Segundo Alexandre Leitão, o número de portugueses afectado pelas novas políticas de atribuição de residência na RAEM é “residual”, mas o assunto não deixa de ser importante. O cônsul também admitiu que as eleições em Portugal afectam o desenrolar do processo de comunicação com as autoridades congéneres
As
autoridades portuguesas ficaram surpreendidas com a decisão das congéneres de
Macau de acabar com o tratamento preferencial na atribuição de residência a
cidadãos portugueses, que vigorava pelo menos desde 2003. Segundo Alexandre
Leitão, cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, decisão é tida como mais
incompreensível, face à declarada política chinesa de afirmar Macau como uma
plataforma para as ligações com os países de língua portuguesa.
“As
alterações que se fizeram são legais, mas também manifestámos a nossa surpresa
e perplexidade porque temos dificuldade em percebê-las, no contexto da
afirmação da plataforma de relação com os países de Língua Portuguesa, face à
Lei Básica, e ao facto da língua portuguesa ser uma língua oficial”, afirmou o
cônsul, ao Canal Macau. “Parece-nos existir um espaço naturalmente justificado,
sem grande esforço, para pelo menos neste período de transição haver uma
contemplação especial dos que têm o português como a língua maternal”,
acrescentou.
Actualmente,
os portugueses que vierem para Macau apenas podem obter o estatuto de residente
por motivos de junção familiar, ou com base no regime de atracção de quadros
qualificados altamente especializados, feito a pensar na captação de pessoas
distinguidas com prémio internacionais, como os prémios Nobel. A alternativa
passa por obter o estatuto de trabalhador não-residente, que obriga à saída,
após o fim da ligação contratual, ou em caso de despedimento.
O
cônsul admitiu também que a medida é vista em Portugal como “legal”, mas que as
autoridades estão a tentar convencer a RAEM da mais-valia das comunidades
portuguesas. “Não é contestar um direito à legalidade […] estamos apenas a
tentar fazer valer junto dos nossos interlocutores a convicção de que vale a
pena apostar nos quadros portugueses e lusófonos, pelo domínio da língua e
porque verdadeiramente são pessoas, comunidades que nunca criam problemas e que
trazem mais-valia para o território”, frisou.
Impacto eleitoral
Desde
a alteração da política, que as autoridades portuguesas têm estado em contacto
com as suas congéneres. Na sexta-feira, ao Canal Macau, Alexandre Leitão fez um
ponto da situação e explicou que o calendário eleitoral em Portugal tem impacto
no processo.
“É
um processo longo. […] Este ano, 2024, acaba por ser um ano especial, quer para
a região, porque há uma mudança, ou não, porque há uma renovação do Executivo,
e em Portugal também há uma mudança do Governo”, indicou. “São processos que a
dada altura carecem de validações políticas, carecem, se calhar, de encontros
ao nível político. O que estamos a fazer é um trabalho preparatório de
exposição dos pontos de parte a parte, das questões que são importantes”,
justificou.
Alexandre
Leitão apontou igualmente que o número de portugueses afectado é residual,
mesmo que isso não diminua a importância do facto: “Deixamos sempre bem claro
que afecta poucos portugueses. Isto é residual. Não quer dizer que seja menos
importante”, indicou.
Da reciprocidade
Por
outro lado, e sobre o facto de existirem pedidos de reunião familiar para
portugueses que são recusados, assim como recusas de estender os vistos de
turismo, o cônsul defendeu as autoridades de Macau, e justificou que são
questões de “soberania”.
“Eu
oiço as pessoas falarem da prática chinesa, ou macaense, mas não sei se muitas
vezes estão conscientes de que ela é muito parecida com a portuguesa”,
advertiu. “A grande questão que se coloca nesses casos é: houve alguma
ilegalidade? houve algum erro à luz da lei? É que se não houve estamos no
domínio da soberania”, justificou. João Filipe – Macau in “Hoje
Macau”
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