Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Macau - Olhar e não ver, por Alice Kok

“Como é que vemos as coisas? O que é que é verdade? O que é que é mentira? Que significado atribuímos às coisas que vemos?”. É a estas perguntas que Alice Kok quer tentar dar resposta com a exposição “A Way To Exist, Away To Exist”, que é inaugurada na AFA este sábado. A artista esconde a natureza atrás de pixéis, deixa apenas o que é fabricado pelo homem a olho nu e projecta ainda o futuro que está escondido atrás de tapumes

É inaugurada este sábado “A Way To Exist, Away To Exist”. A exposição individual de Alice Kok mantém-se no Tak Chun Macau Art Garden até ao dia 18 de Dezembro. Aqui, a presidente da Art For All Society (AFA) quer analisar a forma como aquilo que vemos altera a nossa existência.

A ideia da exposição tem a ver “com a forma como vemos a realidade, a forma como existimos dentro da nossa própria realidade”, explicou Alice Kok ao Ponto Final. O foco de “A Way To Exist, Away To Exist” recai sobre três perguntas: “Como é que vemos as coisas? O que é que é verdade? O que é que é mentira? Que significado atribuímos às coisas que vemos?”.

Para tentar dar uma resposta às questões, a artista apresenta fotografias que conjugam elementos humanos ou produzidos pelo homem e elementos de natureza. Mas com uma nuance: os elementos de natureza aparecem censurados e pixelizados. “É olhar sem ver”, resume.

Mas a exposição não vive apenas de imagens pixelizadas. Na AFA, Alice mostra também uma série de fotografias de locais em construção tapados por tapumes e onde é apresentada uma previsão daquilo que será possível ver depois de terminadas as obras. “É projectado um futuro na comunidade e no espectador. É-nos dado a ver que supostamente ficará melhor”, assinala.

Para esta série, a ideia veio directamente do Tibete, território ao qual Alice Kok também tem ligação. “No ano passado, eu já sabia que ia ter esta exposição, então, quando estava no Tibete, comecei a tirar fotografias que também vão ser mostradas aqui na exposição em forma de postais”, indica, acrescentando: “Normalmente, as pessoas vão ao Tibete pelas paisagens lindas, tiram fotografias e já está. Mas, quando estava no Tibete, vi que as paisagens lindas estavam a ser transformadas em estruturas criadas pelo homem, como hotéis, infraestruturas ou locais de exploração de recursos naturais”. “Eles cercam um lago para que haja uma intervenção, depois imprimem uma imagem do lago e colam no tapume. Não vemos o lago, mas vemos uma imagem do lado”, descreve.

Essa transformação da paisagem tibetana fez Alice Kok olhar também para Macau. “Claro que em Macau também há muito disso, até porque Macau é a terra em construção. Eu fui aos sítios onde estão a ser construídos casinos e hotéis e eles também põem os tapumes e mostram imagens de pessoas em centros comerciais, às compras e a comer em restaurantes finos”, exemplifica, notando: “Esta é a realidade que é dada às pessoas de Macau. Nós esperamos que esse seja o nosso futuro ou até o presente”.

Na exposição que vai estar na AFA, Alice mostra as imagens da realidade tapada e do futuro projectado nos tapumes “para revelar o absurdo daquilo que nos está a ser apresentado, as coisas para as quais olhamos mas não vemos”.

A exposição conta ainda com uma instalação em vídeo. A artista explica: “Construímos uma sala com um espelho bidireccional. Quando entramos nesta sala, vemos o grande espelho. E, da parte de fora da sala, as pessoas podem observar o que está lá dentro, mas, quando estamos lá dentro, não vemos para fora”. “A ideia é a de uma sala de interrogatório. Quando estamos lá dentro sentimos que estamos a ser observados de fora”, diz.

No interior da sala, Alice Kok colocou um trabalho em vídeo que mostra confissões anónimas de sonhos: “Convidei pessoas que conheço para virem ao meu estúdio e para me contarem algum sonho que tenham tido ou um sonho recorrente. Então, eu faço entrevistas com essas pessoas, e pixelizo as imagens, como numa reportagem, para que elas se mantenham anónimos”. Não só a imagem está censurada, como a voz está descaracterizada. Lá dentro, é possível ver os vídeos das descrições dos sonhos, mas o que vê está também a ser visto. Através de uma câmara de videovigilância, as imagens das pessoas na sala são também transmitidas para o exterior. André Vinagre – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

 

andrevinagre.pontofinal@gmail.com


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