Há milhares de portugueses em Angola e muitos deles a
querer regressar ao seu país desde que, a 21 de Março, surgiram os primeiros
casos de Covid-19 em território nacional, e, a 27, o Presidente João Lourenço
decretou o estado de emergência, fechando fronteiras. Desde então, algumas
agências de viagem anunciaram voos charter, aproveitando a autorização de voos
especiais para cidadãos estrangeiros que desejam regressar aos seus países de
origem. Uma delas foi a Alive, que viu aqui uma oportunidade para aligeirar as
despesas de uma empresa que, em Angola, tem mais de 30 funcionários parados, à
espera que a vida volte ao normal
A
Alive tem dois voos agendados para este mês. Um deles, que estava marcado para
esta quinta-feira, 9, a tempo de portugueses irem passar a Páscoa a Portugal,
foi adiado para o dia 13. Um outro, inicialmente previsto para dia 17, foi
antecipado também para 13 porque, segundo o director-geral, Orlando Pinto, já
há mais oferta do que procura.
"Isso
faz com que as agências corram o risco de não atingir o breakeven, ou
seja, o ponto de equilíbrio, entre as receitas e as despesas totais", afirma.
Nos últimos dias, foram agendados um total de seis voos charter para fazer a
ligação entre Angola e Portugal, cinco dos quais entre Luanda e Lisboa e um com
destino ao Porto.
Dois
deles já saíram cheios de passageiros, os outros quatro estavam marcados para
9, 14, 16 e 17 de Abril. Duas dessas datas caíram e os passageiros juntam-se
agora num único voo, a 13 de Abril. Esta quarta-feira, a esses voos
acrescentaram-se dois outros para os dias 14 (operado pela Across), entre
Luanda e Lisboa, e 16 de Abril (operado pela Travelgest), entre Luanda e Porto.
Cada
avião fretado pela Alive transporta 260 passageiros a 1190 euros o bilhete,
"mas o avião viaja de Lisboa para Luanda vazio, o que, para a empresa,
representa custos de operação elevadíssimos", diz Orlando Pinto. E a
situação no país e no mundo não permite à empresa ir buscar sustento a nenhuma
outra actividade: "As agências de viagens, sobretudo em Angola, onde o
turismo ainda não tem um peso significativo, vivem de vender passagens
aéreas", lembra Orlando Pinto.
"Esta
foi a forma que encontrámos para suprir um pouco a ausência de receitas, e que
está muito longe de cobrir os custos da empresa". Mas a decisão não teve
apenas a ver com dinheiro: "Foi também uma forma de encontrar soluções
para os nossos clientes", afirma o director-geral da Alive em Angola.
"Aliás,
chegámos a comprar passagens em voos operados por outras companhias para
satisfazer as necessidades dos nossos clientes corporate, que precisavam
de repatriar os seus trabalhadores".
Os
motivos para viajar apresentados pelos portugueses, segundo Orlando Pinto, não
se resumem à insegurança gerada pela precariedade nos sistemas de saúde que a
pandemia de Covid-19 acentuou e que, segundo as projecções da Organização
Mundial de Saúde (OMS), pode atingir os 10 mil casos em Junho: "Há pessoas
que sofrem de doenças, como a diabetes, que dependem de uma medicação específica
e que regressam porque está a acabar e não têm como fazer chegar a Angola os
medicamentos, por exemplo".
Orlando
Pinto afirma que o Governo tem mostrado disponibilidade para ouvir a Associação
das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Angola, mas acha que
"lamentavelmente, a boa vontade não vai chegar" para resolver o
problema de empresas que, como a sua, não querem avançar para despedimentos.
Para
aliviar os custos, a Alive tem trazido carga de Portugal: a bordo dos aviões
que chegam a Luanda para resgatar portugueses, vêm medicamentos e alguns
frescos, como iogurtes. Sandra Bernardo – Angola in “Novo
Jornal”
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