Os
investigadores Francisco Curate, do Centro de Investigação em Antropologia e
Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC), e João d’Oliveira Coelho, da Universidade de Oxford, desenvolveram um
programa informático que vai facilitar o trabalho de antropólogos e arqueólogos
no processo de identificação e caracterização do sexo de esqueletos humanos,
quer em contexto forense quer em contexto arqueológico.
O
designado “CADOES: Classificação Automatizada de Dados Osteométricos para
Estimar o Sexo” resulta de uma investigação, cujos resultados foram publicados
na revista “Forensic Science International”, que partiu dos dados de um
trabalho realizado em 1938 pelo cientista José Antunes Serra - uma descrição
antropológica clássica do complexo pélvico de uma amostra de restos esqueléticos
portugueses do final do século XIX ao início do século XX, que incluiu 256
indivíduos (131 mulheres e 125 homens) da Coleção de Esqueletos Identificados
da Universidade de Coimbra.
Com
base nesses dados, refere Francisco Curate, «desenvolvemos diferentes
algoritmos de classificação que geram modelos osteométricos de elevada
precisão, sendo possível analisar 38 variáveis do complexo ósseo pélvico
(altura da bacia, ângulo púbico, ângulo sacro-pélvico, conjugata obstétrica,
etc.), ou seja, com os dados em bruto fornecidos no trabalho descritivo de
1938, criámos novas abordagens para a estimativa de sexo com base em
características morfométricas do complexo ósseo pélvico».
Os
investigadores centraram-se na região pélvica pelo facto de esta ser a região
do corpo humano que apresenta maior grau de dimorfismo sexual e por assumir
grande importância na identificação do sexo, que por sua vez é um passo
fundamental para estabelecer o perfil biológico de esqueletos humanos, como,
por exemplo, saber a idade que o indivíduo tinha à data da morte ou a sua
estatura.
A
principal mais-valia do CADOES, disponível gratuitamente no sítio
responsivo “osteomics.com”, onde é possível aceder a outros sistemas
desenvolvidos por investigadores do Laboratório de Antropologia Forense da
FCTUC, «é a flexibilidade, permitindo efetuar um conjunto alargado de análises
de forma rápida. É um sistema user friendly (amigo do utilizador) que pode ser
usado por qualquer investigador em qualquer parte do mundo», salienta Francisco
Curate.
«É
uma ferramenta credível, que simplifica processos e minimiza o grau de erro.
Disponibiliza ainda ilustrações que indicam a forma mais adequada de efetuar as
medidas dos ossos e caminhos para explorar os dados fornecidos», acrescenta.
Este
programa permite também trabalhar com pequenos fragmentos de ossos, o que
representa um avanço na identificação de esqueletos, dado que, «infelizmente, a
pélvis é uma região que se preserva menos bem, que se fragmenta muito»,
esclarece o também investigador do Laboratório de Antropologia Forense da
FCTUC.
Além
de facilitar o trabalho da comunidade científica da área, este novo programa
informático tem um grande potencial como recurso pedagógico, «podendo ser
utilizado em sala de aula para explorar a anatomia da região pélvica, por
exemplo em escolas secundárias», finaliza Francisco Curate.
O
artigo publicado na revista Forensic
Science International está disponível: aqui. Universidade de Coimbra “Faculdade de
Ciências e Tecnologia” - Portugal
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