O
coronavírus introduziu novos desafios aos comerciantes lusos e aos
venezuelanos, que já habituados à falta de água, luz, gás e gasolina, agora
passam mais tempo em família, têm mais cuidados com a higienes e compram em
maior quantidade.
“Estamos
tratando de sobreviver. Não sabemos quando isto terminará. Tratando de
manter-nos seguros. Mudou tudo, porque o nosso estilo de vida mudou desde há um
mês”, explicou à Agência Lusa António da Silva, 58 anos.
Natural
do Estreito de Câmara de Lobos, Madeira, António da Silva está radicado em
Caracas, na Venezuela, desde há 42 anos, onde é sócio do Supermercado Maturín.
“Trabalhamos
quando se pode, abrimos quando se pode e as pessoas também estão comprando o
que podem”, disse, admitindo que muitas coisas subiram de preço.
“Sabemos
como é a inflação na Venezuela. Hoje está a um preço e amanhã a outro”, disse
salientando que, com o confinamento, as pessoas compram mais “farinhas, massas,
óleo, tudo o que são produtos do cabaz básico”, mas também “álcool e vinagre
para ajudar” a previr o coronavírus, responsável pela pandemia covid-19.
Chegar
diariamente ao supermercado “não é fácil” porque a circulação está
condicionada.
“Temos
o problema de que não há gasolina, de que não podemos sair à hora que queremos
e temos que regressar mais cedo. Estamos abertos até às quatro horas da tarde,
porque a partir das cinco já não podemos estar a circular”, disse.
António
vê diariamente as notícias e sabe que “a pandemia não afeta apenas Portugal,
nem a Venezuela, mas todos os países do mundo” e tem causado muita incerteza
nos comerciantes, admitindo que poderão passar dois ou três meses até a
situação melhorar.
“Que
todos fiquem em casa, que usem máscaras. Eu só saio porque tenho de abrir o meu
negócio, que é de comida”, frisou.
Por
outro lado, Jaime Graterol, comerciante e cliente do supermercado considera que
pessoas devem adaptar-se.
“Não
é que eu queira que mude ou não. Tudo mudou, inclusive os preços, e isso é
normal, porque não há gasolina.”, frisou.
No
supermercado comprou “atum e sardinhas enlatadas, sumos, o essencial” e diz que
o seu estabelecimento está “abastecido, tem frutos, de tudo, o que é preciso
ter é dinheiro para poder pagar”.
“Que
todos se cuidem. Que fiquem em casa. Que se protejam. Que lavem as mãos, que
troquem de roupa ao chegar. Cuidemo-nos uns aos outros”, pediu.
A
covid-19, mudou também a vida de Cláudia Kisene, terapeuta de linguagem, que
ficou sem pacientes e sem trabalho.
“Eu
ensino os meninos a falar melhor. Tenho que tocá-los, que fazer exercício e não
posso fazer isso pela Internet. A primeira mudança foi laboral. O segundo, a
dinâmica familiar, estar com os filhos em casa e planear rotinas para que lhes
seja mais fácil não estarem no colégio. E o terceiro, é que apenas faço compras
uma vez por semana. Para proteger-nos e sair o menos possível, três ou quatro
coisas de cada produto”, disse.
O
abastecimento de víveres, está na mesma. O que há menos “são os frutos e as
verduras porque vêm do interior (do país) e às vezes o acesso à cidade
(Caracas) está bloqueado ou não há gasolina”.
Cláudia
gosta de comprar naquele supermercado de portugueses porque consegue o que mais
procura e porque “tem mantido os preços”, que “noutros sítios subiram
muitíssimo”.
Vários
comerciantes estão a usar o Instagram para oferecer combinações de produtos a
preços acessíveis e que podem ser comprados sem sair de casa.
“O
‘delivery’ vai provocar uma competição de preços e as pessoas vão gastar
onde o seu dinheiro vale mais”, frisou.
Ao
concluir recomendou às pessoas que mantenham a calma, que tenham muita fé
porque “Deus nos está permitindo reencontrar-nos connosco mesmos, com a
família. Também que nos aproximemos mais de Deus”, disse.
Na
Venezuela, as autoridades oficiais indicaram a existência de 165 infetados no
país, com o registo de sete vítimas mortais, mas os dados têm sido contestados
por analistas, que questionam os números indicados por Caracas. In “Bom dia
Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
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