modesta. No interior, algumas
das peças expostas de forma cronológica, como uma bilha do século XVII, peso de
rede utilizado como prumo, fusaiola medieval ou azulejo hispano-mourisco, podem
ser manuseadas. Sónia Calheiros –
Portugal in "Visão"
Um
regresso ao passado com os sentidos apurados.
Museu
de Lisboa - Teatro Romano
Rua
de S. Mamede, 3, Lisboa T. 21 817 2450, 21 751 3215 (marcações visitas)
Terça-domingo
- 10h-18h. €1,50, entrada livre domingo até 13 horas.
Fotos: José Caria |
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