Estratégia
é baseada em planejamento logístico, expansão do sistema viário e adoção de
novas tecnologias
Os grandes portos mundiais
têm um desafio pela frente: estar preparados para atender os novos meganavios
conteineiros, cujos últimos modelos podem carregar até 21 mil TEU (unidade
equivalente a um contêiner de 20 pés) e vão chegar ao mercado nos próximos anos.
Os complexos marítimos terão de operar essas embarcações com eficiência e sem
impactos para a comunidade ao redor. Para cumprir essa missão, o Porto de Long
Beach, o segundo maior dos Estados Unidos, estabeleceu uma estratégia baseada
em planejamento logístico, a expansão de seu sistema viário e a adoção de novas
tecnologias.
Esses planos foram
conhecidos e debatidos com empresários e autoridades do Porto de Santos, que
estão em visita ao complexo marítimo norte-americano, na manhã de
terça-feira(29). A viagem conclui a programação da edição deste ano do Santos
Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos. A parte
inicial do seminário, composta por seus painéis de debates, ocorreu entre os
dias 10 e 11 de agosto, em Santos.
Long Beach percebeu que
precisava se preparar para os meganavios há cerca de cinco anos, quando os
armadores anunciaram que essas embarcações iriam operar nas linhas entre o
Extremo Oriente e a costa oeste dos Estados Unidos, onde está localizado. “O
mercado está em evolução e os portos têm de encarar esse desafio. Não se trata
de fazer um juízo de valor, se isso é bom ou mal, mas é o que está ocorrendo.
Somos um grande porto, o segundo maior dos Estados Unidos, e temos de atender
esses navios”, afirmou o executivo-sênior da Cadeia de Suprimentos do Porto de
Long Beach, Michael Christensen, que apresentou os projetos de infraestrutura
do complexo marítimo para a comitiva santista ontem, na sede da autoridade
portuária.
Christensen destacou que,
para receber esses cargueiros, Long Beach teve de preparar sua infraestrutura,
como o aprofundamento dos canais de acesso para 55 pés (16,5 metros), e
otimizar sua programação logística. Entre as ações implantadas, uma das
principais foi a adoção de mudanças no cotidiano de suas operações.
“Esses navios descarregam
contêineres muito rápidos, em uma velocidade maior do que a prevista para os
terminais portuários quando foram projetados. Então percebemos que teremos
muita carga que terá de sair rápido do porto e temos de fazer isso sem impactos
na região. Tivemos de repensar nossa logística”, afirmou o executivo-sênior.
Esses estudos começaram nos
últimos anos e foram realizados em parceria com o Porto de Los Angeles -
vizinho ao de Long Beach e seu principal concorrente - , terminais, operadores
logísticos e armadores. Algumas medidas já foram definidas e começaram a ser
aplicadas no mês passado, quando tradicionalmente o movimento de cargas na
costa oeste dos Estados Unidos aumenta, permanecendo assim até novembro. Entre
elas, está a distribuição dos horários de entrega das cargas de importação.
Antes, a maior parte era retirada dos terminais durante o dia. Agora, essas
atividades também são feitas à noite.
A divisão ocorreu sem a
necessidade de alterar tarifas ou aplicar taxas especiais para tornar o horário
noturno mais competitivo, como aconteceu em outros portos que utilizaram essa
estratégia. “Não foi preciso adotar essas medidas. Foi um grande acordo do
mercado. Todos entenderam a importância de melhor distribuir essas atividades”,
disse Christensen.
Distribuição
de cargas
Imagem: Carlos Nogueira |
Outra mudança envolveu a
melhor distribuição das cargas no pátio, de modo a agilizar sua entrega aos
caminhões. A estratégia do Porto de Long Beach também engloba investimentos dos
terminais em novas tecnologias.
É o caso do Long Beach
Container Terminal, instalação de contêineres do complexo marítimo que está em
fase final de testes e deve começar a operar em abril do próximo ano. A
unidade, que foi visitada pelo grupo do Santos Export no início da manhã de
ontem, iniciará suas atividades podendo movimentar 1 milhão de TEU por ano,
quantidade que chegará a 3,3 milhões de TEU por ano quando for totalmente
implantada (o que deve ocorrer apenas em 2020).
Segundo seus técnicos, essa
eficiência será possível graças ao sistema operacional semi-automatizado que
foi implantado. Nele, os contêineres são transportados entre o pátio e o
costado por veículos controlados por computador. Os trabalhadores acabaram
deslocados para a recepção das cargas, o planejamento das operações e as
atividades de bordo.
Para Michael Christensen, o
investimento em tecnologia é uma ferramenta “essencial” na nova realidade
vivida pelo setor portuário. “Os meganavios demandam portos cada vez mais
eficientes e o investimento em tecnologia garante isso”, afirmou.
Os planos de Long Beach
ainda incluíram a melhoria dos acessos aos terminais. Pontes estão sendo
construídas de modo a melhorar o tráfego rodoviário e a malha ferroviária que
atende os terminais foi ampliada.
A ferrovia, aliás, tem papel
de destaque no desenvolvimento do porto, especialmente após a construção do
Alameda Corridor, uma via ferroviária subterrânea de mais de 30 quilômetros de
extensão, que atravessa a área urbana de Los Angeles, ligando a zona portuária
aos pátios ferroviários. Ela entrou em operação no início do século e, hoje,
movimenta 42 composições ferroviárias (cada uma com uma extensão variando de
três a quatro quilômetros) por dia.
O empreendimento foi
apresentado ontem aos empresários e autoridades do Porto de Santos, pela
diretora de Assuntos Governamentais e Comunitários da Autoridade de Transporte
do Alameda Corridor, Connie Rivera.
A utilização do Alameda
Corridor e a otimização do transporte ferroviário foram “importantes” para
melhorar a eficiência do complexo marítimo, comentou o executivo-sênior da
Cadeia de Suprimentos do Porto de Long Beach, Michael Christensen. “Sem a
ferrovia, não conseguiremos avançar como queremos”, disse.
Para o dirigente portuário,
a evolução vivida pelo complexo marítimo é um processo “natural”, consequência
do desenvolvimento do mercado. “Hoje, o setor portuário está mudando. Mesmo os
portos que não vão receber os meganavios, como Santos, têm de se ajustar a
novas realidades pois devem passar a receber navios maiores. E para isso terão
de ser mais eficientes. É uma nova era para os portos e temos de estar
preparados”, destacou.
Agenda
Imagem: Carlos Nogueira |
Além das reuniões na sede da
autoridade portuária e da visita ao novo Long Beach Container Terminal, o grupo
do Santos Export ainda foi recebido por técnicos da consultoria Aecom, em seus
escritórios na cidade. A empresa, uma das principais nesse mercado, se destaca
por seus projetos de infraestrutura, tanto para a iniciativa privada (ela
participou da construção do LBTC).
Long Beach foi o segundo
porto visitado pela comitiva santista nesta viagem. Na segunda-feira, eles
conheceram as instalações de Los Angeles e se reuniram com autoridades desse
complexo marítimo.
Hoje, o grupo segue para
Oakland, também no estado da Califórnia, na costa oeste do país. Amanhã, estão
previstos encontros com representantes da autoridade portuária e encontros com
empresários e consultores da região. Leopoldo
Figueiredo – Brasil in “A Tribuna”
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