Uma centena de fotografias de rostos de lusodescendentes da Índia, muitas delas captadas em Macau, estão reunidas no mais recente livro a ser publicado pelo Instituto Internacional de Macau. Depois de ter viajado e fotografado retratos semelhantes no Myanmar, no Sri Lanka e na Malásia, João Palla Martins apresenta agora uma edição dedicada a lusodescendentes indianos
São
cerca de cem fotografias tiradas a rostos de luso-descendentes da Índia: o
livro de João Palla Martins publicado pelo Instituto Internacional de Macau
(IIM) é lançado pelo autor esta quinta-feira, dia 18, pelas 18h30, no auditório
do instituto, e com a moderação do seu presidente, Jorge Rangel. O álbum
fotográfico “Retratos de Luso-Asiáticos da Índia” inclui textos de Rosa Maria
Perez, professora emérita do Departamento de Antropologia do ISCTE, e de Delfim
Correia da Silva, director do Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões
em Goa.
Para
realizar este levantamento fotográfico, para além de ter captado imagens em
Lisboa e Macau, o autor também viajou para a Índia, fotografando rostos de
luso-descendentes junto de comunidades em Goa. Desde 2017, aliás, que o também
arquitecto percorre vários países, fotografando os rostos das comunidades
luso-asiáticas com o objectivo de oferecer um olhar sobre estas fisionomias tão
peculiares. As fotografias são ainda acompanhadas de ensaios teóricos ou
científicos por autores convidados a reflectirem sobre temas como identidade,
miscigenação e memória, referiu o evento promocional do IIM.
A
obra que será lançada esta quinta-feira faz parte, portanto, de um projecto
maior, a colecção de Retratos de Luso-Asiáticos, depois do álbum relativo a
Macau ter sido publicado em 2020, o do Myanmar e do Sri Lanka em 2021, e o da
Malásia em 2022.
A
publicação do IIM conta com patrocínio do Núcleo de Animação Cultural de Goa,
Damão e Diu, do Instituto Camões e da Fundação Oriente.
No
texto que acompanha a actual edição, João Palla esclarece que os registos
fotográficos foram feitos em Goa, Lisboa e Macau entre 2017 e 2022. É ainda
feita uma contextualização histórica dos indo-portugueses, das vagas nos anos
60 de imigração de Goa, Damão e Diu em direcção a Portugal e também para
Angola, São Tomé e Príncipe. Também é abordada extensamente a presença destes
luso-indianos em Macau. “Em Macau, a presença de luso-descendentes provenientes
da Índia sucede imediatamente após a fundação desta cidade, 1556-7, onde aqui
chegaram não só famílias de Goa, como também de Malaca, integrando contingentes
militares e navios mercantes designadamente a grande Nau do Trato”, referiu o
autor. “Inúmeras figuras se destacaram como capitães-mores de Macau, da
Carreira da Índia, e mais tarde como governadores deste território. É uma
população ou comunidade que ali foi permanecendo, com maiores ou menores
flutuações ao longo dos tempos, integrando-se na comunidade macaense”.
Daí,
esclarece, a obra agora lançada conter uma quantidade substancial de retratos
de luso-indianos ou indo-portugueses sediados em Macau. “Podia nomear estas
pessoas, falar delas, muitas são minhas amigas, outras são conhecidas”,
confessa, havendo ainda outras que não conhecia e que ficou a conhecer graças à
circunstância. Sobretudo na parte que diz respeito a Macau, João Palla fala
sobre o processo emocional que implicou, já que muitos dos fotografados são
colegas e amigos do Liceu de Macau, onde estudou. “Foram anos em que
partilhámos os trabalhos de grupo, o teatro da escola, o pátio, o futebol, as
brincadeiras. 56 anos mais tarde dei-me conta que tinha crescido neste meio, e
do valor da dimensão plural de relacionamento humano”.
Sobre
o projecto dos retratos luso-asiáticos no geral, o arquitecto numa entrevista
anterior ao nosso jornal referiu que vê o exercício mais como uma homenagem à
fisionomia das pessoas e às comunidades em que se inserem. “A ideia surge com o
objectivo de ir fazendo alguns álbuns fotográficos por estes sítios por onde os
portugueses ainda hoje em dia têm um sentido de comunidade, porque existem
muitos outros sítios que também já foram habitados por nós e que já tiveram
comunidades portuguesas, porém, onde esse sentido de comunidade deixou de
existir”, assinalou. “Acima de tudo, o que me fascina é como é que no século
XXI ainda podemos encontrar estas comunidades, pois o que me interessa mais é o
aspecto da fisionomia das pessoas: como é que elas são fisicamente. E é nisso
que se baseia o livro”, resume. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto
Final”
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