Talvez
não haja no Brasil uma grande repercussão, mas as acusações contra a agência da
ONU pelos refugiados palestinos, UNRWA, fizeram e ainda são manchetes na mídia europeia,
como o jornal francês Libération e o suíço Le Temps. O grande espaço no Le
Temps, deve-se também ao fato de ser um suíço-italiano, Philippe Lazzarini, o
responsável por esse comissariado da ONU pelos refugiados da ONU.
Nos
últimos dias, as acusações forçaram Lazzarini a demitir uma dezena dos
funcionários sob sua direção, acusados de implicados direta ou indiretamente no
massacre do 7 de outubro de civis israelenses. Alguns desses funcionários
teriam mesmo participado dos assassinatos, demonstrando com isso terem sabido
previamente dos ataques e agido como cúmplices. Pior, teria a agência UNRWA
participado dos planejamentos do Hamas?
Na
dúvida, mas sob forte suspeita, já são 15 os países que suspenderam sua ajuda
ao órgão da ONU de ajuda aos palestinos, temendo ter havido desvio dessas
contribuições para a criação do arsenal e forte armamento do Hamas na Faixa de
Gaza, onde resistem há quatro meses às represálias israelenses.
Essa
suspeita cresceu nestes últimos dias, tanto que a União Europeia pediu uma
auditoria dentro da UNRWA, enquanto o conselho nacional do governo suíço
convidou Philippe Lazzarini, o responsável pela UNRWA, para fazer uma análise
da situação aos parlamentares suíços. Logo nos primeiros dias depois dos
ataques do Hamas, corriam denúncias de ter havido comemorações em algumas
escolas de Gaza, dirigidas por professores pertencentes à agência onusiana.
Embora
se fale num próximo cessar-fogo em Gaza, de 45 dias com a libertação de apenas
35 dos reféns israelenses, um acordo não parece muito próximo. Apesar da
pressão dos familiares dos reféns sobre o dirigente israelense, Benyamin
Netanyahou rejeita uma trégua pela qual o Hamas possa explorar a imagem de ter
saído vencedor sobre Israel.
O
escritor, sociólogo e professor Gilles Kepel, especialista do Islão e do mundo
árabe contemporâneo, numa entrevista à revista L ́Express, lembra ter sido
também num 7 de outubro a Guerra do Kippur, há 50 anos, que Anuar el Sadate et
Hafez el Assad, atacaram Israel, mudando a situação no Oriente Médio.
Entretanto, enfatiza Kepel, tanto o Egito como a Síria não tinham por objetivo
destruir Israel, como deseja o Hamas, mas para criar uma relação de equilíbrio
de força com Israel e dar uma legitimidade aos regimes de Sadate e El-Assad. Rui
Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a
ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes,
Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira
nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu
Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro
sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi
colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de
Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut
Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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