Não se pode deixar de
reconhecer que o Plano Nacional de Exportações (PNE), lançado em junho pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), é uma
iniciativa louvável e que, se tivesse sido colocado em prática há anos em outro
contexto político-econômico, teria tudo para dar certo. O problema é que chegou
na hora errada, numa época em que a produção industrial está em queda, as vendas
em baixa e o desemprego em alta. Diante disso, corre o risco de não passar de
uma carta de boas intenções.
De fato, o PNE está assentado
sobre pilares que têm por objetivo melhorar o acesso dos produtos nacionais ao
mercado externo, procurando ampliar a promoção comercial por meio de ações de marketing, feiras e exposições e acordos
comerciais e de investimento. O plano prevê 37 mercados prioritários e define três
como especiais – Argentina, Turquia e Irã.
Quem acompanha as ações da
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)
percebe que o governo está empenhado em ajudar o empresariado a abrir mercados
para a moda, startups, alimentos,
especialmente carnes, bebidas, especialmente vinhos e café, calçados e máquinas
e equipamentos. Na América Latina, os mercados visados têm sido os membros da
Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru) e Cuba. Na África, ainda
que não dê à Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CE-CPLP) a devida atenção, tem procurado abrir mercados em
Moçambique, Quênia, Tanzânia, Argélia e Egito.
Além disso, tem procurado
reatar uma proximidade comercial com os Estados Unidos, que foi deliberadamente
combatida pelos governos anteriores de 2003 a 2014, e destravar as negociações
do Mercosul com a União Europeia. No Oriente Médio, o foco está na Arábia
Saudita e Irã. Sem a contar a Rússia, hoje um promissor mercado para alimentos
– especialmente carnes –, bebidas e agronegócios.
Ocorre, porém, que o PNE não
ataca o que se poderia definir como o cerne da questão: a falta de
competitividade do produto nacional. Pelo contrário. Além de não oferecer novas
desonerações, o governo cortou estímulos e benefícios fiscais, além de ter
promovido reajustes que oneram o custo da energia de 30 a 40%.
Sem maiores estímulos,
obviamente, a indústria exportadora dificilmente pode reagir valendo-se apenas
dos recursos do Programa de Financiamento à Exportação (Proex), hoje em estado
de indefinição, e da depreciação cambial, cujos benefícios até agora não têm
sido palpáveis. Na verdade, o saldo comercial só tem apresentado resultado
positivo porque a queda da importação está em ritmo mais acelerado que a da
exportação. Num cenário tão nebuloso, é difícil encontrar quem esteja disposto
a aumentar a capacidade produtiva das empresas. Mauro Dias - Brasil
_________________________________________
Mauro Lourenço Dias,
engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de
São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário