Cidade da Praia – O ministro
da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente manifestou, na Cidade da
Praia, o desejo de Cabo Verde em ver transformada a memória do ex-Campo de
Concentração do Tarrafal num factor de promoção de diálogos pela paz.
O governante lançou esta
aposta em declarações à imprensa onde informou que o processo de candidatura do
ex-Campo de Concentração a Património da Humanidade deverá ser abordado durante
a Cimeira da CPLP que terá lugar nos dias 17 e 18 de Julho, na ilha turística
do Sal sob o lema “Cultura, pessoas e oceanos”, e que marca o arranque da
presidência cabo-verdiana da organização.
Segundo Abraão Vicente, à
volta deste processo o Governo está a fazer o trabalho de montagem conceptual e
de uma equipa científica através do Instituto do Património Cultural (IPC),
tendo explicado ainda que neste momento está-se a fazer a apresentação internacional
do processo de modo que a candidatura seja feita em conjunto com outros países.
A ideia é criar um projecto
museológico que ensina aos cabo-verdianos, aos portugueses, angolanos,
guineenses e ao mundo em geral, o quê é que Cabo Verde e a nação crioula
aprendeu com a existência de um campo de concentração, e ligar o Campo de
Concentração do Tarrafal a todo o sistema prisional construído durante a época
salazarista, mas numa perspetiva cabo-verdiana de modo a promover diálogos pela
paz.
Tendo em conta que se trata de
um campo que teve duas fases na sua história e que envolveu os outros países da
comunidade, Cabo Verde quer que a candidatura seja feita em conjunto com
Angola, Portugal e envolvendo a Guiné-Bissau, explicou o ministro da Cultura e das
Indústrias Criativas.
O Campo de Concentração do
Tarrafal conhece um dos períodos mais negros da sua história nos anos 30. Com o
decreto-lei n.º 26 539 de 23 de Abril de 1936, o regime salazarista criou na
localidade de Achada de Chão Bom, no concelho de Tarrafal (ilha de Santiago), o
estabelecimento prisional Campo de Concentração que ficou eternamente conhecido
como o “campo de morte lenta”.
Entrou em funcionamento em 29
de Outubro de 1936, onde recebeu os primeiros prisioneiros, oponentes políticos
ao regime, camponeses, operários, soldados, marinheiros, estudantes,
intelectuais, sindicalistas.
Entre 1936 e 1954, funcionou
como colónia penal destinada a cidadãos desafectos do regime. Dos 340 presos
que foram levados para o “campo de morte lenta”, 32 prisioneiros políticos
perderam a vida, sendo o mais conhecido o secretário-geral do Partido Comunista
Português (PCP), Bento Gonçalves que morreu a 11 de Setembro de 1942.
Os restantes sofreram mazelas
físicas e psicológicas que os iriam marcar para a vida. No pós-guerra,
derrotado o regime fascista nazi, o regime fascista português foi pressionado
para que o campo do Tarrafal fosse encerrado, o que acabou por acontecer em 26
de Janeiro de 1954.
A prisão mortífera é encerrada
para vir a ser reaberta, em 1961, por ordem de Adriano Moreira, na altura
ministro do Ultramar.
O Campo de Concentração do
Tarrafal abriria novamente as portas, sob a gestão do mesmo regime, mas
destinado a diferentes prisioneiros, desta vez aos partidários dos movimentos
de libertação anticoloniais e independentistas que, no início dos anos
sessenta, começaram a surgir em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Foi designado por um novo
nome, “Campo de Trabalho do Chão Bom” (o nome da pequena aldeia junto ao
campo), mas a filosofia continuou a mesma.
A repressão e a inumanidade só
terminariam uma semana depois de 25 de Abril de 1974. No dia 01 de Maio de
1974, os últimos prisioneiros foram libertados. In
“Inforpress” – Cabo Verde
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