Cientistas da FCUP e do GreenUPorto publicaram um artigo na revista de alto impacto “Frontiers of Plant Science” dedicado ao combate ao Cancro Bacteriano do Kiwi
Em
plena época do kiwi, do qual Portugal é o oitavo maior produtor do mundo, uma
equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
(FCUP) acaba de publicar um artigo na revista de alto impacto Frontiers of
Plant Science, no qual aborda o progresso científico feito para o
desenvolvimento de ferramentas alternativas para o combate ao Cancro Bacteriano
do Kiwi (CBK), a doença com maior impacto na produção deste fruto.
Na
FCUP e no GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar
Sustentável, vários investigadores têm-se dedicado ao estudo da bactéria Pseudomonas
syringae pv. actinidiae (conhecida pela abreviatura Psa), que provocou a
destruição de milhares de hectares de área cultivada de kiwi um pouco por todo
o mundo.
É
o caso de Marta Nunes da Silva, que dedicou o seu doutoramento em Ciências
Agrárias, concluído em 2021, ao kiwi. Um trabalho orientado pela docente do
Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, Susana
Carvalho e por Marta Vasconcelos, da Escola Superior de Biotecnologia – UCP,
que lhe valeu múltiplos prémios, como o da MHT THESIS COMPETITION.
Potencial antimicrobiano de seis óleos essenciais de
plantas
Durante
anos, foi comum a substituição de cultivares sensíveis à doença por cultivares
mais tolerantes. No entanto, nenhuma é totalmente resistente.
Assim,
os objetivos de Marta passaram por compreender os mecanismos de tolerância em
diferentes espécies de kiwi contra a Psa e explorar estratégias inovadoras e
sustentáveis para mitigar o CBK.
Entre
outros aspetos, a investigadora identificou a sobre-expressão de um conjunto de
20 genes em A. arguta (o kiwi bebé), associados às principais vias de defesa
das plantas, o que abre caminho para programas inovadores de melhoramento de
culturas. “Verificámos também que as plantas cultivadas com nitrato como fonte
de azoto apresentaram uma menor colonização bacteriana”, conta.
Paralelamente,
descobriu uma estratégia sustentável que mostrou muito potencial em ensaios
laboratoriais: “seis óleos essenciais de plantas, nomeadamente anis,
manjericão, cardamomo, cominho, funcho e louro, que demonstraram eficácia na
inibição do crescimento bacteriano da Psa e Pfm [bactéria geneticamente próxima
à Psa]”, descreve Marta Nunes da Silva.
A aplicação foliar preventiva e curativa destes óleos, resultou numa
redução significativa da colonização da Psa nos tecidos das plantas, apoiando a
sua inclusão em estratégias mais sustentáveis de gestão da doença.
Apesar
de muito promissores em ensaios laboratoriais, “encontram-se ainda, em geral,
em estágios mais precoces de maturidade tecnológica”, concretizam os
investigadores.
Uma mão cheia de outras ferramentas
De
acordo com a equipa da FCUP e GreenUPorto, o melhoramento genético da actinídea
(género ao qual pertencem as plantas do kiwi) é, provavelmente, o aspeto que
mais tem contribuído para a gradual recuperação do setor da kiwicultura
mundial.
Mas
há mais formas de proteger este fruto: o uso de elicitadores das plantas
(substâncias ou microrganismos benéficos capazes de potenciar a defesa das
plantas contra o patógeno), péptidos antimicrobianos, agentes microbianos de
controlo biológico (microorganismos benéficos) e tecnologias de agricultura de
precisão para a deteção precoce da doença.
Na
FCUP, uma equipa que integra os docentes Mário Cunha e Conceição Santos, está,
precisamente, à frente destas tecnologias de agricultura de precisão. Podem ser
técnicas espectroscópicas não destrutivas para análise das propriedades óticas
das plantas e para a previsão da potencial dispersão do patógeno global,
regional e localmente, avaliando assim o risco da Psa.
Segundo
os autores do artigo, no qual se inclui também, Miguel Santos, estudante de
doutoramento em Ciências Agrárias, estas técnicas preventivas “têm demonstrado
potencial para serem efetivamente integrados em programas de vigilância
fitossanitária no campo, num futuro próximo”.
Tudo
para o bem do kiwi, que tem sido o tema de mestrados, doutoramentos e projetos
de investigação da FCUP, e do combate a esta doença que foi detetada em
Portugal em 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário