Morreu o nosso Poeta. Morreu
Corsino Fortes. O poeta partiu esta sexta-feira, depois de uma luta contra o
cancro.
Corsino Fortes
escolheu morrer no Mindelo, cidade à qual regressou, na fase terminal da
doença, a seu pedido, para que em São Vicente se despedisse da vida material,
porque eterna e imortal será para sempre a sua obra.
Corsino António Fortes
nasceu em São Vicente, em 1933. Licenciou-se em Direito, pela Universidade de
Lisboa (1966), tendo integrado vários governos em Cabo Verde. Foi presidente da
Associação dos Escritores Cabo-verdianos e presidente da Academia Cabo-verdiana
de Letras, desde a sua fundação em 2013.
Publicou os primeiros poemas no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes, no Boletim de Cabo Verde e na revista Claridade. Com a publicação de Pão & Fonema em 1974
estabelece-se como uma das vozes mais válidas da poesia cabo-verdiana. A
originalidade tanto formal como artística que patenteou logo no primeiro livro
de poemas viria a ser confirmada em duas outras obras, Árvore & Tombor (1986) e Pedras de Sol & Substância (2001), que fecham
a trilogia. Também em 2001 publica A Cabeça Calva de Deus que
reúne os três livros anteriormente publicados. Numa entrevista concedida na
altura, explicou assim a essência da sua trilogia poética:
“Acaba por ser todo o projeto de
independência do povo de Cabo Verde, em que Pão & Fonema representa,
de facto, os símbolos daquilo que é fome, daquilo que é a realidade de Cabo
Verde durante séculos, e, por outro lado, a exigência pela palavra, liberdade e
cultura. Em Árvore & tambor já há a
materialização do “pão”, no sentido dos instrumentos de produção do país e toda
a comunicabilidade do arquipélago com África e o mundo. Pedras de sol & substância é a
substancialização solar desta realidade. Há uma materialização de aspectos, não
só de ordem literária, mas também de ordem pictórica e musical. É tudo aquilo
que pode significar a identidade deste espaço, e dos que o habitam, dentro e
fora do arquipélago.”
Corsino Fortes foi, em
diversas ocasiões distinguido pela sua actividade político/diplomática, mas só
recentemente recebeu uma das poucas distinções da sua já longa carreira
poética: o prémio literário 40º Aniversário de Independência de Cabo Verde, no
valor de 500 mil escudos.
De resto, Corsino
Fortes preocupou-se mais com os valores imanentes da sua obra do que com
qualquer falso brilho a que os prémios literários estão muitas vezes
associados, como revelou numa entrevista concedida no ano passado ao Expresso
das Ilhas:
Expresso das Ilhas – É um dos expoentes máximos da literatura cabo-verdiana, mas a sua obra raras vezes foi premiada. A que se deve este paradoxo?
Corsino Fortes – O fundamental
para mim é nós reconhecermos os valores que temos em Cabo Verde. Somos um
pequeno país e se aparece uma pessoa ou instituição interessada na divulgação
da nossa literatura é necessário colaborar. Nos fóruns internacionais temos feito
todos os possíveis para que também escritores cabo-verdianos sejam mais
conhecidos. Fico satisfeito por ter sido convidado há uns anos como jurado do
Prémio Camões e com a minha presença e com ajuda dos outros jurados consegui
que o prémio viesse para Cabo Verde, tendo sido atribuído a Arménio Vieira
[2009]. Rejubilo-me com isso”.
Aliás foi nesta
entrevista que o poeta anunciou em primeira mão a publicação do
livro Sinos de Silêncio, cujo lançamento aconteceu esta quarta-feira,
22 de Julho de 2015, na Biblioteca Nacional, na Praia, um dia depois de ter
sido apresentado no Mindelo, em São Vicente. In “Expresso das Ilhas” – Cabo Verde
Sobre o Grande Prémio
Literário Vida e Obra atribuído pela Academia Cabo-Verdiana de Letras este ano
a Corsino Fortes poderá aceder ao texto publicado no “Baía da Lusofonia” aqui.
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