O gigante Brasil (8,5
milhões de km²), para o bem ou para o mal, está distante, geograficamente, dos
grandes mercados e conflitos. Talvez por isso carece de um pensamento
estratégico e deixa para amanhã o que deveria ter sido feito ontem. O país se
dá ao luxo de ser inconsequente, porque está longe dos grandes problemas e da
dura concorrência que afeta outras nações.
Está ou estava? Sim, porque
já não se encontra mais tão distante das disputas globais. O Atlântico Sul,
para muitos, é apenas a nossa grande praia de 7,5 mil quilômetros, um
"Oceano tranquilo". Poucos lembram da Guerra das Malvinas, mas, mesmo
assim, o planeta se tornou uma "aldeia global" e o Atlântico Sul
agora é uma região estratégica na geopolítica mundial.
Do lado brasileiro, nossa
Amazônia Azul (expressão cunhada pela Marinha), com uma superfície de 4,5
milhões de quilômetros quadrados, contém gigantescas reservas de petróleo do
pré-sal, e novos lençóis foram descobertos no litoral argentino, próximo às
Malvinas. Do lado africano, a faixa de petróleo explorável do Golfo da Guiné se
expande sem cessar. Mas também há reservas de gás, minérios raros e pesca
abundante. E ambas margens tiveram grande crescimento econômico nas últimas
décadas, com mercados consumidores gerando fluxos transatlânticos. E o tráfego
marítimo de cargas, que apenas o cruza ligando outros continentes, conheceu
notável expansão.
A competição
econômico-estratégica global entre Estados Unidos e China encontrou um ponto
nevrálgico no Atlântico Sul. Os EUA estão se desengajando do incontrolável e
oneroso Oriente Médio e encontram aqui o petróleo de que necessitam, numa
região sem ameaças e com custo de transporte muito baixo pela proximidade. As
compras americanas criarão reciprocidades econômicas e políticas na região, daí
a retomada das relações com a América do Sul e com a África.
Isso pode ser vantajoso para
o Brasil, se tiver uma visão estratégica, pois o mapa mostra ilhas britânicas
espalhadas pelo centro do Oceano, com vasta zona exclusiva e há projetos de
fora da região visando "securitizá-lo" contra supostas ameaças. Se o
Brasil não levar a sério a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (criada
com nações das duas margens em 1986 e legitimada pela ONU), nem construir uma
defesa naval moderna, a riqueza da Amazônia Azul pode mudar de mãos e o Oceano
pode deixar de ser tranquilo. Não há mais espaços vazios no mapa. Paulo Visentini – Brasil in
“Zero Hora”
Paulo
Fagundes Visentini é historiador, professor titular de Relações
Internacionais da Ufrgs.
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