SÃO PAULO – Com a recente
mudança no comando da Secretaria de Portos (SEP), provocada por arranjos
político-partidários, o projeto Santos 17, que prevê o aprofundamento do acesso
aquaviário do porto dos atuais 15 metros para 17 metros, terá de ser retomado a
nível federal. Como se sabe, empresários estabelecidos em Santos pretendem
firmar uma parceria com a pasta para financiar os estudos necessários sobre o
aprofundamento do canal de navegação. Se sua viabilidade for comprovada, o
projeto prevê que as obras de aprofundamento sejam executadas até 2017.
Com isso, os empresários
esperam atrair ao porto santista navios de maiores dimensões, como os de 14 mil
TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 17 pés). Atualmente, Santos só
recebe porta-contêineres capazes de transportar 10 mil TEUs. De fato, fazer
essa dragagem o quanto antes é fundamental para que Santos possa se consolidar
como o hub port (porto concentrador de cargas) do continente.
As análises a serem
financiadas pelos empresários devem ser feitas por professores da Universidade
de São Paulo (USP) e técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias
(INPH), mas, desde já, há claras evidências de que as obras de dragagem têm
contribuído para o aumento do nível do mar e para a erosão na Ponta da Praia e
em outros locais do canal do estuário de Santos.
Segundo recente estudo do
Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), da USP, da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e do Instituto Geológico de São Paulo, o nível do mar pode aumentar
18 centímetros até 2050 e 36 até 2100. Os estudos mostram que ressacas estão
ocorrendo com maior frequência na região desde o final da década de 1990,
fenômeno que provoca a inundação permanente de terrenos de planície costeira,
gerando elevados prejuízos socioeconômicos.
Não bastassem esses impactos
de consequências imprevisíveis, é preciso levar em conta que, com sua
capacidade de operacionalidade, o porto santista movimenta 3,3 milhões de carretas
por ano e que, com 17 metros de profundidade, passaria a movimentar mais de 10
milhões. Se a infraestrutura rodoviária já é insuficiente para evitar
congestionamentos nas rodovias e vias de acesso aos cais, está claro que, para
atender a esse aumento, será necessário quadruplicá-la, além de expandir o
modal ferroviário, que hoje movimenta 30 milhões de toneladas.
Com os cofres públicos
vazios, a remodelação da entrada da cidade suspensa, as obras das avenidas
perimetrais em ritmo lento e projetos, como o do Mergulhão e o do túnel
submerso Santos-Guarujá, engavetados, pensar em aumentar a capacidade de
movimentação do porto, à luz da razão, equivale a apostar no caos logístico. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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