Investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) estudam o impacto nos recursos hídricos do rompimento da barragem, há cinco anos, em Brumadinho, Minas Gerais, e estimam a reposição do abastecimento para consumo em “dois a três anos”.
A
UTAD, em Vila Real, Portugal, foi chamada para estudar o impacto que a rotura
de uma barragem de um complexo mineiro, teve nos recursos hídricos superficiais
e subterrâneos, a possibilidade de recuperação para parâmetros idênticos à
situação antes do desastre que aconteceu a 25 de janeiro de 2019, bem como a
reposição do consumo humano através do rio Paraopeba.
“Doze
milhões de metros cúbicos de lama rica em ferro e manganês invadiram uma série
de linhas e margens impactando os ecossistemas”, contou à agência Lusa Luís
Filipe Fernandes, investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias
Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD e um dos coordenadores do projeto
que decorre há três anos.
Em
consequência do desastre, 270 pessoas morreram em Brumadinho e o município
ficou parcialmente destruído por um mar de lama e resíduos.
A
barragem do complexo mineiro da empresa Vale estava localizada no ribeirão
Ferro-Carvão, um afluente do Paraopeba, rio que abastecia 30% da área
metropolitana de Belo Horizonte. O abastecimento foi suspenso afetando três
milhões de pessoas.
Em
consequência do desastre, a empresa mineira assinou um termo de compromisso
para indemnizações pelos danos causados que rondou os sete mil milhões de euros
só para a parte ambiental e recuperação do rio.
Luís
Filipe Fernandes referiu que foi aqui que, por intermédio da secretária de
Estado do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais e do
Ministério Público local, entrou a UTAD, instituição que há mais de uma década
desenvolve investigação em colaboração com universidades brasileiras.
Fernando
Pacheco, investigador do Centro de Química da UTAD, explicou que, na área
atingida, foram instaladas 40 estações de monitorização que mediram
regularmente cerca de 70 parâmetros, entre os quais os metais pesados.
“O
impacto em termos de água foi muito grande”, realçou o também coordenador do
projeto, referindo que esse impacto tem vindo a ser atenuado, quer de forma
natural quer através da remoção, por parte da empresa, dos rejeitos (resíduos
sólidos resultantes dos processos de beneficiamento a que são submetidas as
substâncias minerais) para o local da mina.
O
docente disse tratar-se de um rio, já antes do desastre, muito afetado pela
atividade mineira e industrial.
Adiantou
ainda que a remoção dos rejeitos, que está a ser feita pela empresa através de
máquinas e dragagens, “está a mitigar o problema”.
A
investigação estima que as dragagens contribuam em cerca de 30% para “atenuar
das concentrações” de metais a níveis antes da rutura, resultando os restantes
70% de “uma lavagem natural”.
“Temos
pressionado através dos nossos artigos para que as dragagens sejam mais
aceleradas porque, para nós, é de facto o elemento mais importante para o
restabelecimento”, afirmou Fernando Pacheco.
As
previsões iniciais apontavam para uma normalização da situação no rio Paraopeba
em “sete a 11 anos”.
Com
a recolha de dados e modelações feitas, entretanto, Fernando Pacheco acredita
que pode acontecer “em menos tempo” do que inicialmente previsto.
O
investigador estima que a qualidade da água fique idêntica ao que estava antes
em “dois a três anos”, reforçando que o rio já apresentava não-conformidades.
Segundo
os especialistas, na estação do ano mais seca no Brasil até já poderia ser
reposto o abastecimento para consumo humano, com o devido tratamento, mas ainda
não na época mais chuvosa.
Relativamente
às águas subterrâneas, concluíram que não se pode atribuir ao rompimento “um
papel especial” e que, apesar de não ser o foco do trabalho, os estudos apontam
para que o excesso de ferro nas margens do rio possa ainda estar a degradar a
mata ripária.
Fernando
Pacheco disse que este terá sido um dos acidentes com uma barragem de rejeitos
“mais documentado a nível mundial”.
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