SÃO PAULO – A crise de
abastecimento a que o País foi atirado pela paralisação de caminhoneiros, ao
final de maio, mostrou o quanto o Brasil é refém do modal rodoviário e,
principalmente, do óleo diesel, que é o combustível que move a economia
nacional. Segundo dados do Instituto de Logística e Suplly Chain (Ilos), mais
de 60% de tudo o que é transportado no País viajam em contêineres puxados por
carretas ou sobre caminhões, percentual que, nos últimos anos, só tem crescido
em razão da falta de investimentos em outros modais.
Ainda segundo o Ilos, entre
2006 e 2016, a participação das rodovias na matriz de transportes avançou de
59% para 62,8%, enquanto, no mesmo período, a fatia das ferrovias recuou de 24%
para 21%, por falta de investimentos no setor. Segundo dados da Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil, que já teve uma malha
ferroviária maior que a dos Estados Unidos, tem hoje apenas 3 quilômetros de
ferrovia para cada quilômetro quadrado, enquanto aquele país tem dez vezes mais:
30 quilômetros de trilhos para cada quilômetro quadrado.
E mais: dos atuais 28 mil
quilômetros de malha passados a concessionárias, apenas 8 mil quilômetros estão
em operação. Como ficou em segundo plano no processo de privatização, a
situação do transporte de passageiros por trem está em situação ainda mais
dramática.
Diante disso, os caminhoneiros
fazem o que podem, enfrentando estradas mal conservadas e bem pouco policiadas,
o que permite com frequência toda a sorte de imprevistos, inclusive aqueles
derivados da violência social. Sem contar os prejuízos para as empresas
transportadoras e para os donos das cargas, pois, muitas vezes, o caminhoneiro
é obrigado a ficar três dias ou mais parado no cais para descarregar.
Em meio a tantas desditas,
aparece agora uma luz no fim do túnel: Brasil, Bolívia, Paraguai e Peru acabam
de concluir os entendimentos prévios para um acordo que prevê a construção de
um corredor ferroviário entre o Oceano Pacífico (a partir de Puerto de Ilo, no
Peru) e o Atlântico (Porto de Santos). Os estudos preliminares, que contam com
assessoramento técnico da União Europeia, prevêem investimentos da ordem de US$
14 bilhões e que a obra estará concluída até 2024.
Os estudos estimam ainda que o
corredor bioceânico irá transportar 40 milhões de toneladas, percorrendo 3.755
quilômetros, facilitando principalmente as exportações para a Ásia. Ou seja,
essa ferrovia, além de facilitar a tão almejada saída para o mar por parte da
Bolívia, vai permitir o desenvolvimento, a exploração e a industrialização dos
recursos naturais de todo o continente sul-americano, até porque está prevista
ainda a adesão da Argentina e do Uruguai.
Entre outros benefícios,
com a participação do trem bioceânico, será possível conduzir a carga desde o
Brasil até o porto de Xangai, na China, em 36 dias e 8 horas. Hoje, a demora é
de 67 dias e 13 horas. Segundo os estudos, até 2021, o corredor ferroviário
terá ainda capacidade para transportar 6,1 milhões de passageiros por ano,
número que deverá chegar a 13,3 milhões em 2055. Se o futuro irá confirmar
esses números, não se sabe. Mas, até lá, haja otimismo! Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e
diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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