Por
que razão umas espécies de pinheiro resistem à doença provocada pelo nemátode
da madeira do pinheiro (NMP), uma grave ameaça para as florestas de Portugal e
do resto do mundo, e outras não? Esta questão foi o ponto de partida para um
estudo internacional liderado por investigadores da Universidade de Coimbra
(UC), e que acaba de obter 240 mil euros de financiamento da Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (FCT).
O
projeto PineWALL, que conta com a participação de investigadores da
Universidade do Porto (UP), Centro de Investigação Florestal de Lourizán
(Espanha), Universidade de Gales (Reino Unido) e Universidade da Geórgia
(Estados Unidos da América), apresenta uma abordagem inovadora e
multidisciplinar, focada na parede celular do hospedeiro do nemátode (árvore) e
não apenas no agente que provoca a doença da murchidão do pinheiro. Além disso,
o estudo pretende entender em que medida a suscetibilidade ao nemátode da
madeira do pinheiro é agravada pelas alterações climáticas.
Tipicamente,
os vários estudos sobre este problema centram-se no inseto vetor e no nemátode.
O projeto PineWALL «foca-se, pela primeira vez, na relevância da composição e
estrutura da parede celular de pinheiros de diferentes espécies para a
resistência ao nemátode da madeira do pinheiro num cenário de alterações
climáticas. Para tal, partimos de estudos prévios realizados por nós, que têm
melhorado o conhecimento acerca dos mecanismos de patogenicidade do NMP e das
relações biológicas estabelecidas com a árvore hospedeira», explica Ricardo
Costa, coordenador do projeto.
A
parede celular vegetal, explica o investigador da Unidade de I & D
“Química-Física Molecular” e do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), é uma estrutura
altamente complexa e dinâmica, «e o seu estudo é fundamental para desvendar
causas de resistência/suscetibilidade variável ao NMP entre diferentes espécies
e variedades de pinheiro. A parede celular é o que dá forma às células e é a
base para muitas funções vitais das plantas, tais como fornecer suporte e
resistência, nomeadamente através da formação de barreiras defensivas contra
agentes patogénicos, desidratação e outros fatores ambientais».
Para
descobrir porque é que a doença se desenvolve nuns pinheiros e noutros não, a
equipa vai estudar três espécies de pinheiro -
pinheiro-bravo (Pinus pinaster), que é a espécie mais afetada
pela doença e economicamente mais importante, e o pinheiro-manso (Pinus
pinea) e o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), duas espécies menos
suscetíveis, ou até tolerantes ao ataque do NMP.
«O
que nós vamos fazer é estudar do ponto de vista bioquímico, comparar a
composição e ultraestrutura molecular entre espécies tolerantes e não
tolerantes. Vamos efetuar uma caracterização celular exaustiva das três
espécies para tentar descobrir se existe alguma propriedade que impeça a
propagação da doença nas espécies que não são suscetíveis, ou que promova a sua
propagação em espécies suscetíveis», esclarece Ricardo Costa.
Para
realizar esta caracterização geral e aprofundada da parede celular de árvores
das três espécies de pinheiro, inoculadas e não inoculadas com o NMP, vão ser
usados vários métodos de espectroscopia vibracional e de química analítica,
métodos que são usados, por exemplo, para diagnóstico de cancro, uma vez que
permitem fazer um screening de um muito elevado número de amostras num
curto espaço de tempo, por forma a encontrar biomarcadores que possam estar
associados à resistência ou à suscetibilidade das árvores ao verme.
Depois,
com base na informação química adquirida no estudo da parede celular do
hospedeiro e com base em modelos climáticos, a equipa vai desenvolver modelos
que permitam correlacionar fatores e
efetuar previsões que consigam dizer quais as espécies que poderão ser mais
suscetíveis à doença face às alterações climáticas, problema que tende a
agravar-se, «permitindo trabalhar no melhoramento de espécies, ou seja, criar pinheiros resistentes, contribuindo,
assim, para a definição de uma espécie que melhor se adapte a condições
climáticas e fitopatológicas em mudança», adianta Ricardo Costa.
«Este
projeto providenciará uma compreensão mais ampla desta infeção pelo NMP e dos
mecanismos de resposta do hospedeiro e será um recurso de extrema utilidade em
futuros projetos que lidem com a mitigação dos efeitos devastadores desta
doença», conclui.
A
doença da murchidão do pinheiro é um problema complexo, com impacto económico
devastador nas regiões afetadas, uma vez que, identificada a doença, a única
solução é o abate imediato das árvores e a sua destruição. Universidade de
Coimbra - Portugal
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