O Festival Internacional de Cinema Documental, DocLuanda, vai decorrer de 10 a 16 deste mês, em Luanda, antecedida da exposição “Independências nos arquivos: 50 anos de cinema e utopia”, da investigadora portuguesa Maria do Carmo Piçarra
A exposição, que abre hoje, no Camões – Centro Cultural Português, às 18 horas, consta da estratégia do DocLuanda sobre divulgação das artes, tendo a direcção do festival convidado a renomada investigadora Maria do Carmo Piçarra para organizar a exposição, numa parceria com o Camões.
A mostra “Independências nos arquivos: 50 anos de cinema e utopia”, patente ao público até 9 de Maio, assinala os 50 anos das independências africanas nas cinematografias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Na óptica da investigadora Claire Andrade-Watkins, “as ex-colónias portuguesas partilharam o legado de uma dominação colonial dura e destituída de meios, não possuindo infra-estruturas cinematográficas ou técnicos formados”.
A produção cinematográfica, refere a direcção do DocLuanda, em nota de imprensa, não foi, por isso, fácil durante as lutas de libertação ou após as independências. Cabo Verde e São Tomé e Príncipe não desenvolveram cinematografias nacionais.
Em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, cita a nota, a utopia da construção da nação apoiou-se em projectos de cinema militante, implementados inicialmente pelos movimentos de libertação, como o MPLA, a FRELIMO e o PAIGC, e, após as independências, pelo Estado, que usou os filmes politicamente para fomentar a criação da identidade nacional e para informar ou fazer propaganda.
“Os cinemas de “Estado” foram postos em causa pelas guerras subsequentes, a falta de recursos financeiros e o esmorecimento das políticas culturais estatais. Deixaram as raízes do cinema contemporâneo, “fora do Estado”, frequentemente realizado na diáspora, em que a rememoração, a preocupação ecológica, as preocupações culturais e sociais, e os desafios da vida contemporânea são linhas fortes”.
A exposição fica patente ao público até dia 9 de Maio
Este ano, o Festival Internacional de Cinema Documental de Luanda conta com uma programação especial e recheada, incluindo workshop e master class sobre escrita de guião para cinema, com o argumentista português Virgílio Almeida, e propriedade intelectual e cinema, com Alexandra Fonseca e Igor Chaves, concerto musical com Ohali, a homenagem ao cineasta Nguxi dos Santos, e a presença do cineasta americano Billy Woodberry, para o troféu Sarah Maldoror.
A curadora
Curadora e autora dos textos, Maria do Carmo Piçarra é investigadora portuguesa contratada pelo Instituto de Comunicação da Universidade Nova de Lisboa (ICNOVA), professora auxiliar na Universidade Antiga de Lisboa (UAL) e programadora de cinema.
Em 2023, foi galardoada com a Cátedra Hélio e Amélia Pedroso/Fundação Luso-Americana em Estudos Portugueses na Universidade de Massachusetts Dartmouth. Os seus actuais interesses académicos incluem as representações fílmicas (pós) coloniais, a propaganda cinematográfica e a censura em Portugal, as mulheres nos movimentos de descolonização e os usos militantes da imagem.
Entre as suas publicações contam-se “Catemb, esse Obscuro Desejo de Cinema” (2024), “Vento Leste: Luso-orientalismo(s) nos Filmes da Ditadura” (2023) e “Projectar a Ordem. Cinema do Povo e Propaganda Salazarista 1935 – 1954” (2020).
Com Teresa Castro, foi editora do livro “(Re)Imagining African Independence”. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire2 (2017), e com Jorge António, da trilogia “Angola, o Nascimento de uma Nação (O cinema da propaganda; O cinema da libertação; O cinema da independência)”.
Recebeu financiamento da Fundação Oriente para conduzir uma investigação sobre “Representações da ‘Ásia Portuguesa’ nos Arquivos Cinematográficos” (2018-2020).
Entre 2013 e 2018, desenvolveu o projecto de investigação de pós-doutoramento “Cinema Empire. Portugal, França e Inglaterra” na Universidade do Minho e na Universidade de Reading e foi investigadora visitante na Universidade de Reading e na Université Sorbonne-Paris 3. Francisco Pedro – Angola in “Jornal de Angola”
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