O Egito se prepara para
ampliar seus horizontes econômicos. O objetivo é reduzir sua dependência da
indústria do turismo, que tem como base as visitas a templos milenares e
exuberantes, como as pirâmides de Queops, Quefren e Miquerinos, a Grande
Esfinge de Gizé, no Cairo, e o Templo de Karnac, em Luxor, margeando o Rio
Nilo.
Ao lado do Canal de Suez, o
país está finalizando a construção de um novo canal de 72 quilômetros, que vai
acelerar a passagem de navios entre o Mar Vermelho, na Ásia, e o Mar
Mediterrâneo, na Europa. Para a inauguração deste mega projeto, em 6 de agosto
próximo, o governo do Egito elaborou uma extensa programação, que deverá contar
com a presença de vários líderes mundiais.
A ideia de melhorar a
passagem de navios com um novo canal é antiga e vem desde a época do
ex-presidente Osni Mubarak. No entanto, não foi levada adiante pois ele teve
que abdicar do poder após uma rebelião vitoriosa, que começou em janeiro de
2011. Os que o sucederam também pretendiam desenvolver o projeto, mas saíram
bem antes de começar a se organizar a empreitada. O mesmo ocorreu recentemente
com o líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, eleito legitimamente, mas
que trilhou caminhos que não agradaram à maioria. Em pouco mais de um ano no
poder, um golpe militar colocou fim a seu governo.
Em novas eleições, o militar
Abdel Fattah El-Sisi teve a maioria dos votos. Al-Sisi está tentando recolocar
o país nos eixos, como dizem os egípcios. E com o novo canal, os árabes sonham
com mais empregos.
O atual presidente da
Autoridade do Canal de Suez (SCA, na sigla em inglês), o almirante Mohab
Memeesh, garante que o país terminará as obras de escavação e drenagem do novo
canal neste mês, precisamente no dia 15. Com isso, será possível inaugurar a
nova ligação marítima no dia previsto.
Havia um certo ceticismo em
relação à data de entrega, pois, a princípio, a obra levaria 36 meses para ser
concluída. No entanto, o presidente Al-Sisi ordenou que ela fosse realizada em
12 meses por 17 empresas egípcias, sob a supervisão direta do exército.
Em seu discurso, em agosto
passado, na cidade de Ismailia, entre o Cairo e Alexandria e às margens do
Canal de Suez, Al-Sisi pediu a ajuda da população egípcia para que comprassem
ações – as EPG 100, no valor aproximado de US$ 14 por unidade, que seriam
adquiridas pelos moradores do Egito, e as EGP 715, de US$ 100 cada, para os que
vivem no exterior. Este dinheiro serviria para pagar os custos do projeto,
avaliado em US$ 4 bilhões na primeira fase, devendo alcançar US$ 12 bilhões ao
término de sua totalidade. O apelo foi prontamente atendido e em apenas seis
dias, o governo arrecadou cerca de US$ 8 bilhões.
Agilizar
O Canal de Suez mede 193
quilômetros de extensão. Foi projetado pelo francês Ferdinand Lesseps e
inaugurado em 17 de novembro de 1869. Pelo tratado firmado com a França e,
depois, com a Inglaterra, a exploração do canal ocorreria por 99 anos. O Egito
receberia 15% do lucro líquido dos pedágios. A administração e o controle ficariam
entre os franceses e ingleses.
O presidente Gamal Abdel
Nasser, em 29 de outubro de 1956, rompeu o acordo e nacionalizou o canal. A
decisão revoltou os estrangeiros e, em pouco tempo, começou uma guerra que
matou milhares de civis. Em virtude das sangrentas batalhas, o canal ficou
fechado por diversas vezes – a última, em 1967, com a Guerra dos Seis Dias,
conflito entre Israel e a frente árabe formada por Egito, Jordânia e Síria. A
passagem só foi reaberta para todas as nações em l975.
O Canal de Suez é o maior do
mundo e, com a nova obra, será reduzido consideravelmente o tempo de espera dos navios para acessá-lo.
De acordo com o almirante Mohab Mameesh, presidente da Autoridade do Canal, a
segunda via “é muito mais do que uma nova hidrovia. Trata-se de um
impressionante feito de engenharia”.
Atualmente, a passagem de um
navio pelo canal leva 18 horas, a uma velocidade de 14 km/h. Ela cairá para 11
horas. E o tempo de espera das embarcações passará das atuais 11 para três
horas.
Desde o início da construção
do canal, já foram escavadas mais de 210 milhões de toneladas de areia.
O Canal de Suez está no
centro da economia do Egito há mais de 150 anos. Sua ampliação tem como
objetivo principal permitir a circulação nos dois sentidos e dobrar a atual
capacidade diária de transporte, aumentando a receita anual de US$ 5,3 bilhões,
neste ano, para US$ 13,2 bilhões até 2023. Neste contexto, acreditam as
autoridades, ficará evidente a importância do canal como uma das principais
rotas de comércio marítimo do mundo.
Dentro deste quadro, o novo
canal é o embrião de um megaprojeto que se completa com a construção de uma
área industrial ao longo da hidrovia, conhecida como Zona do Canal de Suez.
Segundo as autoridades egípcias, a região será expandida com a vinda de
empresas de produção e logística e ainda estaleiros de reparos. O
empreendimento deverá atender 1,6 bilhão de clientes em todo o mundo e
garantirá ao Egito oportunidades, investimentos e a geração de empregos para os
próximos anos.
Para o almirante Mameesh, “o
novo canal é um símbolo do novo Egito. É um dos projetos mais importantes
realizados na história moderna do País”.
Para promover este fato
histórico, o governo federal contratou um consórcio – que inclui a WPP, uma das
maiores empresas globais de comunicação e marketing, e uma série de empresas
locais do Egito – para a realização de uma abrangente campanha, com o objetivo
de envolver o povo egípcio e contar a história do canal e o impacto da obra na
região e no mundo. Luigi Bongiovanni – Brasil
in “A Tribuna”
Sem comentários:
Enviar um comentário