O autor do livro “25 anos de Cooperação de Defesa na CPLP”, que foi apresentado em Lisboa, defende que aquela organização pode ser um “grande produtor de segurança” para África, mas precisa antes de uma estratégia de Defesa
Para
o militar e professor universitário Luís Bernardino, a cooperação na Defesa na
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) passou, ao longo de 25 anos,
por “uma fase inicial, dinâmica, de construção e de consolidação”, mas, nos
próximos 25, tem de avançar para “novos desafios”, entre os quais garante que
ainda não constam a criação de umas Forças Armadas ou a ambição de intervir
diretamente em conflitos armados.
“Temos
de garantir uma visão diferente para a economia de Defesa no quadro da CPLP,
temos que apostar na segurança marítima, e temos que apostar que a CPLP pode
efetivamente ser um grande produtor de segurança regional em África, através da
sua participação em exercícios e missões que possam ter um contributo direto
para a segurança regional, nomeadamente no Golfo da Guiné, onde temos cinco
estados-membros da CPLP”, frisou.
A
CPLP precisa de “ter uma estratégia de Defesa”, defendeu, o que “implica (…)
uma maior congregação de vontades políticas, ou seja, um maior interesse dos
Estados em reforçar e tornar esta cooperação como algo mais significativo
dentro da estratégia de cada um dos Estados”.
Na
prática, pretende-se “um compromisso mais sólido” com a cooperação na Defesa, o
que pode tornar “a CPLP num instrumento mais potente de produção de segurança
em termos regionais e globais”, concluiu.
O
militar recordou que a cooperação bilateral na área da Defesa está na origem da
multilateral que hoje existe, pois, a partir do momento em que a arquitetura de
Defesa da CPLP existiu, ou seja, o conjunto dos instrumentos que constam do
protocolo de Defesa assinado em 2006, esta passou “a dominar inteiramente, com
reuniões e exercícios que envolvem todos os países da CPLP”.
Existe
um outro mecanismo “muito mais importante e com um reforço de capacidades, que
é a CPLP”, frisou. Este é hoje “um mecanismo de troca de experiências,
contributos para a operacionalização das Forças Armadas dos países da CPLP, de
apoio à construção da identidade da Defesa dentro destes países, que procura
uma estratégia de Defesa para os oceanos, dar resposta a catástrofes e ter uma
maior visibilidade dentro daquilo que é o domínio dos próprios Estados”, e
promotor de uma cooperação que, no seu entender, é “proativa”, através de
missões de observação eleitoral, de missões de bons ofícios, de participação
nas Nações Unidas, onde é observador.
Para
Luís Bernardino, o desafio maior da CPLP para os próximos 25 anos, tema do
terceiro capítulo do seu livro, é o de criar “uma estratégia de Defesa”.
Quanto
a Portugal, o autor do livro considera que o país contribuiu “decisivamente
para a construção da CPLP, na área da Defesa”. “Portugal teve um papel inicial
fundamental na criação das condições para a construção da CPLP como mecanismo
de cooperação multilateral. A primeira reunião de ministros da Defesa com os
PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], que aconteceu em 1998 no
país, foi sobre as várias relações bilaterais, na qual o Brasil também
participou como observador, e nela foi criado o Fórum multilateral que é a
Cooperação de Defesa na CPLP”, recordou. Mas, na sua opinião, Portugal também
falhou ao longo destes 25 anos. “Poderia (…) ter articulado melhor as suas
estratégias gerais do Estado com esta específica de cooperação na área da
Defesa”, considerou Luís Bernardino. “Não há uma estratégia nacional que possa
congregar a economia, com defesa, soberania, diplomacia. E isso é algo que
temos que melhorar bastante, ou seja, nós temos que nos posicionar nestes
mecanismos de cooperação bi-multilateral, ou seja, actuar na cooperação
bilateral, na multilateral, junto das organizações e tentar também fazer
convergir estas duas formas de cooperação, para termos (…) aquilo que queremos,
que é uma cooperação estratégica, com uma visão estratégica para o
desenvolvimento de Portugal”, declarou. Esta foi, para o autor do livro, a
maior “lacuna” de Portugal nestes 25 anos.
A
apresentação em Portugal do livro “25 anos de Cooperação de Defesa da CPLP”
realizou-se no auditório 1 da Universidade Autónoma de Lisboa. In “Ponto
Final” – Macau com “Lusa”
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