O escritor Jorge Arrimar considerou, na segunda-feira, no Centro Cultural Português, em Luanda, ser um incentivo e privilégio receber o VI Prémio de Literatura Dstangola/Camões, em que concorreu com o romance “Cuéle – O pássaro troçador”, publicado pela editora portuguesa “Guerra e Paz”
O prémio, promovido pelo Dstgroup em parceria com o Instituto Camões, dedicou-se nesta edição a obras de prosa de autores angolanos, publicadas em 2022 e 2023. O prémio, no valor de 15.000 euros, foi entregue ao vencedor, na quantia correspondente em kwanzas.
Em declarações ao Jornal de Angola, Jorge Arrimar, explicou que ao ver reconhecido o trabalho, serve como um incentivo à continuidade, embora não esteja habituado a receber prémios.
Questionado sobre a ausência nos grandes concursos de literatura, o poeta e romancista disse que nunca se sentiu injustiçado, por estar consciente da complexidade da sua escrita que requer algum rigor na elaboração temática, por não escrever para um público vasto, assim como para as editoras, que muitas vezes são reguladas pela sua componente comercial. “Trabalho muito o texto, faço muita pesquisa e tento sempre escolher, detalhadamente as palavras. Isso leva muito tempo. Há muita exigência da minha parte. Isso, provavelmente, torna a leitura, também, mais complicada”, reconheceu.
Além da presença de escritores e membros de direcção da empresa promotora na concorrida cerimónia, a entrega do prémio foi prestigiada pela secretária de Estado da Cultura, Maria da Piedade Jesus, que felicitou o escritor pelo prémio, bem como, a organização e o júri, por todo o trabalho desenvolvido em mais uma edição que tem privilegiado a excelência e criatividade na literatura angolana. “Essa distinção só vem enaltecer o trabalho que tem sido desenvolvido ao longo dos anos pelos escritores angolanos”, sublinhou.
Argumentos do júri
O júri, foi constituído por José Mena Abrantes (presidente), David Capelenguela e Amélia Dalomba “constatou com satisfação a qualidade de grande parte das obras apresentadas este ano a concurso”, o que tornou mais difícil a decisão final. “Depois de uma profunda e cuidada análise e do cruzamento das suas opiniões, o júri decidiu, por unanimidade, outorgar o prémio deste ano à obra “Cuéle - O pássaro troçador', de Jorge Arrimar, um fresco grandioso e muito bem documentado sobre uma região de Angola raramente presente na nossa literatura”, explicou o júri.
“O autor tem perfeito domínio da sua expressão, tanto na escrita e na definição das diferentes personagens, quanto no rigor como caracteriza modos de ser, tradições e comportamentos dos vários estratos sociais, quer do lado africano quer do lado europeu, num momento decisivo do desenvolvimento do Sul de Angola, na transição do século XIX para o século XX”, acrescentou ainda o júri, em comunicado.
Jorge Arrimar concilia, assim, na opinião dos jurados, “com naturalidade, num estilo simples e fluido, reminiscências de figuras relevantes da época e da sua própria história familiar e factos históricos profusamente documentados, que revelam tanto o esboço de uma harmonia possível no contacto entre duas culturas diferentes quanto a violentação de uma pela outra na concretização da ocupação colonial”.
O vencedor foi conhecido em Novembro do ano passado, em que o júri considerou “Cuéle – O pássaro troçador” como “um fresco grandioso e muito bem documentado sobre uma região de Angola raramente presente na literatura”.
Ao longo destas edições, o concurso já distinguiu Zetho Cunha Gonçalves, em 2019, Pepetela, em 2020, Benjamim M’Bakassy, em 2021, Boaventura Cardoso, em 2022, e João Melo, no ano passado. Katiana Silva – Angola in “Jornal de Angola”
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