Uma raposa ártica fez uma jornada de
perto de 3500 quilómetros que começou no arquipélago norueguês de Svalbard e
terminou no Canadá. A viagem, feita em apenas 76 dias, impressionou os
investigadores que estavam a acompanhar o animal à distância, acreditando que
foi uma das mais longas e rápidas viagens de sempre jamais registadas
Segundo
o Instituto Norueguês de Investigação Polar, a raposa ártica percorreu perto de
3506 quilómetros, tendo partido da ilha de Spitsbergen, localizada no
arquipélago de Svalbard, pertencente à Noruega, a 28 de março de 2018.
Ao
fim de 21 dias a atravessar os bancos de gelo do oceano Ártico, a raposa chegou
à Gronelândia, 1512 quilómetros depois. A jornada foi medida através de um
dispositivo de rastreamento presente numa coleira que foi colocada neste
espécime por uma equipa de investigadores do instituto. A iniciativa, porém,
não ficou por aqui. Como escreve o “The
Guardian”, a raposa prosseguiu o seu rumo para oeste, atravessando este
território dinamarquês, chegando à ilha Ellesmere, pertencente ao Canadá, a 1
de julho, finalizando esta viagem ao fim de 76 dias.
“Não
queríamos acreditar no que vimos”, disse Eva Fuglei, uma das responsáveis por
rastrear o animal, ao medir os dados. A equipa chegou a considerar que a razão
para tão longas distâncias em tão curto espaço de tempo seria porque a raposa
tinha morrido e o seu dispositivo tinha sido levado para um barco. Contudo,
segundo Fuglei, “não há barcos que vão tão a norte por entre o gelo”, pelo que
concluíram que esta continuava viva. Neste momento, não se sabe do paradeiro do
animal, pois a coleira deixou de transmitir informação em fevereiro deste ano.
Os
resultados desta observação foram publicados no jornal académico Polar Research
e o instituto acredita que, não só esta é uma das mais longas viagens jamais
registadas, como das mais rápidas também.
O
dispositivo de rastreamento foi transmitindo informação durante três horas por
dia, demonstrando que a raposa se deslocou a uma média de 46,3 quilómetros por
dia, sendo que o máximo percorrido em 24 horas foi quando fez 155 quilómetros
ao atravessar uma camada de gelo no norte da Gronelândia. Será também
necessário ter em conta que esta viagem se fez com paragens, entre 7 e 8 e
entre 10 e 11 de abril, presumindo-se que a razão que possa ter sido para caçar
ou para resguardar-se de tempestades.
Com
base nestes dados, Fuglei defende que “este é, segundo se sabe, o mais rápido
rácio de movimento jamais registado para esta espécie”, tendo sido também a
primeira vez que se captou em tal detalhe o fluxo migracional de um destes
animais, passando por diferentes continentes.
Nem
os ursos polares, afamados pelas suas longas jornadas, fazem viagens assim tão
compridas. A capacidade que as raposas têm para percorrer estas distâncias
deve-se ao seu condicionamento para aguentar temperaturas até -50ºC e à sua
versatilidade enquanto predadores, algo que também ficou demonstrado neste
percurso. Este espécime terá sobrevivido à base de uma alimentação
predominantemente marítima durante a viagem — comendo pescado e aves marítimas
—, mas quando chegou à ilha Ellesmere, passou a comer lemingues.
Para
conseguir atravessar estas distâncias com tamanha velocidade, os investigadores
acreditam que os bancos de gelo tenham desempenhado um papel importante.
Segundo Fuglei, é assim que as raposas “migram entre áreas, para conhecer
outras populações e encontrar comida”.
Contudo,
por essa mesma razão, as alterações climáticas são um motivo de grande
preocupação, já que o degelo das massas polares poderá impedir as migrações das
raposas. O aquecimento global já provocou estragos, pois antes as viagens
destes animais passavam junto à Islândia, mas a ausência de gelo já não o
permite, deixando as comunidades desta ilha isoladas. Agora teme-se que o mesmo
possa acontecer aos espécimes de Svalbard. In “Sapo24” - Portugal
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