SÃO PAULO – Na década de 1990, quando tiveram início as privatizações de
vários tipos de serviços públicos, a diretriz adotada por aqueles que defendiam
o processo pelo menos na área de infraestrutura apontava para um modelo
exatamente oposto àquele que deveria ser seguido. Foi o que ocorreu no setor de
logística, que exigia a integração das rodovias, ferrovias, hidrovias e portos,
mas que não houve, seguindo cada modal o seu caminho.
Hoje, o que existe é um sistema intermodal que se pode considerar
artificial, pois o que se vê são concessionárias se comportarem como se fossem
donas de um monopólio. É o caso das ferrovias, modal que seria decisivo para
aliviar a demanda rodoviária, mas que presta serviços de má qualidade,
provavelmente por falta de concorrência. É também o caso dos portos, onde só a
ampliação da competitividade nas concessões poderá modificar o cenário atual.
Com décadas de atraso, se comparado com outros países dimensões
continentais, o Brasil parece despertar para a necessidade do aproveitamento de
seu potencial ferroviário e hidroviário. Basta ver que apenas nos dois últimos
anos a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) conseguiu fazer algum
sincronismo entre os modais rodoviário e ferroviário, diminuindo conflitos no
porto de Santos que produziam filas gigantescas de caminhões que avançavam pela
via Anchieta, até o alto da Serra do Mar. E só agora a estatal vem trabalhando
para incluir o modal hidroviário no sistema. Se tudo der certo, haverá menos
tempo de espera para os navios cargueiros e maior eficiência nos serviços
portuários.
Sem dúvida, maior integração entre os modais não só aliviará o tráfego
nas estradas como contribuirá para reduzir os números de acidentes, prolongar a
vida útil das rodovias e, principalmente, baixar as ocorrências relacionadas ao
roubo de cargas, que, nos últimos anos, tem crescido de modo assustador. Segundo
dados da Secretaria de Segurança Pública, o Estado de São Paulo registrou em
2017 a maior quantidade de roubos de cargas em um só ano desde 2001, quando
teve início a série histórica, ou seja, 10.584 crimes contra 9.943 em 2016, um
aumento de 6,6%.
Não se pode esquecer que o aumento do roubo de cargas, no final das
contas, provoca impactos no custo do frete. Em rotas de até 100 quilômetros, o
custo com seguro é em torno de 4% do valor de carga, enquanto em rotas acima de
mil quilômetros é de 2%. Mas esse custo pode dobrar se as cargas passarem por
trechos perigosos, como é o caso das rodovias que levam ao porto de Santos. Mais:
quando a carga é por demais valiosa e há necessidade de se contratar escolta
armada, o custo com segurança pode chegar a 1/3 do custo de transporte. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e
diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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