Dentro de cinco anos, Angola pode se tornar auto-suficiente na produção de algodão, com a disponibilização por parte do Ministério da Agricultura e Florestas de cerca de 30 mil hectares de terra para o efeito, com o financiamento de recursos provenientes do Orçamento Geral do Estado de 2024, bem como garantias soberanas existentes
De
acordo com o ministro de Estado para Coordenação Económica, José de Lima
Massano, parte dessa facilidade será utilizada para promover a produção de
algodão, sendo o presente ano para a preparação dos campos, e em Janeiro de
2025 para o início do plantio, e nos anos seguintes dar-se início da produção
mais efectiva do algodão.
José
de Lima Massano que falava à imprensa, no final da visita de constatação que
efectuou à fábrica têxtil Comandante Bula, no Dondo, município de Cambambe,
província do Cuanza-Norte, disse haver, neste momento, alguns grupos a produzir
em pequenas quantidades, ainda em fase de testes para verem a natureza e
adaptação das sementes e dos solos.
Segundo
o ministro de Estado da Coordenação Económica, o país está a retomar uma
cultura que esteve paralisada durante muitos anos e fruto disso, perdeu o
conhecimento que tinha sobre a produção do algodão, mas a expectativa é que,
com as acções já bem desenhadas, a partir de 2026 se possam apresentar
resultados concretos.
"Agora
só falta reunirmos todas as vontades e capacidades existentes, incluindo as
financeiras, com o suporte do Estado, para que o algodão também passe a ser uma
realidade no país e suprir as necessidades actuais e futuras, cujo excedente
poderá ser exportado a médio prazo”, disse.
Referiu
que as atenções do Executivo estão viradas num primeiro momento àquelas regiões
em que se é reconhecida a existência de maior capacidade de produção, com a
recuperação das zonas em que no passado já se produzia o algodão.
Exploração do potencial
Quanto
à indústria têxtil do Dondo, José de Lima Massano referiu que o Cuanza-Norte e
o país em geral dispõem de um potencial imenso que tem que ser explorado e,
para tal, "temos de pôr esta unidade a produzir”, frisando que estão
reunidas todas as capacidades do ponto de vista tecnológico e financeiro,
embora o acesso ao mercado continue a ser o maior problema.
O
Executivo vai continuar a apoiar no quadro das medidas em curso,
particularmente para os grandes compradores públicos para se ter maior foco na
produção nacional e, com isso, tornar efectivo o seu funcionamento, de modo que
se possa oferecer mais postos de trabalho para a juventude.
"Verificamos
aqui que temos uma capacidade de num período relativamente curto, empregarmos
cerca de três mil colaboradores contra os actuais 107, embora tenhamos ficado a
saber que a fábrica formou, numa primeira fase, 1050 colaboradores e 900 na
segunda fase, o que perfaz 1950, na sua maioria até aqui ainda desempregados à
espera de oportunidades”, disse.
A
fábrica, segundo o governante, reúne todas as condições em termos de tecnologia
de ponta e conhecimento para funcionar, mas falta organização do mercado
nacional para se tirar o pleno proveito do investimento feito.
De
acordo com José de Lima Massano, esta indústria nunca arrancou. O investimento
foi feito e houve um período no qual foi possível alguma produção de tecidos,
mas as outras unidades, como a de produção de malhas e tecidos para calças
jeans, nunca funcionaram.
A
unidade de malhas e t-shirt, essas têm condições de entrar em funcionamento
imediatamente, a par da unidade de fabrico de tecido Jeans, que se encontra em
fase de arranque, em que vai ser necessário contratar especialistas para
assegurar o seu normal funcionamento.
"O
nosso sentido, enquanto Governo, é assegurar as condições necessárias para o
bom funcionamento do empreendimento, e estamos por isso convencidos que com as
medidas adoptadas, em que as grandes compras passem a ser feitas em Angola,
particularmente daquelas unidades que dependem do Orçamento Geral do Estado,
temos condições de viabilizar estas unidades, para fornecer fardas às Forças
Armadas, à Polícia Nacional, os serviços hospitalares, prisionais e outros
consumidores, desde os mais pequenos, médios e grandes do sector privado”,
concluiu.
Níveis de produção
No
pico da sua produção, a fábrica téxtil Comandante Bula, ex- Satec, poderá
produzir 300 mil peças de roupa por mês, entre camisas e camisolas.
A
primeira linha de produção tem uma capacidade para o fabrico de 200 mil
camisolas e 150 mil camisas.
Reconstruída
numa área de 88 mil metros quadrados, a fábrica agrega serviços de fiação,
malharia, tingimento, acabamentos, confecção de roupas e uma área de fabrico de
tecidos Jeans.
A
segunda fileira tem capacidade para produzir, em igual período, 500 mil metros
de tecidos Jeans. A revitalização do projecto foi possível através de um
financiamento japonês, orçado em mais de 340 milhões, de um total de 1,15 mil
milhões de dólares americanos, que permitiram também a reestruturação da
Textang, em Luanda, África Têxtil, em Benguela, com o propósito de o país
reduzir as importações de roupas.
A
reabilitação do empreendimento enquadra-se no processo de recuperação e
reactivação de activos públicos do Estado, em conformidade com o relançamento
da indústria têxtil e da fileira do algodão em Angola.
Antiga Satec destaca-se na industrialização
A
antiga Sociedade Angolana de Tecidos Estampados (Satec), SARL (Sociedade
Anónima de Responsabilidade Limitada), localizada na velha cidade do Dondo
(Cuanza-Norte), começou a ser construída a 7 de Setembro de 1964 e terminou em
Abril de 1968.
Em
Dezembro de 1969 foi inaugurado pelo então ministro do Ultramar, Joaquim
Moreira da Silva Cunha, na presença do governador da província de Angola,
tenente-coronel Rebocho Vaz.
A
fábrica foi construída numa extensão de 20822 metros quadrados, não obstante o
terreno adquirido através da então
Câmara Municipal do Dondo ter sido de 50 mil metros quadrados, com limites a
Norte pelo Caminho-de-Ferro de Luanda e a Oeste pelo rio Mucoso. O bairro
residencial da Satec, composto por 33 residências geminadas, fazia parte do
património da fábrica.
A
fábrica tinha na altura uma capacidade de mão-de-obra instalada de cerca de
1200 trabalhadores, que confeccionavam tecidos estampados, cobertores, toalhas
de mesa, fraldas e ultimamente o tingimento de Sarja, mais conhecida como roupa
de Caqui, para o exército.
Estando
o Dondo numa área privilegiada para atingir o Centro, Sul, Norte e Leste de
Angola, grande parte da produção era levada para todos estes pontos onde era
comercializada. No tempo colonial, a matéria-prima, era produzida em grande
escala mesmo no Dondo, Catete e na região de Malanje, mas logo depois da
Independência, em 1975, tudo parou.
Por
outro lado, a maquinaria instalada na Satec era de segunda mão, vinda de
Moçambique, Portugal e África do Sul. Com a saída dos trabalhadores expatriados
em 1974, aliada à revolução, muitos técnicos de manutenção abandonaram o
trabalho e com a escassez destes profissionais a fábrica esteve a produzir
muito aquém da capacidade instalada até à sua completa paralisação.
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