Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Angola – O País pode atingir auto-suficiência na produção de algodão em cinco anos

Dentro de cinco anos, Angola pode se tornar auto-suficiente na produção de algodão, com a disponibilização por parte do Ministério da Agricultura e Florestas de cerca de 30 mil hectares de terra para o efeito, com o financiamento de recursos provenientes do Orçamento Geral do Estado de 2024, bem como garantias soberanas existentes


De acordo com o ministro de Estado para Coordenação Económica, José de Lima Massano, parte dessa facilidade será utilizada para promover a produção de algodão, sendo o presente ano para a preparação dos campos, e em Janeiro de 2025 para o início do plantio, e nos anos seguintes dar-se início da produção mais efectiva do algodão.

José de Lima Massano que falava à imprensa, no final da visita de constatação que efectuou à fábrica têxtil Comandante Bula, no Dondo, município de Cambambe, província do Cuanza-Norte, disse haver, neste momento, alguns grupos a produzir em pequenas quantidades, ainda em fase de testes para verem a natureza e adaptação das sementes e dos solos.

Segundo o ministro de Estado da Coordenação Económica, o país está a retomar uma cultura que esteve paralisada durante muitos anos e fruto disso, perdeu o conhecimento que tinha sobre a produção do algodão, mas a expectativa é que, com as acções já bem desenhadas, a partir de 2026 se possam apresentar resultados concretos.

"Agora só falta reunirmos todas as vontades e capacidades existentes, incluindo as financeiras, com o suporte do Estado, para que o algodão também passe a ser uma realidade no país e suprir as necessidades actuais e futuras, cujo excedente poderá ser exportado a médio prazo”, disse.

Referiu que as atenções do Executivo estão viradas num primeiro momento àquelas regiões em que se é reconhecida a existência de maior capacidade de produção, com a recuperação das zonas em que no passado já se produzia o algodão.

Exploração do potencial

Quanto à indústria têxtil do Dondo, José de Lima Massano referiu que o Cuanza-Norte e o país em geral dispõem de um potencial imenso que tem que ser explorado e, para tal, "temos de pôr esta unidade a produzir”, frisando que estão reunidas todas as capacidades do ponto de vista tecnológico e financeiro, embora o acesso ao mercado continue a ser o maior problema.

O Executivo vai continuar a apoiar no quadro das medidas em curso, particularmente para os grandes compradores públicos para se ter maior foco na produção nacional e, com isso, tornar efectivo o seu funcionamento, de modo que se possa oferecer mais postos de trabalho para a juventude.

"Verificamos aqui que temos uma capacidade de num período relativamente curto, empregarmos cerca de três mil colaboradores contra os actuais 107, embora tenhamos ficado a saber que a fábrica formou, numa primeira fase, 1050 colaboradores e 900 na segunda fase, o que perfaz 1950, na sua maioria até aqui ainda desempregados à espera de oportunidades”, disse.

A fábrica, segundo o governante, reúne todas as condições em termos de tecnologia de ponta e conhecimento para funcionar, mas falta organização do mercado nacional para se tirar o pleno proveito do investimento feito.

De acordo com José de Lima Massano, esta indústria nunca arrancou. O investimento foi feito e houve um período no qual foi possível alguma produção de tecidos, mas as outras unidades, como a de produção de malhas e tecidos para calças jeans, nunca funcionaram.

A unidade de malhas e t-shirt, essas têm condições de entrar em funcionamento imediatamente, a par da unidade de fabrico de tecido Jeans, que se encontra em fase de arranque, em que vai ser necessário contratar especialistas para assegurar o seu normal funcionamento.

"O nosso sentido, enquanto Governo, é assegurar as condições necessárias para o bom funcionamento do empreendimento, e estamos por isso convencidos que com as medidas adoptadas, em que as grandes compras passem a ser feitas em Angola, particularmente daquelas unidades que dependem do Orçamento Geral do Estado, temos condições de viabilizar estas unidades, para fornecer fardas às Forças Armadas, à Polícia Nacional, os serviços hospitalares, prisionais e outros consumidores, desde os mais pequenos, médios e grandes do sector privado”, concluiu.

Níveis de produção

No pico da sua produção, a fábrica téxtil Comandante Bula, ex- Satec, poderá produzir 300 mil peças de roupa por mês, entre camisas e camisolas.

A primeira linha de produção tem uma capacidade para o fabrico de 200 mil camisolas e 150 mil camisas.

Reconstruída numa área de 88 mil metros quadrados, a fábrica agrega serviços de fiação, malharia, tingimento, acabamentos, confecção de roupas e uma área de fabrico de tecidos Jeans.

A segunda fileira tem capacidade para produzir, em igual período, 500 mil metros de tecidos Jeans. A revitalização do projecto foi possível através de um financiamento japonês, orçado em mais de 340 milhões, de um total de 1,15 mil milhões de dólares americanos, que permitiram também a reestruturação da Textang, em Luanda, África Têxtil, em Benguela, com o propósito de o país reduzir as importações de roupas.

A reabilitação do empreendimento enquadra-se no processo de recuperação e reactivação de activos públicos do Estado, em conformidade com o relançamento da indústria têxtil e da fileira do algodão em Angola.

Antiga Satec destaca-se na industrialização

A antiga Sociedade Angolana de Tecidos Estampados (Satec), SARL (Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada), localizada na velha cidade do Dondo (Cuanza-Norte), começou a ser construída a 7 de Setembro de 1964 e terminou em Abril de 1968.

Em Dezembro de 1969 foi inaugurado pelo então ministro do Ultramar, Joaquim Moreira da Silva Cunha, na presença do governador da província de Angola, tenente-coronel Rebocho Vaz.

A fábrica foi construída numa extensão de 20822 metros quadrados, não obstante o terreno adquirido através da  então Câmara Municipal do Dondo ter sido de 50 mil metros quadrados, com limites a Norte pelo Caminho-de-Ferro de Luanda e a Oeste pelo rio Mucoso. O bairro residencial da Satec, composto por 33 residências geminadas, fazia parte do património da fábrica.

A fábrica tinha na altura uma capacidade de mão-de-obra instalada de cerca de 1200 trabalhadores, que confeccionavam tecidos estampados, cobertores, toalhas de mesa, fraldas e ultimamente o tingimento de Sarja, mais conhecida como roupa de Caqui, para o exército.

Estando o Dondo numa área privilegiada para atingir o Centro, Sul, Norte e Leste de Angola, grande parte da produção era levada para todos estes pontos onde era comercializada. No tempo colonial, a matéria-prima, era produzida em grande escala mesmo no Dondo, Catete e na região de Malanje, mas logo depois da Independência, em 1975, tudo parou.

Por outro lado, a maquinaria instalada na Satec era de segunda mão, vinda de Moçambique, Portugal e África do Sul. Com a saída dos trabalhadores expatriados em 1974, aliada à revolução, muitos técnicos de manutenção abandonaram o trabalho e com a escassez destes profissionais a fábrica esteve a produzir muito aquém da capacidade instalada até à sua completa paralisação.

Pouco antes da sua paralisação, já não havia capacidade de produção, porque até os produtos auxiliares eram trazidos da Textang 2, em Luanda, e África Têxtil, em Benguela, porque a degradação da Satec começa desde muito cedo e fez com que surgissem estas outras fábricas. Manuel Fontoura e André Brandão – Angola in “Jornal de Angola”

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