SÃO PAULO – O governo parece
disposto a encontrar saídas para reduzir os custos logísticos da cabotagem, o
transporte de carga de porto para o porto por via marítima dentro do próprio
País. Tanto que há dois grupos de trabalho preparando propostas nesse sentido –
um no Ministério da Agricultura e outro na Secretaria de Portos (SEP) –, mas
ambos enfrentam um problema comum: na maioria das vezes, as propostas criam
custos ou sugerem cortes que diminuem a arrecadação de impostos. E os cofres
públicos andam com o caixa baixo.
Obviamente, como se trata de
um mesmo governo, o ideal seria que houvesse apenas um grupo discutindo o
assunto, convergindo as propostas apresentadas até o momento. Mas, como se
sabe, nem sempre é assim que funcionam as coisas: a burocracia existe só para
gerar mais burocracia e mais cargos e funções para se desempenhar, muitas
vezes, o mesmo papel.
Por isso, a proposta mais
clara na atual discussão é aquela que pede menos burocracia na cabotagem e que
é comum nos dois grupos de trabalho. Afinal, foge à luz da razão que a
fiscalização na cabotagem seja idêntica àquela que se faz nas mercadorias que
vêm ou vão para o exterior, pois a carga sequer sai das águas territoriais do
País. Portanto, é indiscutível que são necessárias regras mais simples para as
cargas nacionais.
Entre as medidas sugeridas até
aqui, estão algumas que prevêem a redução de 70% do Imposto de Renda de Pessoa
Jurídica (IRPJ) e da contribuição patronal para o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) e a utilização de recursos recolhidos por meio do Adicional ao
Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) para quitar dívidas com a
Previdência, além de outros benefícios fiscais. De acordo com outra sugestão,
as empresas que movimentam os navios de cabotagem teriam isenção da cobrança do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o combustível
utilizado pela embarcação. Neste caso, como o ICMS é um imposto de âmbito
estadual, seria bom saber o que acham disso os governos estaduais.
Em tese, todas essas medidas
são bem-vindas, mas é difícil acreditar que possam ser colocadas inteiramente
em prática, levando-se em conta que causariam impacto nas contas públicas. A
exemplo da velha boutade que se atribui ao antigo ponta-direita da seleção
brasileira Mané Garrincha (1933-1983), que perguntou, em 1958, durante a Copa
da Suécia, ao técnico Vicente Feola (1909-1985) se ele já havia combinado com
os adversários todas aquelas jogadas que idealizara, é de se indagar se os dois
grupos que estão discutindo meios para revitalizar a cabotagem já combinaram as
propostas com a equipe econômica responsável pelo chamado ajuste fiscal. Do
contrário, só perdem tempo e gastam recursos públicos com suas reuniões. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias,
engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de
São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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