SÃO PAULO – Dados levantados pela
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostram que as exportações de
produtos manufaturados vêm caindo mês a mês, o que deixa claro que é preciso
que haja de imediato uma reação por parte do governo e do empresariado para que
essa tendência seja revertida e o parque fabril
não entre numa crise irreversível. Obviamente, a assinatura do acordo de
livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) trouxe boas
perspectivas, mas não se pode deixar de levar em conta que a sua efetiva
aplicação depende da aprovação do parlamento de cada nação envolvida, o que vai
demandar pelo menos de dois a três anos para que o comércio com taxas de
importação reduzidas entre em vigor.
Segundo o Ministério da Economia, no
primeiro trimestre de 2019, as exportações chegaram a US$ 19,4 bilhões, o que
representou 9,86% a menos em relação ao mesmo período de 2018. Como lembrou o
presidente da AEB, José Augusto de Castro, o Brasil vem perdendo espaço para si
mesmo, por causa da falta de reformas, da burocracia e de investimentos em
infraestrutura, o que tem deixado o produto nacional sem condições de competitividade
até mesmo em mercados tradicionais como a Argentina e os EUA.
Outro dado apontado pela AEB mostra
que, segundo levantamento do Observatório de Complexidade Econômica do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (OEC/MIT, na sigla em inglês), em
2000, 60,2% da pauta de exportações do Brasil para a maior economia do mundo
eram compostos por máquinas, equipamentos e meios de transporte, mas que, em
2017, esse percentual caiu para 23,9%. Sintomaticamente, esse movimento coincidiu
com a ascensão da China como grande fornecedor dos norte-americanos. Pois bem,
em 2000, 7,5% das importações norte-americanas tiveram origem no país asiático.
Já em 2017 esse percentual saltou para 22%.
No mesmo período, segundo a AEB, a
participação brasileira nas importações norte-americanas permaneceu estável em 1,2%.
Na Argentina, porém, o mercado para as máquinas brasileiras vem diminuindo ao
longo do tempo. Em 2010, por exemplo, as vendas para a Argentina eram
responsáveis por 19% da pauta de exportações. Em 2017, no entanto, esse
percentual caiu para 13%, devido à entrada maciça de produtos chineses.
Segundo o levantamento do OEC/MIT, em
2000, eles eram responsáveis por 4,6% das importações argentinas, índice que, em
2017, subiu para 19%, enquanto, no mesmo período, a participação brasileira evoluiu
apenas de 25% para 27%. Mas não foi só na Argentina: na verdade, a China vem
ocupando não só o espaço dos produtos industrializados brasileiros em outros
mercados como o de outros países. Basta ver que, entre 2008 e 2017, o país
asiático tirou a liderança da UE no mercado internacional, segundo dados do
Banco Mundial. Em 2008, a China tinha 11,1% do mercado, passando para 16% em
2017.
Seja como for, não se pode culpar a
China por ocupar esse espaço, que vem sendo preenchido também por outros países
asiáticos e pela Índia. Se o Brasil hoje enfrenta essa pouca procura por seus
produtos industrializados culpa cabe aos seus governantes que não entenderam
como importante era a inserção do País nas correntes de comércio.
Basta lembrar que o México tem
tratados de livre-comércio com os EUA e Canadá (Nafta 2.0) e com a UE, além de outros
onze com várias nações, enquanto a Índia tem nove tratados. Já o Chile assinou
em 2002 acordo de livre-comércio com a UE e, em 2004, com os EUA e tem tratados
com Panamá, China, Canadá, México, Coreia do Sul, América Central, Austrália,
Peru e Turquia.
Mas só recentemente o Brasil, o principal
parceiro do Chile na América Latina, assinou tratado de livre-comércio com o
país andino, acordo que ainda carece de regulamentação. Em outras palavras:
tudo isso explica a razão pela qual os produtos industrializados brasileiros
vêm perdendo espaço no mundo. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da
Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional das Empresas Transitárias, Agentes de Cargas,
Comissárias de Despachos e Operadores Intermodais (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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