Cerca de meia centena de encarregados
de educação de alunos que frequentam a Escola Portuguesa de Luanda
manifestou-se diante da embaixada de Portugal na capital angolana para exigir
maior transparência nas contas da instituição
Em
causa está o que os manifestantes consideram ser um “aumento ilegal” das
propinas mensais, decidida a 24 de junho passado, pois alegam que a decisão não
foi deliberada em Assembleia Geral dos pais dos alunos do estabelecimento, que
afirmam estar a ser gerida como se fosse uma entidade privada, quando é uma
cooperativa pública e sem fins lucrativos.
A
Escola Portuguesa é tutelada pelo Ministério da Educação português.
Décio
Fernandes, contabilista e um dos porta-vozes dos encarregados de educação, com
duas filhas na Escola Portuguesa, acusou o presidente da direção, Horácio Pina,
de fazer uma “gestão danosa” do estabelecimento, que aumentou, “de forma
ilegal”, o valor das propinas em cerca de 25 por cento.
Segundo
Décio Fernandes relatou à agência Lusa, a 24 do mês passado, os pais dos 2010
alunos da Escola Portuguesa receberam um comunicado da direção a indicar que as
propinas mensais passam a custar 196 000 kwanzas (503 euros, ao câmbio de hoje)
por criança, quando no ano letivo anterior era de 155 200 kwanzas (398 euros),
pagos em 10 meses.
Ruidosos,
em frente à embaixada de Portugal em Luanda, os cerca de 50 manifestantes
exigiram transparência na gestão das contas, acusando a direção de Horácio Pina
de não lhes dar acesso aos relatórios de contas aprovados e afirmaram que a
massa salarial dos 240 funcionários (entre eles 134 docentes
profissionalizados) está inflacionada.
Segundo
Décio Fernandes, a direção da Escola Portuguesa diz que gasta 89 por cento do
orçamento na massa salarial, enquanto nas “contas reais”, quando, “no orçamento
verdadeiro”, está inscrita a percentagem de 63 por cento.
Questionado
pela Lusa, o diretor da Escola Portuguesa rejeitou as acusações, salientando
que todos os aumentos não são aprovados pelo estabelecimento de ensino, mas sim
pela tutela, o Ministério da Educação português, e que as contas podem ser
consultadas na página do estabelecimento de ensino na Internet.
Horácio
Pina disse à Lusa que o aumento mensal das propinas é feito com base nas
informações que a Escola Portuguesa de Luanda envia ao Ministério da Educação
em Portugal, salientando, porém, que as contas são aprovadas numa Assembleia
Geral em que os encarregados de educação que estão agora a protestar “não
participam”.
O
diretor da Escola Portuguesa de Luanda salientou também que os autores da
contestação, “normal todos os anos”, estão “bem identificados” e pertencem, “na
sua grande maioria”, à lista que perdeu as eleições para a direção do
estabelecimento de ensino, realizadas em maio de 2017 e cuja nova direção
entrou em funções a 01 de janeiro de 2018.
Horácio
Pina lembrou que a depreciação da moeda angolana, que valia 185,4 kwanzas/euro
em janeiro de 2018, já ultrapassou os 50 por cento, situando-se atualmente em
torno dos 390 kwanzas/euro, razão pela qual tem de haver “ajustes”, uma vez que
os docentes são pagos numa parte em moeda europeia e noutra parte pela
angolana.
Sobre
as acusações de um alegado sobredimensionamento das verbas inscritas para o
pagamento de salários aos funcionários, Horácio Pina rejeitou-as também,
referindo que tem sempre de se contar com diferentes variáveis, desde a
substituição de docentes ao pagamento de professores de substituição e complementos
extra de ordenados, entre outras despesas.
Segundo
o diretor da Escola Portuguesa de Luanda, o défice financeiro no fim do ano
letivo 2018/19 atingiu os 70 milhões de kwanzas (cerca de 180 mil euros), “algo
que irá ser absorvido com as novas inscrições”, em que 42 milhões são de
pagamentos em atraso “dos que agora estão a protestar”.
No
ano letivo que agora termina, a Escola Portuguesa de Luanda contou com 2010
alunos, 134 docentes, na grande maioria expatriados portugueses, funcionando da
pré-primária até ao 12.º ano.
As
aulas do ano letivo já terminaram (a Escola Portuguesa funciona com o
calendário português, ao contrário de Angola, onde as aulas começam em janeiro
e terminam em novembro), tendo, desde 01 deste mês, data de abertura das novas
matrículas, já estão inscritos mais de 1700 alunos, independentemente das
transferências de escola, alunos que terminaram o 12.º e último ano escolar,
acrescentou Horário Pina, indicando que estão 800 alunos em lista de espera
para o próximo ano.
O
diretor da Escola Portuguesa admitiu, por outro lado, que a direção, face aos
constrangimentos financeiros, não tem estado a conseguir renovar a maior parte
do equipamento escolar, sobretudo novos computadores e carteiras escolares,
rejeitando, no entanto, as críticas à insegurança dentro e fora da escola.
A
Escola Portuguesa de Luanda começou a funcionar em 1986, ocupando então vários
edifícios junto ao Ministério das Relações Exteriores, nas imediações da
Marginal de Luanda.
O
processo para a construção da nova escola foi lançado em meados da década de 1990,
tendo o projeto sido aprovado pelo Governo Provincial de Luanda em meados de
1999, mas o início das obras foi sucessivamente adiado até aos primeiros meses
de 2004. In “Angola 24 horas” - Angola
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