“Países
como a Guiné Equatorial terão benefícios em abrir-se ao mundo. Foi o penúltimo
país que visitámos e surpreendeu-nos. Podem colocar-se várias questões, mas se
os cidadãos têm uma qualidade de vida melhor que grande parte dos países
africanos, estamos a discutir o mais importante?”
Os constrangimentos são
muitos, mas o presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP) não tem dúvidas: o caminho é maior integração. Em Lisboa
para uma conferência de empresas exportadoras organizada no final de Junho,
Salimo Abdula pediu liberdade de circulação de pessoas e capitais.
Foto: Bruno Simões |
Jornal
de Negócios - É difícil identificar a actividade da confederação. Somos nós que
andamos distraídos ou têm sido pouco activos?
As duas coisas. Aquela CPLP
com base na língua e na cultura fazia sentido até ao momento, mas se não
criássemos alguma consistência, iria desmoronar-se.
N
- O objectivo da confederação é ser o braço económico da CPLP?
Os empresários apelaram a
outra postura, uma solução para a imagem desgastada da CPLP. Um dos nossos
grandes objectivos é que haja livre circulação de bens, capitais e serviços.
Não faz sentido chamar-lhe comunidade, quando não podemos circular dentro de
casa. Se estiver numa casa, mas tiver de ficar no seu quarto, não se considera
parte da família. A língua representa cerca de 17% dos custos das empresas, mas
só tem efeito económico se for potenciado pela livre circulação. Queremos
também criar a marca CPLP para identificar produtos da comunidade.
N
- Em alguns casos a marca nacional não é mais forte? Estou a pensar no Brasil.
Tem toda a razão, mas se
começamos com os problemas não temos soluções. O nosso lema é: “se queres ir
rápido, vai sozinho; se queres ir longe, vamos juntos.” É um sonho. Mas temos
de começar por algum lado. Temos de eliminar tabus.
N
- Que tabus?
O factor de colonizados e
colonizadores [existiu] sempre... Mas passaram 40 anos. É muito tempo. Não
podemos fazer das gerações vindouras reféns. Temos de ser pragmáticos. A CPLP está
estrategicamente colocada: nove países, quatro continentes. Podemos oferecer
lazer de qualidade, grande produção de alimentos e dentro de duas décadas
representaremos 25% do “oil and gas”.
Portugal teria mais a ganhar com urna inserção pragmática na CPLP. Está a gerir
a sua actualidade, hipotecando o seu futuro. O presente se calhar é a União Europeia,
mas no futuro terá mais benefícios em juntar-se à causa da CPLP.
N
- Para um empresário português que queira Investir em alguns países da CPLP, a
aplicação da lei ainda é um problema?
Sim, tem de ser melhorado. Há
dificuldades, mas também grandes oportunidades. Primeiro temos de abrir e
depois gerir a abertura. Sou moçambicano e vejo dificuldades para um empresário
sul-africano operar em Moçambique. Acha aquilo muito corrupto. Mas não é! O problema
é a cultura de negócios, que é totalmente diferente. Um português vai entender
muito mais rápido.
N
- Não sei se isso é um elogio...
É um elogio porque nos entendemos.
N
- Como se compatibilizam regimes tão diferentes como a Guiné Equatorial ou até
Angola com países como Portugal ou Brasil?
Dei o exemplo de uma casa
para falar de comunidade. Nem todos os irmãos são iguais. Uns são doutores,
outros são pedreiros, outros são marginais. Mas pertencemos à mesma família e
temos de conviver. Não nos vamos intrometer na soberania de cada país, vamos
buscar sinergias positivas. Países como a Guiné Equatorial terão benefícios em
abrir-se ao mundo. Foi o penúltimo país que visitámos e surpreendeu-nos. Podem
colocar-se várias questões, mas se os cidadãos têm uma qualidade de vida melhor
que grande parte dos países africanos, estamos a discutir o mais importante?
N - Muitas
vezes o investimento angolano em Portugal é muito criticado. Isso incomoda-o?
Bem-haja Angola por
investirem Portugal e não noutro país. Portugal tem dificuldades, precisa de
criar emprego e estes países irmãos podem ser uma solução. Nuno Aguiar – Portugal in “Jornal de Negócios”
Perfil
– A face empresarial da CPLP
Natural de Moçambique, Salimo Abdula é um empresário que
começou este ano a cumprir o mandato de quatro anos à frente da Confederação
Empresarial da CPLP. Foi eleito por unanimidade dos nove países. Abdula é ainda
presidente da Mesa da Assembleia Geral da Confederação das Associações de
Económicas de Moçambique, presidente do Conselho de Administração da lntelec
Holdings. S.A. e presidente de Conselho de Administração da Vodacom Moçambique.
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