Arqueólogos
da Fundação Côa Parque, em Foz Côa, colocaram a descoberto a maior gravura ao
ar livre, representativa de um auroque (boi selvagem), gravada numa rocha no
sítio do Fariseu, datada do Paleolítico Superior.
“Encontrámos,
durante as escavações, a figura de um auroque com a dimensão de 3,5 metros, que
é neste momento a maior [gravura] do mundo, dentro do seu género, encontrada ao
ar livre, datada do período do Paleolítico Superior, com cerca de 23 mil anos”,
explicou hoje à Lusa o arqueólogo da Fundação Côa Parque, Thierry Aubry.
Os
arqueólogos envolvidos nestas escavações, no Parque Arqueológico do Vale do Côa
(PAVC), perceberam que o painel tinha mais de seis metros de comprimento,
quando escavavam os sedimentos.
“Verificou-se
que o traço que se observava à superfície fazia parte da garupa de um grande
auroque, com mais de 3,5 metros de comprimento. Trata-se da maior figura da
arte do Vale do Côa e do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de
Lascaux”, em França, indicou o também responsável técnico-científico do Museu
do Côa (MC) e do PAVC.
No
interior desta rocha, os arqueólogos identificaram outros animais gravados por
picotagem e abrasão: uma fêmea de veado, uma cabra e uma fêmea de auroque,
seguida pelo seu vitelo.
“No
setor direito do painel identificou-se um outro conjunto de gravuras, contendo
várias representações de auroques, veados e cavalos, todos sobrepostos, que se
encontram ainda parcialmente sob sedimentos. As figuras parecem fazer parte da
fase mais antiga da arte do Côa, datada de há mais de 23 000 anos”, vincou
Thierry Aubry.
A
rocha 09 do Fariseu representa um dos principais núcleos de arte rupestre do
Vale do Côa, classificados como Monumento Nacional e inscritos na Lista do
Património Mundial da organização das nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO).
“Além
da importância do achado em si, o facto de o painel ter sido encontrado sob
camadas arqueológicas permite atribuir-lhe uma data mínima. Esta é a única
forma de datar objetivamente a arte do Côa, uma vez que é impossível de datar
diretamente por Carbono 14”, explicou o arqueólogo à Lusa.
Os
trabalhos arqueológicos foram entretanto suspensos no âmbito do plano de
contingência da covid-19.
“A
continuação dos trabalhos e as datações físico-químicas a realizar permitirão
datar de forma científica estas camadas que cobrem as gravuras, mas a sua
comparação com o registo da rocha 01 permite dizer que as mais antigas [serão]
das primeiras fases do Paleolítico Superior”, avançou Thierry Aubry.
A
escavação surgiu no contexto do estudo do contexto arqueológico da arte
paleolítica do Vale do Côa, que se vem desenvolvendo há 25 anos.
Os
trabalhos arqueológicos serão retomados assim que as atuais medidas de
contenção da pandemia do novo coronavírus o permitam.
Por
seu lado, o presidente do concelho diretivo da Fundação Côa Parque, Bruno
Navarro, disse que o PAVC é “um laboratório incrível da arte rupestre no mundo
inteiro, que mudou o paradigma do entendimento que é feito hoje sobre a arte
rupestre”.
O
PAVC detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em
mais de 80 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas,
executadas há cerca de 30 000 anos, cada vez mais expostas a adversidades
climatéricas e geológicas.
O
Parque Arqueológico do Vale do Côa foi criado em agosto de 1996. A arte do Côa
foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património da
Humanidade pela UNESCO. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo com “Lusa”
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